Nas últimas semanas, o noticiário foi tomado por diversas pautas bolsonaristas. Algumas delas claramente inconstitucionais, como a votação do Marco Temporal do Senado e a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas por que essas pautas foram levantadas no Congresso, apesar da alta probabilidade de serem derrubadas pelo Supremo Tribunal Federal?
A resposta é tão simples quanto a cognição de um boi no pasto: diversionismo. Um presidente que usou o golden shower para mudar o foco das críticas dos foliões no carnaval, ainda nos primeiros meses de governo, conhece bem a estratégia. Ou, pelo menos, seus assessores conhecem. Quem não se lembra da ministra que via Jesus na goiabeira e mandava meninas usarem rosa e meninos usarem azul? Ou do assessor que fez o gesto da supremacia branca ao lado do presidente do Senado?
Todos esses fatos vieram a público em momentos difíceis para Bolsonaro. Foram usados não apenas para desviar o foco de assuntos específicos, mas também para inflar o gado nas mídias sociais, fornecendo as tais narrativas que alimentam os cantores de hino para pneus no terraplanismo de suas autoverdades. E é exatamente o que está acontecendo agora.
A delação do tenente-coronel Mauro Cid selou o destino do ex-presidente. A prisão é questão de tempo. Ninguém tem dúvidas de que ela coloca Bolsonaro na liderança da intentona golpista ao lado de Braga Netto, Heleno e outros generais de pijama. É um assunto inesgotável. Além disso, o escândalo das joias sauditas, vendidas por Cid e recompradas pelo indefectível Wassef, o anjo de Fabrício Queiroz, também perdeu espaço para as goiabeiras cristãs e chuvas de prata conservadoras.
Ao contrário do que os princípios básicos do jornalismo recomendariam, a imprensa deu muito espaço para pautas inconstitucionais e quase abandonou a cobertura do apocalipse bolsonarista nos últimos dias. O diversionismo vai bem, obrigado. De um bunker escuro no porão da casa de um miliciano, Carluxo abre um sorriso e cumprimenta seus pupilos do gabinete do ódio. Eles respondem com um leve toque na lapela do paletó e brindam com um copo de leite. Ainda têm a supremacia nas redes.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.