Minha última coluna foi sobre a descarada e canalha fala do então ainda deputado Deltan Dallagnol dizendo que “Deus fez chover pix em sua conta” para pagar as muitas multas devidas aos diversos processos que respondia, e consequentemente, perdia, por ser um mentiroso contumaz e por todas as armações que fez enquanto era procurador da República. Mas o fato em si me chama a atenção para uma coisa que constantemente percebo: a direita (e principalmente a extrema direita) investe e acredita muito mais em seus “representantes”.
Não é raro acontecer, quando alguém da direita é multado em algum processo ou perde algum investimento “de militância” que a direita se mobilize IMEDIATAMENTE e resolva o problema. Muitas vezes vimos acontecer de, em questão de minutos, essas figuras odiosas e extremistas conseguirem reverter o “prejuízo” e ainda sobrar muito, mas muito mais do que precisavam para pagarem o revés causado por suas perversidades, mentiras e falcatruas políticas.
Enquanto isso, no “lado esquerdo da força”, para conseguir algum apoio financeiro da “militância” o esforço é hercúleo, gigantesco e, na maioria das vezes, quando se consegue alguma coisa, é ali, no limite, depois de dias de apelo e luta. É assim, por exemplo, para a manutenção das mídias alternativas que enfrentam o fascismo, é assim com as lideranças populares (que não recebem dos partidos) que suam para conseguirem manter um projeto ou uma ação e é assim com os próprios atos da militância que recebem muito pouco apoio para as suas realizações. Quando não há alguma central sindical ou outra força de movimentos organizados, nossos atos são pífios, geralmente por falta de estrutura, divulgação e investimento.
Entre doar 20 reais para algum movimento, mídia ou militante que necessite desse apoio para continuar na luta, e gastar o dobro dos 20 reais num hambúrguer artesanal na Praça Roosevelt em São Paulo ou na Praça São Salvador no Rio de Janeiro, é quase certo que o “militante” irá pela segunda opção. Basta que grite uma ou duas palavras de ordem naquele lugar “de esquerda”, que xingue uns dois ou três policiais militares que ele sairá de lá satisfeito com sua atuação política.
Na minha realidade, como pastor progressista, e acompanhando a luta de outros amigos pastores vejo essa realidade sempre gritante. Se Malafaia fizer um apelo para ter 1 milhão de reais, pode ter certeza que os fundamentalistas se empenharão e em poucas horas (se não for em alguns minutos) ele conseguirá o feito. Mas a esquerda que diz que é necessário esse enfrentamento aos fundamentalismos e que “faz festa” quando descobre um pastor ou uma pastora que fazem esse enfrentamento, na hora de “chegar junto” com o apoio financeiro, muitas vezes para completar um salário mínimo, não aparece.
Sei que muitos dirão que a direita é “dona do capital” e que os “poderosos” e ricos estão do lado de lá, mas na prática sabemos que não é isso... as ajudas de lá são de muita gente “pobre de direita” que realmente acredita nas ideologias e pautas de seus candidatos e representantes. Não é uma questão de riqueza. É uma questão de acreditar e investir. As mídias independentes de esquerda que o digam. Poderíamos e deveríamos estar na disputa de mentes e corações ocupando redes e mídias, mas muitas vezes esbarramos na pouca ajuda financeira daqueles que dizem da importância dessas mídias, mas não apoiam naquilo que torna possível esse mesmo trabalho.
Enquanto criticarmos os que fazem isso “do lado de lá”, mas não coçarmos os bolsos “do lado de cá”, continuaremos nessa guerra desigual e “suando sangue” para conseguirmos fazer chegar as mensagens que precisamos a todo o Brasil. Parafraseando um texto bíblico, eu diria: “Queridos militantes, não militemos somente com palavras e discursos, mas com ações e com verdade.” Que nosso discurso vire apoio de verdade para todos que estão na linha de frente.
Que assim seja!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum