LIMPEZA ÉTNICA

Os obstáculos para fazer "renascer" a Autoridade Palestina

Espionando seu próprio povo em defesa do colonizador

Renascer.Abbas e Lula no encontro de Nova YorkCréditos: Foto Ricardo Stuckert
Escrito en OPINIÃO el

Em Amã, na Jordânia, o secretário de Estado Anthony Blinken vai se encontrar nas próximas horas com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

O presidente Lula, em sua passagem por Nova York para a sessão de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, fez o mesmo.

Abbas governa a Cisjordânia, onde o número de colonos de Israel ilegalmente assentados chegou a 700 mil, se incluídos os de Jerusalém Oriental.

"Estes israelenses vivem ilegalmente em 279 colônias na Cisjordânia", de acordo com o Escritório do Alto Comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Embora a política econômica de Benjamin Netanyahu, o mais longevo primeiro-ministro de Israel, seja neoliberal, não é o caso quando se trata de expandir os assentamentos.

Isso só é possível graças a forte investimento do Estado, inclusive para que homens ultra-ortodoxos se dediquem exclusivamente a estudos religiosos.

Os ultra-ortodoxos representam hoje 13% da população de Israel. Eles votam em bloco e formam parte da base sem a qual Bibi não teria se mantido no poder.

Trocando em miúdos, trata-se de um projeto que, na prática, reduziu a possibilidade de uma solução de dois estados baseada nas fronteiras de 1948, como acordado pela comunidade internacional na ONU.

Tudo isso sob o que boa parte do próprio povo palestino vê como atitude complacente da Autoridade Palestina, que é sustentada por milhões de dólares de países que agora endossam o ataque incondicional de Israel a Gaza.

Gaza é governada pelo Hamas, enquanto a Autoridade Palestina, eminentemente composta pelo Fatah, governa a Cisjordânia.

O repórter Perry Anderson sustenta que na virada do milênio o aparato de segurança da Autoridade Palestina empregava 60 mil pessoas, para cumprir os acordos pelos quais ela é responsável por evitar ataques a Israel.

Ele descreveu:

Treinado e equipado pela CIA e pela Jordânia, este complexo de segurança inchado [da Autoridade Palestina], onde a tortura é rotina, absorve um terço do orçamento, custando mais do que as despesas com educação e saúde juntas. A sua mira não está voltada para os colonizadores, contra os quais não é páreo, mas para seus compatriotas.

Isso ajuda a explicar a vitória eleitoral do Hamas na faixa de Gaza em 2006, numa campanha em que aliados de Abbas foram acusados de embolsar dinheiro da ajuda humanitária.

Benjamin Netanyahu foi um dos incentivadores indiretos do Hamas, argumentando que a divisão política entre os palestinos favorecia os planos de Israel.

As tentativas de fazer "renascer" a Autoridade Palestina em Gaza, aparentemente em curso, estão voltados para fazer com que ela assuma o controle do território depois da aniquilação do Hamas.

Esbarram, no entanto, na falta de apoio dos próprios palestinos.

Abbas e seu grupo político foram incapazes de enfrentar uma realidade cruel, que explica a busca dos palestinos por soluções que parecem desesperadas para quem olha de fora.

Perry Anderson resumiu:

Em 1947, os judeus possuíam 8% das terras onde hoje é Israel. Eles agora controlam 93% – os árabes, 3,5%.

Dois dos cinco milhões de palestinos que vivem nos territórios ocupados por Israel são registrados na ONU como refugiados. Outros 2,5 milhões de palestinos são exilados apátridas. Hoje, mais de 1,5 milhão vivem em campos de refugiados.

Este último número está inchando com o passar das horas.

A saída em massa da população de Gaza em direção ao Egito, defendida por certos setores, não seria consequência apenas da crise mais recente desatada pelo Hamas.

É projeto.