Não se enganem! O projeto de poder cristo-fascista-miliciano está em pleno vapor e com muitas chances de estender seus tentáculos terrivelmente evangélicos nas próximas eleições de 2024. As eleições para os Conselhos Tutelares demonstram a força desse campo religioso-político-ultraconservador e não param por aí: eles tomarão (se não acordarmos a tempo) as principais capitais do país. O projeto taí. Só não vê quem não quer. E a esquerda, parece, não quer.
A horda insana e fundamentalista que varre o Brasil, lotando cinemas para ver “O Som da Liberdade”, pastores que se arvoram novamente no direito de demonizar a Padroeira do Brasil (lembram do “chute na Santa”?), lideranças religiosas enfrentando e vociferando contra o STF por suas decisões acertadas em relação a descriminalização do aborto, o casamento civil homoafetivo e a legalização do porte de maconha, por exemplo. E um Congresso que trabalha para retirar direitos. Sim, há muito retrocesso pela frente! Muito!
Não há, repito, não há a MÍNIMA possibilidade de se discutir política no Brasil sem passar pela religião. É assim desde 1500. Não adiantam os arroubos pseudomarxistas de extirpar a religião do debate popular no Brasil. Eles são infrutíferos e, geralmente, terminam num senso comum terrível de que “religioso é tudo alienado” e ataques a fé e ao livro sagrado dos cristãos: a Bíblia. Ou se discute política no país, reconhecendo a força e potência desse povo que hoje é maioria nas periferias e até mesmo assentamentos e acampamentos de nossos movimentos populares, ou estamos fadados a algo pior que Bolsonaro em 2026.
É cansativo falar sobre isso. Estou gritando (e não sozinho!) há anos sobre a NECESSIDADE de se abrir um diálogo a partir dos evangélicos e católicos progressistas com essa massa cristã que fica variando conforme a força do vento entre uma esquerda que, no fundo, a rejeita e uma direita que a abraça, oferece café, comida, roupa lavada e promessas infindáveis de realizações “divinas” nesse país quebrado. Digo o mesmo de sempre: boa parte dos evangélicos brasileiros está “em disputa” de consciência. Há esperanças. Mas precisa haver vontade. E INVESTIMENTO!
É extremamente desgastante, frustrante e até mesmo humilhante o fato de a esquerda só buscar os líderes evangélicos progressistas em tempos de campanha. Falo por experiência própria. 2014 foi assim, 2018 triplicou e 2022 quintuplicaram os contatos, pedidos de socorro, de lives, de textos, de palestras, de “material para dialogar com os evangélicos”, etc... adiantou um pouco? Sim, mas muito pouco diante da proposta, que pelo menos faço desde 2015, de um trabalho de base e formação entre evangélicos no Brasil, relembrando (não nos mesmos moldes, porque os tempos são outros) as CEB’s, Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, que, inclusive, foram fundamentais para a existência e formação do PT.
Sim! Parte da esquerda brasileira deve sua existência ao diálogo sobre a fé e a política. Nos anos 70 e 80 perceberam isso. Agora, que cresceram e ascenderam ao poder, esqueceram. Vou repetir, ainda que me torne cansativo e enfadonho: Não existe possibilidade de se fazer política no Brasil sem discutir o elemento religioso. E a esquerda precisa abraçar isso de uma vez por todas. Porque a direita nunca deixou de fazer e está fazendo neste momento, enquanto eu escrevo quase implorando que a esquerda me ouça. Eventos fundamentalistas pipocam aqui e ali. Bolsonaro e Michele estarão na igreja do pai de Nikolas Ferreira, e não me espantarei se o moleque das Minas Gerais for eleito prefeito da capital mineira. Eles estão articulados! E muito bem articulados!
O projeto violento, terrivelmente evangélico e católico, absurdamente fundamentalista e visivelmente imperialista e ditatorial está se movimentando acelerada e fortemente pelos interiores e capitais do país. Ou acordamos agora (e já é tarde!) ou em breve o Evangequistão da América latina se erguerá como uma pátria armada e miliciana, matando LGBTQIAP+, prendendo e eliminando as mulheres pobres e pretas que abortarem, impondo “curas gays” em escolas e repartições públicas e trocando a nossa Constituição por uma leitura fundamentalista e castradora da Bíblia Sagrada.
Quase sem forças, lanço meu grito novamente: ACORDA, ESQUERDA BRASILEIRA!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.