Em “1984” George Orwell definiu: “liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro”. E o slogan ditatorial do romance complementava: “liberdade é escravidão”.
O Brasil distópico de 2022 vai além. Por que uma entidade de empresários exige dos candidatos à presidência a defesa da democracia? E por qual motivo essa mesma exigência gera descontentamento de setores do empresariado?
Fiesp
Trata-se da façanhuda Fiesp, de notáveis contribuições golpistas em 1964 e em 2016-18, que a 21 de junho divulgou suas sugestões aos presidenciáveis sob o título de “Diretrizes Prioritárias”.
Folha corrida à parte, a Fiesp apontou a necessidade de uma política industrial capaz de alavancar um novo ciclo virtuoso na economia. Mas há mais.
Para surpresa de alguns, surgiram protestos de diversos filiados à associação em razão do encaminhamento valorizar a "estabilidade democrática e o respeito ao Estado de Direito”.
2 + 2 = 5
O fato é que “democracia” não é um consenso entre os donos do capital. Muitos estão satisfeitíssimos com o presidente Lobisomem e seu enfrentamento obscurantista da pandemia, do qual resultou a morte de quase 700 mil seres humanos por “gripezinha”.
É claro que existem os ortodoxos, como a “conja” Rosângela Moro, que esperavam “um pouquinho mais” do Licantropo. Quem sabe, digamos, um milhão de óbitos.
É da estirpe desses troglocapitalistas certo , autor da já antológica “precisamos (eles) de mais desigualdade, não menos”. Distintimente do Winston Smith de “1984”, Ling é um sujeito isento de angústias mundanas que se orgulha de ter apresentado o escroque Guedes ao Monstro.
Escravidão
Ling diz acreditar no dogma do pseudo-economista Mises: “a desigualdade impulsionada pelo mercado é fonte de progresso”. Algo do tipo “2+2=5”.
Acontece que se Mises estivesse correto nosso país, campeão de desigualdade social dentre as economias consideráveis há uns 40 anos, seria um pujante exemplo de progresso e não o maior caso de desindustrialização da história.
Apesar disso, colunistas e editorialistas do grande dinheiro desesperam-se ante sinais de que Lula pretende a reconstrução institucional estilo “mais estado”, para combater a desigualdade.
Fido Nesti
Se conseguissem ler Orwell poderiam entender a diferença entre um estado asfixiador da liberdade e um estado indutor do desenvolvimento econômico e garantidor dos direitos sociais e da proteção ao meio ambiente.
São, porém, bons fascistas, avessos a livros com “muita coisa escrita”. Talvez tolerem pelo menos o “1984” da excelente adaptação em quadrinhos do brasileiro Fido Nesti, que acaba de ganhar o troféu Will Eisner, o “nobel” dessa modalidade. Fica a dica.