ELEIÇÕES 2022

Datafolha: Dados e 4 pontos importantes da pesquisa que definirão estratégias de Lula e Bolsonaro

Faltando 16 dias para a votação, pesquisa Datafolha deve definir rumos das campanhas e táticas para debate na Globo, que acontece dois dias antes de eleitores irem às urnas.

Lula e Jair Bolsonaro.Créditos: Ricardo Stuckert / Flickr Bolsonaro
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Faltando 16 dias para as eleições, a nova pesquisa Datafolha, que será divulgada na noite desta quinta-feira (15), vai definir os rumos das campanhas de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) nessa etapa final, que acontece em meio à tensão e à expectativa do último debate na TV Globo no dia 29 de setembro.

A última sondagem, divulgada na sexta-feira (9), mostrou Lula estabilizado com 45% das intenções de votos frente à uma levíssima oscilação de Bolsonaro, que subiu um ponto e foi a 34%.

A diferença, de 11 pontos, ficou no meio do caminho entre a retratada pelo Ipec, que coloca Lula 15 pontos à frente na pesquisa divulgada na segunda-feira (12), e a Quaest, único entre os grandes institutos com estudo presencial a apontar margem abaixo dos dois dígitos - de 8 pontos.

A divergência nos resultados tem origem em uma diferença metodológica, especialmente na faixa eleitoral dos mais pobres - entenda aqui.

Sem a realização de censo no governo Bolsonaro para se estimar a proporcionalidade do eleitorado, o Ipec adota a PNAD 2018, que mostra que o Brasil tem 55% da população vivendo na faixa de renda até 2 salários mínimos e 25% na faixa entre 2 e 5 salários mínimos.

A Quaest usa a PNAD de 2021, quando havia a distribuição do Auxílio Emergencial. À época 38% se declaravam com ganho de até 2 salários e 40% diziam estar na faixa entre 2 e 5 salários.

Já o Datafolha lista 51% do eleitorado na faixa até 2 salários e 33% com ganhos entre 2 e 5 salários em uma metodologia própria com cota de idade e gênero.

Pontos importantes

Apresentado os dados e feitos as ressalvas, alguns pontos importantes devem ser destacados na pequisa DataFolha que será divulgada nesta quinta.

1) Votos dos mais pobres

A metodologia utilizada pelo Datafolha faz com que o instituto equilibre os números apresentados pelo Ipec e pela Quaest. 

No Brasil, 50% do eleitorado ganha até dois salários mínimos, 36%, de dois a cinco, 8%, de cinco a dez, e 3% recebem acima disso, segundo a estimativa utilizada pelo próprio Datafolha.

Na última sondagem do instituto, Lula seguia com mais da metade do eleitorado - 54% - da faixa mais pobre. Bolsonaro oscilou um ponto para mais e chegou a 26%.

É esse nicho, onde se concentra a maior parte dos eleitores, que garante a vitória e uma possível vitória no primeiro turno do petista.

Na classe média, que recebe entre 2 e 5 SMs, há uma situação de empate técnico no limite da margem de erro, com Bolsonaro à frente por 41% à 37%.

No estrato mais rico, com ganhos mensais entre 5 e 10 salários, Bolsonaro disparou e foi de 40% para 49%, enquanto Lula caiu de 37% para 34%.

Bolsonaro também lidera entre os ricaços - acima de 10 SMs -, segundo o Datafolha: 42% a 29%.

Ou seja, são os pobres que devem definir uma possível vitória de Lula no primeiro turno e é nesse nicho onde Bolsonaro centra boa parte das suas ações, como o aumento do Auxílio Brasil, que até o momento teve efeito reverso nas intenções de votos.

2) Voto das mulheres

Apesar das investidas de Michelle Bolsonaro no voto das mulheres, os ataques machistas e misóginos de Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores têm praticamente anulado uma grande reação no eleitorado feminino pró-Bolsonaro.

O último Datafolha mostrou uma pequena redução, de três pontos, na vantagem de Lula sobre Bolsonaro nesse eleitorado, que segue ainda muito grande: 46% a 29%. Entre os homens, a distância é de 4 pontos - 43% a 39%.

3) Católicos e evangélicos

Se as mulheres e os pobres garantem a liderança a Lula no Datafolha, o eleitorado evangélico forma a base que sustenta a possibilidade de Bolsonaro levar a disputa para o segundo turno.

No último Datafolha, Bolsonaro ampliou a margem subindo de 48% para 51% nesse recorte, enquanto Lula caiu de 32% para 28%.

A distância motivou os partidos da coligação progressista a aprofundarem ações junto ao eleitorado evangélico, que culminou com a participação de Lula em um culto no Rio de Janeiro. As ações são centradas nos evangélicos que estão fora da órbita dos pastores midiáticos - como Silas Malafaia - e foca principalmente os fiéis de baixa renda.

Por outro lado, Lula ampliou a vantagem sobre Bolsonaro entre católicos, passando de 51% para 54%, enquanto o adversário oscilou de 28% para 27%.

4) Pretos, pardos e brancos

O Datafolha usa em sua pesquisa a estimativa de que no Brasil 42% do eleitorado se declara pardo, 34%, branco, e 15%, preto.

Lula lidera nos três estratos, mas tem a margem mais elástica entre os que se declaram pretos, onde ampliou as intenções de votos de 51% para 54%, enquanto Bolsonaro oscilou um para menos, ficando em 25%, na última sondagem.

No grupo majoritário, os pardos, a margem reduziu de 14 para 8 pontos, chegando a 43% de intenções de votos em Lula e 35% em Bolsonaro. Entre brancos há um empate técnico, com Lula à frente por 40% a 38%
 
Números e estratégias

Nessa reta final da campanha, tanto Lula, quando Bolsonaro sabem que qualquer erro é fatal. No entanto, as últimas derrapadas vêm do campo bolsonarista, especialmente entre pobres - com o episódio grotesco contra dona Ilza Ramos - e mulheres - com o ataque de Douglas Garcia a Vera Magalhães.

Caso as derrapadas se reflitam na pesquisa, Lula poderá passar os 50% necessários para a vitória no primeiro turno - a exemplo do que ocorreu no Ipec.

Bolsonaro aposta todas as fichas em um efeito tardio do Auxílio Brasil - já que a percepção da economia melhorou, principalmente por causa da redução dos preços dos combustíveis - e no levante capitaneado por Michelle junto às mulheres conservadoras.

O presidente ainda conta com a subida de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que diminuiria a vantagem de Lula nos votos válidos e que pode o levá-lo ao segundo turno sem grande esforço. E segundo turno é outra eleição.

Já a campanha de Lula espera apenas que a diferença se mantenha acima dos dois dígitos. Caso siga acima dos 10 pontos - ou aumente - a ação para voto útil deve se intensificar ainda mais na reta final.

O resultado do Datafolha e das pesquisas da próxima semana também vão definir as estratégias para o debate na Globo, que acontece dois dias antes da votação, quando já não haverá mais tempo para reação adversária.