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A análise completa do Datafolha em 5 pontos estratégicos para a reta final da campanha

Considerando que ninguém pode comemorar os resultados do DataFolha, o candidato das notícias menos ruins é Lula.

Lula em encontro com Evangélicos em São Gonçalo (RJ).Créditos: Ricardo Stuckert
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O Datafolha desta sexta-feira (9) traz notícias quase ruins para todos os candidatos. Considerando que ninguém pode comemorar seus resultados, o candidato das notícias menos ruins é Lula.

Na campanha de Bolsonaro a expectativa era que a diferença entre ele o ex-presidente Lula passasse para ao menos um dígito. Ou seja, fosse de no máximo 9%.

Mesmo entre analistas progressistas a maioria cravava números orbitando neste patamar de 9 pontos para baixo. A diferença ficou em 11%, sem que Lula caísse um mísero pontinho.

Entre os ciristas o discurso era se o dique iria se romper. Que ele chegaria aos dois dígitos e entraria na briga pelo 2º turno. Na Turma Boa, sua rede de campanha que utiliza especialmente o Twitter, só se falava disso. O próprio Ciro gravou um vídeo de gosto duvidoso em que a música falava de virada. O pedetista caiu de 9% para 7% e ontem à noite o clima era de desolação entre seus seguidores, alguns já anunciando que estavam migrando para o voto útil.

Na campanha de Simone Tebet também havia expectativa de crescimento. O cálculo era o de que ela poderia ganhar votos na classe média dos grandes centros e encostar em Ciro. Tebet continuou em 5% e encostou em Ciro, mas porque ele caiu.

Já na campanha de Lula o cálculo era o de que se a diferença de 13% viesse a se manter seria uma enorme vitória. Mas também não seria ruim se ela se mantivesse em dois dígitos. A diferença ficou em 11%, Lula ficou em 45% e no segundo turno a margem de vitória ainda é de 14 pontos.

Se a campanha de Lula não teve uma boa notícia, ela definitivamente foi a menos pior das quatro campanhas que contam nesta eleição.

Ou seja, entre a expectativa que as coordenações e mesmo as militâncias tinham, Lula é que sai mais inteiro da divulgação deste resultado a 22 dias da eleição.

Mas há dados deste relatório que precisam ser analisados com mais detalhes, mesmo levando em conta que nos segmentos sempre a margem de erro é maior. De qualquer maneira este Datafolha ouviu 2.676 pessoas presencialmente o que lhe garante alto grau de confiabilidade.

Vamos aos 5 pontos que merecem grande atenção atenção da campanha de Lula nesta reta final:

1. Fica claro que os 2% de crescimento de Bolsonaro vieram exatamente dos 2% que Ciro perdeu. E essa migração se deu fundamentalmente pelo eleitorado mais jovem, que é o mais atingido pela campanha difamatória do pedetista contra Lula nas redes. Ciro caiu de 15% para 9% no segmento de 16 a 24 anos e Bolsonaro subiu de 25% para 32%. A campanha da “rebeldia” com toque antipetista está convencendo a juventude que preferia Ciro a fazer o voto útil já no 1º turno. Só que ao invés de ir para Lula ela está indo para o atual presidente. Para que essa sangria estanque e/ou mesmo alguns desses votos que são mais voláteis sejam revertidos, será necessário que figuras públicas que têm poder de atração no campo cirista conversem com esses jovens. Fabio Porchat e Tico Santa Cruz entre outros que já sinalizaram que podem votar em Lula ainda no 1º turno se Ciro não tiver chance podem ser decisivos na reta final se fizerem este movimento antes da consolidação da migração deste voto para Bolsonaro.

2. Do ponto de vista econômico a grande disputa se dá entre o eleitorado de 2 a 5 salários mínimos. Ou seja, o motorista de Uber, o vendedor de cachorro quente, o professor de escola pública, o bombeiro, a manicure, a moça do telemarketing. Enfim, um público que deve compor aproximadamente 30% do eleitorado brasileiro. Há um empate técnico neste segmento com uma pequena vantagem de Bolsonaro, 41% a 37%. Em 25 de maio, Lula ganhava de 41% a 34%.

Se esse resultado vier a se manter assim e Lula não cair no segmento abaixo de 2 SM onde faz 54% a 26%, tudo tranquilo. Mas se o discurso antipetista e anticorrupção avançar, a diferença pode aumentar. Boa parte do destino desta eleição está sendo jogado neste segmento. Arrisco dizer que se Lula virar o jogo aí, a eleição será decidida no 1º turno. O movimento sindical tem que entrar com tudo no diálogo com esse eleitorado e a campanha de Lula precisa de propostas mais palpáveis e objetivas para este segmento. Coisas que toquem os indecisos e os façam apostar na volta do petista para melhorar de vida. É isso que este segmento quer, dar um salto na pirâmide social. Ele não é miserável e nem é rico, mas vive no limite. Ele quer poder sonhar com um futuro mais tranquilo para ele seus filhos.

