Confesso que fica cada vez mais difícil escrever sobre o submundo político evangélico. Além de muitas análises capengas que leio, feitas por gente bem-intencionada, mas que desconhece o pensamento e a essência do 'ser evangélico' no Brasil (que gera muita pesquisa acadêmica com resultados bem distantes da realidade), o circo de horrores não para. A cada momento um novo tema, uma nova onda, uma novidade acontece e tudo isso com um único objetivo, para que tudo continue a mesma coisa: a busca pelo poder em nome de Deus.
Dias depois que pesquisas a serem confirmadas pelo resultado do Censo 2022 sugerem que os evangélicos saltaram de 9 para 30% do eleitorado brasileiro, Damares desponta numa pesquisa como possível candidata ao poder máximo do Brasil em 2026 (já que o falso Messias miliciano está inelegível e provavelmente estará preso até lá pela enxurrada de crimes cometidos).
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Enquanto isso Michelle Bolsonaro também parece apostar em sua carreira política. 30% do eleitorado é muita coisa! O suficiente para levar alguém ao segundo turno e indica um 2024 complexo na corrida pelas prefeituras. O projeto de transformar o Brasil num 'Evangequistão' está a pleno vapor.
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Não há para onde fugir, infelizmente. Ou o Governo toma desde já as rédeas e traz á tona os temas sensíveis para debate ou seremos, nós da esquerda, sempre reféns das pautas moralistas e comportamentais destes evangélicos em tempos de eleição. Não se enganem, Lula ganhou porque é Lula e não por conta de uma “destreza política da esquerda”.
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Estamos vendo o preço dos acordos serem cobrados. Ou era isso ou seriam mais quatro anos sob o domínio de um fascista onde, aí sim, a parte da igreja evangélica corrompida pelo poder reinaria soberana em nosso país. Adeus cultura, adeus Direitos Humanos, adeus Liberdade e Democracia. Mas é aí que está... vencemos. Por pouco, mas vencemos. E isso TEM QUE fazer diferença.
A sanha ignorante dessa gente é tanta que os seus canhões se voltam agora para um dos maiores símbolos do capitalismo: a boneca Barbie. Isso por conta de um filme que traz, segundo sites de “defesa da pureza cristã”, e prestem bem atenção nesses itens, “apelação progressista, assuntos como feminismo, crise de identidade e autoaceitação”.
Não! Você não leu errado! “Autoaceitação” agora é uma prerrogativa “da esquerda”. “Crise de identidade” é algo novo, que nunca houve na história da humanidade (principalmente adolescência) e também é um domínio da “maligna esquerda”. Tudo isso, e mais o modo lúdico de se tratar temas “pesados” são “coisas não compatíveis com a fé cristã” para os eleitores de Bolsonaro, este sim, modelo de um governo pautado pelos ideais da “verdadeira família cristã”: desigualdade, violência, genocídio e morte.
Se não há para onde fugir, no sentido de que essa realidade está posta e será ainda a pauta de muitas eleições à frente, isso não quer dizer que não tem jeito, ou que é uma causa perdida. Há muita disputa dentro do campo cristão brasileiro (não só evangélicos, mas católicos e espíritas estão nesse meio... tudo junto e misturado).
É importante admitir a dificuldade do diálogo e entender que a abordagem tem que ser feita por dentro e não “por fora”. Nesse sentido, não surtirá efeito nenhum “ministério” do Lula “voltado para evangélicos”. Da mesma forma que a mídia alternativa deve ser valorizada para o enfrentamento das mídias do horror, os cristãos progressistas devem ser valorizados pela esquerda e apoiados pela mesma. Caso isso não aconteça, esqueçam! NÃO HÁ OUTRO JEITO! Infelizmente, não há!
E é assim, nesse ambiente insano que se transformou a 'evangelicidade' brasileira, tudo acontece em todo lugar ao mesmo tempo. Homotransfobia, machismo, racismo religioso e muito, muito dinheiro para bancar os arroubos políticos dessa gente que quer tomar o poder pelo poder, fincar uma “Bíblia” (apenas o livro, não o Espírito do livro) na “tribuna presidencial” e dominar pelo medo, pela culpa e pela ganância, que são os três pilares da existência da maior parte do cristianismo ocidental.
Quem tem ouvidos, ouça!