MÊS DAS MULHERES

Mulheres Sem Terra intensificam protestos e denunciam impactos do agronegócio no Brasil

Mais de 12 mil camponesas realizam 70 mobilizações em todo o país contra crimes ambientais, concentração fundiária e desigualdades no campo

Mulheres Sem Terra ocupam área da Suzano Papel e Celulose, em Aracruz (ES). Créditos: Priscila Ramos (MST)
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Em todo o país, 12 mil mulheres do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) realizaram mais de 70 atos de mobilização como parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, em alusão ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher

Sob o lema "Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!", as camponesas promoveram ocupações, protestos e ações solidárias para denunciar os impactos sociais e ambientais do modelo agroexportador.

As manifestações ocorreram em 23 estados e no Distrito Federal, reunindo mulheres do campo, das águas e das florestas. Entre as ações mais emblemáticas, destacam-se:

  • Ocupação de terras da empresa Suzano, em Aracruz (ES).
     
  • Bloqueio da BR-010, via de acesso a uma das maiores fábricas de papel e celulose da Suzano, em Imperatriz (MA).
     
  • Denúncia contra a CMPC, que domina a silvicultura no Rio Grande do Sul.
     
  • Escracho na subestação João Câmara III, da Chesf, em João Câmara (RN).
     
  • Ocupação do Perímetro de Irrigação Tabuleiro de Russas, em Limoeiro do Norte (CE).

Denúncias contra o agronegócio e crimes ambientais

As mulheres Sem Terra ressaltam que o agronegócio e o modelo agro-hidro-mínero-exportador intensificam a expropriação de territórios, a contaminação de rios e terras, o desmatamento e o aprofundamento das desigualdades sociais.

Em carta-manifesto, as manifestantes denunciam que "o capitalismo no campo tem demonstrado sua face perversa para toda a sociedade brasileira, com crimes ambientais devastadores e um projeto de lucro e morte". O documento faz referência a tragédias como:

  • Os rompimentos de barragens da Vale, em Mariana e Brumadinho (MG).
  • O afundamento da Lagoa Mundaú e bairros periféricos de Maceió, causado pela Braskem (AL).
  • O desmatamento e os incêndios no Pantanal, intensificados pelo uso de agrotóxicos.
  • Mais de 4 mil denúncias mensais de crimes ambientais registradas no Brasil.

Nordeste: resistência contra mineração, reforma agrária e agronegócio

No Nordeste, as mulheres do MST protagonizaram uma série de atos para denunciar os impactos da mineração, das monoculturas e da privatização de recursos naturais.

  • Alagoas: 300 mulheres bloquearam o acesso à Mineração Vale Verde, em Craíbas, denunciando a contaminação de rios e tremores causados por explosões na extração mineral.
     
  • Pernambuco: Encontro Estadual das Mulheres Sem Terra debateu feminismo e luta pela terra, com marcha programada para Caruaru (PE).
     
  • Sergipe: Camponesas bloquearam a BR-101, denunciaram o agronegócio e distribuíram 5 toneladas de alimentos.
     
  • Bahia: Mulheres ocuparam duas áreas improdutivas na Chapada Diamantina, reivindicando destinação para a Reforma Agrária.
     
  • Ceará: 200 famílias ocuparam o Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas, uma área da União, em protesto contra o modelo agroexportador.
     
  • Rio Grande do Norte: Mulheres denunciaram o avanço da especulação sobre terras indígenas e quilombolas para geração de energia eólica.

Sudeste: mobilizações contra a Suzano e por reforma agrária

Na região Sudeste, as mulheres do MST direcionaram protestos contra o monopólio da celulose e a paralisação da reforma agrária.

  • Espírito Santo: Mil mulheres ocuparam terras da Suzano, em Aracruz (ES), denunciando a concentração fundiária da empresa.
     
  • São Paulo: Camponesas ocuparam a sede do Incra, cobrando a desapropriação de terras devolutas e improdutivas.
     
  • Minas Gerais: Protestos marcaram o 8 de março em Belo Horizonte, com atos regionais de formação política e plantio de árvores.

Sul: combate ao avanço da silvicultura no bioma Pampa

No Sul do país, o foco das mobilizações foi a expansão da monocultura de eucalipto e os impactos no meio ambiente.

  • Rio Grande do Sul: Mil mulheres realizaram ações simultâneas em Guaíba, Porto Alegre, Pelotas, Santana do Livramento e Tupanciretã para denunciar a CMPC e os danos ambientais da silvicultura.
     
  • Santa Catarina: Camponesas ocuparam a Praça de São José do Cedro, reafirmando a luta por agroecologia e democracia.

Centro-Oeste e Amazônia: luta contra privatizações e desmatamento

  • Distrito Federal: Mulheres plantaram árvores e distribuíram alimentos na BR-020, defendendo reforma agrária e alimentação saudável.
     
  • Mato Grosso: Protesto na Assembleia Legislativa denunciou projetos de lei que ampliam o desmatamento na Amazônia Legal.
     
  • Maranhão: 250 mulheres bloquearam trecho da BR-010, denunciando os impactos da monocultura de eucalipto da Suzano.
     
  • Pará: Mulheres ocuparam a Câmara Municipal de Parauapebas para cobrar políticas públicas para comunidades rurais.

Solidariedade e enfrentamento ao agronegócio

Além das ocupações e protestos, as mulheres Sem Terra também promoveram ações solidárias, como doações de alimentos, plantio de árvores e formações políticas.

A Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra segue até o dia 14 de março, reafirmando o compromisso com a Reforma Agrária Popular, a agroecologia e a soberania alimentar.

As mobilizações das Mulheres Sem Terra evidenciam um embate direto contra o modelo de produção agroexportador e seus impactos sociais e ambientais. A luta pela reforma agrária, preservação dos territórios e justiça socioambiental se intensifica, com ações coordenadas em todo o país.

As próximas semanas devem revelar o impacto das mobilizações e a resposta das empresas e autoridades às demandas das camponesas.

Com informações do MST

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