“Acho que muitos concordarão comigo que este é um exemplo claro do fracasso da política dos EUA no Médio Oriente. [Washington] tentou monopolizar a regulação [do conflito], mas infelizmente não se preocupou em encontrar compromissos aceitáveis para ambos os lados. Apresentou ideias sobre como deveria ser feito e pressionou os dois lados. Contudo, sempre sem ter em conta os interesses fundamentais do povo palestino".
A declaração foi dada por Vladimir Putin em reunião com o primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shia’ Al Sudani, no Kremlin.
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O presidente russo, numa entrevista coletiva, também criticou a decisão dos Estados Unidos de enviar uma esquadra para o mar Mediterrâneo:
"Não entendo porque os EUA vão colocar um porta-aviões no Mediterrâneo. Não compreendo realmente. Vão bombardear o Líbano ou o quê? Ou decidiram tentar assustar alguém? Tem gente lá que não tem mais medo de nada. Essa não é a maneira de resolver o problema. É preciso buscar soluções de compromisso. É claro que tais ações estão inflamando a situação. Agora ouvimos o Irã ser acusado de todo tipo de coisa, como sempre sem provas".
Nas últimas horas, Israel atacou dois aeroportos da Síria. Tel Aviv sustenta que ambos são usados pelo Irã para armar o Hezbollah e o Hamas.
A intervenção militar da Rússia preservou no poder o governo de Bashar al-Assad. Síria e Irã são considerados aliados por Moscou.
Mais que isso, o Irã foi admitido recentemente na Organização para Cooperação de Xangai, que tem um discurso abertamente contra a influência ocidental na Eurásia.
Além de China e Rússia, o organismo tem a participação de Índia, Paquistão e de cinco países que resultaram do desmembramento da União Soviética.
A menção de Putin ao porta-aviões dos EUA no Mediterrâneo refere-se à possibilidade de que Israel seja atacada pelo Hezbollah, que controla o sul do Líbano e tem fortes ligações com Teerã.
As falas cautelosas de Putin tem relação com o fato de que a Rússia está envolvida numa cruenta batalha com a OTAN pelo controle do leste da Ucrânia.
Além disso, a Rússia mantém boas relações diplomáticas com Israel e Putin, em outra declaração sobre a crise, enfatizou que Tel Aviv tem o direito de se defender de terrorismo.
O governo ucraniano de Zelensky foi um dos primeiros a manifestar apoio total a Israel no enfrentamento ao Hamas.
Considerado um dos mais importantes mentores de Putin, o ulltranacionalista Alexandr Duguin definiu russos e muçulmanos como aliados naturais, pois ambos buscam um mundo multipolar.
Em artigo, ele pregou o enfrentamento ao Anticristo ocidental:
A escalada das hostilidades entre Israel e a Palestina unifica, sem dúvida, o mundo islâmico. Os conservadores ocidentais invocam mais uma vez a defesa de uma “civilização judaico-cristã” face aos muçulmanos – a ideologia radical do Hamas dá-lhes um pretexto conveniente. No entanto, uma sociedade profundamente enraizada no ateísmo, no materialismo e na legalização de várias perversões, que há muito abandonou a teologia e os valores tradicionais, não pode ser considerada cristã nem judaica.
Duguin é aquele que prevê o estabelecimento de sete impérios distintos no futuro do planeta, em torno dos EUA, Rússia, China, Índia, Brasil, um império islâmico (sediado em Bagdá) e outro africano. Ele não menciona Israel em seu mais recente artigo, sugerindo tratar-se de um estado vassalo dos EUA.
Nas últimas horas, a mídia que propaga as ideias vindas de Moscou tem sugerido que a nova guerra no Oriente Médio é um segundo front no enfrentamento da Rússia com a OTAN.
Sergey Naryshkin, chefe da inteligência estrangeira do governo russo, disse em declarações públicas que "o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, não pode mais garantir seu domínio em escala global. Os centros do poder em ascensão não querem mais aceitar os ditados agressivos do Ocidente".
O site Russia Today publicou artigo do analista Abbas Juma que soa como um alerta contra qualquer ataque de Israel ao Líbano, especificamente ao Hezbollah:
Teoricamente, tudo o que o complexo militar-industrial iraniano tem para oferecer pode ser transferido para os combatentes do Hezbollah. Isto inclui dezenas de tipos de mísseis e drones. Além disso, Teerã ajuda o Hezbollah com centenas de milhões de dólares anualmente. Isto significa que o Hezbollah pode oferecer uma resistência séria a Israel, não só em terra, mas também no mar e no ar. Há evidências de que nos últimos anos o Hezbollah adquiriu equipamento militar naval avançado, incluindo mísseis de cruzeiro anti-navio Yakhont e C-802, bem como drones submarinos. Também possui mísseis balísticos. Especialistas dizem que o alcance dos mísseis iranianos é de 500 a 700 quilômetros, o que lhes permite atingir qualquer ponto do mapa em Israel.
Também no Russia Today, um artigo trata das consequências práticas do chamado "desengajamento" entre as economias dos Estados Unidos e da China, que é a nova palavra de ordem em Washington.
Corporações como a HP e a Black & Decker, por exemplo, reorientaram seus investimentos para produzir no México e na Tailândia, não na China.
Nos primeiros cinco meses de 2023, as exportações da China para os Estados Unidos tiveram uma queda de 24% em relação ao mesmo período de 2022.
Ao mesmo tempo, as exportações chinesas para cinco ex-repúblicas soviéticas -- Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão -- atingiram U$ 25 bilhões, um aumento de 37% em relação aos quatro primeiros meses de 2022.
É a concretização da Rota da Seda, à qual o Irã se incorporou em julho passado.
Nas últimas horas, a Rússia se ofereceu para mediar o conflito entre o Hamas e Israel.
A diplomacia chinesa, cautelosamente, também enfatizou a necessidade de negociações que atendam aos interesses históricos dos palestinos.
Benjamin Netanyahu, no entanto, disse claramente que o objetivo da ofensiva de Israel com o Hamas tem o objetivo de mudar o mapa do Oriente Médio.
Pode se ler nas declarações dele o objetivo de eliminar o chamado "arco da resistência" a Israel, que inclui o Hezbollah e o Irã.
Um enfrentamento aberto e em larga escala com o Líbano, a Síria e o Irã está no radar, uma vez que guerras muitas vezes tem consequências inicialmente indesejadas.
Existe o potencial de que o conflito do Oriente Médio escale a ponto de se tornar uma segunda frente no confronto da OTAN com a aliança russo chinesa.
O objetivo inicial, no entanto, é o de eliminar o Hamas de Gaza e entregar o controle do território à enfraquecida Autoridade Palestina.