Quando eu era criança em Brumado, fiz uma plantação de macarrão. Em minha cabeça infantil, se feijão e arroz, que eram comidas, nasciam, porque não haveria de nascer o macarrão?
Um dia, Dona Rita, minha mãe, me viu a regar a lavoura de carboidrato, sorriu e, pedagogicamente, deu-me a notícia ruim.
O macarrão foi minha primeira decepção e acho que nunca perdoei Deus por isso.
A escravidão, a desigualdade e uma aristocracia, posteriormente tutelada por militares que proclamaram a República, e, como nos ensinou Sobral Pinto, por isso sempre se julgaram donos dela, formaram um país cujas elites foram e são incapazes de incluir o povo em qualquer equação, a não ser como lombo, a carregar nas costas um país desigual.
A omissão destas elites em promover a cultura e a educação, que nem elas têm, deu no que deu.
Hoje assistimos milhares de terroristas, que tentaram um golpe de estado, inconformados e atônitos diante de suas novas condições de presidiários, em espontânea ignorância.
O que me leva a afirmar que, se este país tivesse distribuído terras na sua formação, e sobretudo investido em educação e cultura, como tantos pais e mães fizeram por conta própria, essas pessoas saberiam, desde cedo, que macarrão não nasce.
O óbvio é muito relativo.
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**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.