O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, desencadeou debate na sociedade brasileira. Especialmente nas redes sociais.
Mas, afinal, o que é trabalho de cuidado? Também chamado de economia do cuidado, a expressão engloba as tarefas realizadas por indivíduos que se dedicam a oferecer serviços voltados para atender às necessidades físicas ou emocionais de outras pessoas, além de promover o crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens.
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A maior parte dessas pessoas que cuidam de outras pessoas são mulheres. Daí a abordagem do tema da redação do Enem 2023, que destaca que essas tarefas são invisibilizadas e não remuneradas.
De acordo com o relatório da Oxfam Brasil Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade, mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global – mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.
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No Brasil, até 2050, haverá cerca de 77 milhões de pessoas dependentes de cuidado (pouco mais de um terço da população estimada) entre idosos e crianças, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para compreender esse conceito de trabalho de cuidado, a Fórum selecionou alguns livros que tratam do tema.
1. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva
Essa obra clássica de Silvia Federici, lançada no Brasil pela Editora Elefante, desenvolve uma perspectiva que lança luz sobre duas questões históricas fundamentais: a razão por trás da execução em massa de "bruxas" no início da Era Moderna e a relação desse evento com o surgimento do capitalismo. Ela tenta esclarecer a relação entre a caça às bruxas e o desenvolvimento contemporâneo de uma nova divisão sexual do trabalho que relegou as mulheres ao trabalho reprodutivo, que inclui o trabalho de cuidado.
2. Crítica ao Feminismo Liberal: Valor-Clivagem e Marxismo Feminista
Lançada pela Editora Contracorrente, a obra de Taylisi Leite destrincha o pensamento de Roswitha Scholz e traz uma análise detalhada das relações peculiares entre a sociedade patriarcal contemporânea e o modo de produção, com foco no valor. Fornece uma análise oportuna das conexões entre o sistema econômico e o sexismo, mas também é essencial para entender os processos sociais de gênero sob uma perspectiva estrutural, indo além das questões culturais e destacando os fundamentos do patriarcado contemporâneo.
3. Mulheres entre Fronteiras: olhares interdisciplinares desde o Sul
A luta por sociedades mais preocupadas com o bem-estar das pessoas não reconhece fronteiras, sejam geográficas, linguísticas ou disciplinares. Esta obra, lançada pela editora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (EdiUnila) e organizada por Silvia Lilian Ferro e Thaíse Vieira Thomé, lança um olhar regional, presente não só em razão das nacionalidades e dos idiomas utilizados nos artigos, mas também nas perspectivas disciplinares, nas análises e nos temas.
4. Família, Cuidados e Políticas Sociais
Esta coletânea lançada pela Editora Papel Social reflete uma análise crítica, madura e aprofundada sobre temas relacionados à família, aos cuidados familiares, geralmente desempenhados por mulheres, e às políticas sociais, bem como suas propostas de cuidados institucionais ou em domicílio, em um contexto marcado pelo avanço das "reformas" neoliberais. Oferece novas referências que serão úteis para leitores de diversas áreas e níveis de estudo, incluindo graduandos, pós-graduandos, profissionais e pesquisadores interessados nos temas abordados.
5. Economia dos cuidados: marco teórico-conceitual
A sociedade brasileira tem passado por inúmeras transformações sociais ao longo das últimas décadas. Entre elas, as percepções sociais a respeito dos valores e convenções de gênero e a forma como mulheres têm se inserido na sociedade estão, indiscutivelmente, no seio destas mudanças.
Algumas permanências, porém, chamam atenção, como a delegação quase que exclusiva às famílias e, nestas, às mulheres, de atividades relacionadas à reprodução da vida e da sociedade, usualmente nominadas trabalho de cuidados ou care.
Para contribuir para o debate e formulação de políticas no campo dos cuidados, o projeto Economia dos Cuidados limita as possibilidades de participação social das mulheres e estrutura diversos aspectos da sociedade brasileira.
Tais reflexões tornam-se ainda mais relevantes em um contexto social e demográfico que indica, entre outras coisas, um envelhecimento significativo da população brasileiro - ampliando-se a demanda por cuidados para a população idosa - e de redução do trabalho doméstico remunerado.
Obra do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) disponível para baixar neste link.