Golpe, macarrão e o óbvio – Por Charles Carmo
Quando eu era criança em Brumado, fiz uma plantação de macarrão
Quando eu era criança em Brumado, fiz uma plantação de macarrão. Em minha cabeça infantil, se feijão e arroz, que eram comidas, nasciam, porque não haveria de nascer o macarrão?
Um dia, Dona Rita, minha mãe, me viu a regar a lavoura de carboidrato, sorriu e, pedagogicamente, deu-me a notícia ruim.
O macarrão foi minha primeira decepção e acho que nunca perdoei Deus por isso.
A escravidão, a desigualdade e uma aristocracia, posteriormente tutelada por militares que proclamaram a República, e, como nos ensinou Sobral Pinto, por isso sempre se julgaram donos dela, formaram um país cujas elites foram e são incapazes de incluir o povo em qualquer equação, a não ser como lombo, a carregar nas costas um país desigual.
A omissão destas elites em promover a cultura e a educação, que nem elas têm, deu no que deu.
Hoje assistimos milhares de terroristas, que tentaram um golpe de estado, inconformados e atônitos diante de suas novas condições de presidiários, em espontânea ignorância.
O que me leva a afirmar que, se este país tivesse distribuído terras na sua formação, e sobretudo investido em educação e cultura, como tantos pais e mães fizeram por conta própria, essas pessoas saberiam, desde cedo, que macarrão não nasce.
O óbvio é muito relativo.
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**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.