3. Do ponto de vista regional a grande briga e que pode mudar a eleição acontece no Sudeste. É nesta região que representa 44% do eleitorado que Bolsonaro tem jogado todas as suas fichas. Ele sabe que uma virada aqui pode levá-lo tanto ao 2º turno, como a sonhar com algo melhor lá na frente. Se Lula vier a perder no Sudeste certamente a eleição irá para o 2º turno. Se ganhar por algo como 10% de frente, quase certamente levará no 1º. Ou seja, joga-se em São Paulo, Rio e Minas a grande batalha. Em 2014, Dilma teve só 35% dos votos no 2º turno contra Aécio que levou 65% de SP, empatou no Rio e por ter ganhado de 52,5%  47,5% em Minas se elegeu presidente. Perdeu no Sudeste e mesmo assim ganhou por conta do Nordeste. Dessa vez a situação de Lula na região é mais confortável, mas os maiores esforços da campanha deveriam se deslocar pra cá nesta reta final. Alckmin, por exemplo, não deveria mais sair de São Paulo. Sua missão nos próximos 22 dias seria de ligar pra cada prefeito e cada vereador que conhece no estado e conversar sobre o que é necessário para que ele apoie Lula já no 1º turno. E verificar como é possível melhorar a campanha em cada uma dessas cidades. É preciso olhar para o interior, mas dar prioridade para a capital e a grande São Paulo. E a região de Campinas é essencial para vencer no estado. Essas regiões têm mais da metade dos votos do estado e se Lula vencer bem nelas, pode compensar a quase certa derrota que terá no resto do estado, incluindo litoral e Vale do Paraíba. Haddad deveria concentrar sua agenda nelas com Lula.

Outra região que chamou atenção neste Datafolha foi a Centro Oeste. Nela onde havia um empate técnico, Bolsonaro abriu 17 pontos, 47% a 30%. Como é uma região menor e o número de pesquisados também não é grande pode ter havido um desvio estatístico. Mas pode ser o efeito da campanha do agro. E aí é o caso de verificar se algo pode ser feito pra reverter esse número. Mas cá entre nós, é muito difícil Bolsonaro não ganhar com alguma vantagem no Centro Oeste e é mais fácil ampliar a diferença no Nordeste do que talvez recuperar votos por lá. O que importa é a diferença final, não de onde os votos vieram. No Nordeste, Lula tem 60% e Bolsonaro 23%. Será que pode chegar a 65%?

4. A guerra religiosa é elemento central desta eleição. No Brasil, 52% se dizem católicos e 27% evangélicos. A diferença é que o evangélico é muito mais orgânico do que o católico. Ele participa mais das cerimonias, vai mais à igreja, tem mais contato com a liderança da sua base e isso tem feito muita diferença a favor de Bolsonaro entre esses eleitores, porque a imensa maioria dos pastores das grandes denominações apoiam o atual presidente. Entre os católicos, Lula cresceu da penúltima pesquisa para a atual. E isso foi importantíssimo para que se mantivesse com 45% dos votos totais. Lula tinha 51% e foi para 54%. Bolsonaro tinha 28% e foi para 27%. Já entre os evangélicos, Bolsonaro foi de 48% para 51% e Lula de 32% para 28%. Ou seja, a boca do jacaré está abrindo muito neste segmento. O que pode ser feito? O que a campanha de Lula fez, escolher a dedo as regiões onde vivem mais evangélicos e fazer um "do in" nessas áreas. Isso aconteceu nesta sexta-feira em São Gonçalo, no Rio. É preciso listar essas regiões e buscar realizar eventos presenciais. Também é preciso incorporar mais pastores nos programas de TV e nas mensagens disponibilizadas nas redes, mas sem exageros. Porque o exagero pode fazer estancar a sangria neste segmento, mas causar estranhamento entre os católicos e outros grupos religiosos. Não é uma tarefa fácil equilibrar os pratos neste cenário.

5. São elas que vão decidir a eleição e tanto os estrategistas de Lula como Bolsonaro sabem disso. Lula variou de 48% para 46% entre as eleitoras do penúltimo Datafolha para o atual. É variação na margem de erro, mas é preciso ficar atento. Provavelmente isso se deu entre as mulheres evangélicas. Será que dá pra recuperar esse voto e avançar. As pesquisas qualitativas dizem que as mulheres evangélicas são contra as armas, por exemplo. Será que este debate do "armar x amar" está sendo feito da maneira que deveria pela campanha de Lula? Será que este não é o gancho que dialoga mais com o público feminino? Também é preciso qualificar esse amar. O que amar? É garantir alimentos para todas as pessoas, melhorar a educação e a saúde com propostas claras (o sucateamento do farmácia popular tem grande apelo entre os mais idosos, por exemplo), é voltar o Minha Casa Minha Vida etc. Enfim, o voto feminino que está em jogo é o mais conservador e não o liberal. Este já está indo de Lula. O discurso a ser feito tem que ser mirando neste grupo.

Certamente há outros pontos que podem ser destacados desta pesquisa Datafolha, mas esses cinco são os centrais. É pelo jogo que for jogado nos próximos dias nesses segmentos que a eleição terminará ou não no dia 2 de outubro.