Resistente até a entrar na campanha até dias atrás, Michelle Bolsonaro foi usada pelo marido, Jair, para dar um tom messiânico à convenção neste domingo (24) no Maracanãzinho, no Rio, que homologou seu nome na disputa à reeleição.
Durante discurso de cerca de 13 minutos, Michelle transformou o ato em um grande culto evangélico e citou a palavra "Deus" 29 vezes, recebendo muitas vezes como resposta um "aleluia", assim como fazem Silas Malafaias e Edir Macedos espalhados pelos púlpitos e agora pelos palanques políticos ultraconservadores Brasil afora.
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Michelle tem função muito bem definida na campanha: evitar uma possível diáspora do eleitorado evangélico, enquanto usa preceitos bíblicos distorcidos para atrair o voto de mulheres, apelando para a submissão patriarcalista pregada nos púlpitos de igrejas ultraconservadoras do país.
"É só você obedecer. Obedece os mandamentos do senhor: orai pelas autoridades instituídas e tudo vai dar certo", pregou.
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Em seu discurso, Michelle apelou ao vitimismo, dizendo que a família é perseguida, que ela própria desenvolveu doença autoimune e a filha, Laura - de apenas 11 anos -, sofre Síndrome do Pânico. Tudo isso para alçar o marido, o Messias, ao status de "escolhido de Deus".
"Ele é um escolhido de Deus. Esse homem tem um coração puro, limpo - além de ser lindo, né? Mas é meu", disse a primeira-dama, após revelar que faz uma espécie de sessão de descarrego, orando na cadeira presidencial todas as sextas-feiras com "intercessores", e afirmar que "enquanto existir esses joelhinhos" - em relação aos próprios - todas as "promessas de Deus" serão cumpridas.
Em sua missão junto ao eleitorado feminino, Michelle desdenhou do desprezo do marido pelas mulheres e criou nova fake news dizendo que Bolsonaro foi o presidente da História que mais criou medidas protetivas, onde inclui até mesmo a transposição do São Francisco - em um aceno ao Nordeste.
Com desenvoltura melhor que do marido no palanque - transformado em uma espécie de altar - Michelle disse que "a reeleição é por um propósito de libertação, um propósito de cura para nosso Brasil".
"Nós declaramos que o Brasil é do senhor. Feliz é a nação cujo Deus é o senhor. E o Deus é o Deus do nosso Brasil. Aleluia", pregou.
Ecoando o discurso de Bolsonaro, a primeira-dama conclui sua fala usando termos bíblicos para dizer que a eleição se dá entre o bem contra o mal.
"Não negociem com o mal. Essa luta não é contra homens e mulheres é contra protestades e principados".
Na linguagem bíblica, “principados” são as ordens angelicais malignas superiores, enquanto que “potestades” são os governantes angelicais malignos subordinados, em uma espécie de hierarquia do inferno.
O mesmo inferno que Bolsonaro transformou o país fazendo com que a mulher use o nome de Deus em vão.