Nesta primeira matéria da série sobre vertentes do feminismo, vamos abordar o Feminismo Marxista, que centra o debate da luta de gênero junto à luta de classes, e defende que a emancipação feminina só pode ser alcançada através do fim do capitalismo.
Essa vertente, que mescla com a filosofia de Karl Marx, é uma oposição ao Feminismo Liberal, que pauta a luta da liberdade feminina de forma individualista, ou seja, focada no indivíduo e não na sociedade. O Feminismo Marxista considera a influência do contexto histórico-econômico na posição da mulher na sociedade.
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Assim, são considerados fatores como as desigualdades sociais, econômicas e o debate sobre raça, por exemplo. A ideia prevê a necessidade de mudanças nas estruturas sociais e isso seria alcançado através da organização popular, com protagonismo das mulheres.
No livro “Feminismo para os 99%: um manifesto”, de Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser, as autoras tecem críticas ao feminismo liberal e debatem a vertente anticapitalista do movimento.
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Elas defendem que o feminismo deve fortalecer os movimentos sociais e as greves para que a opressão de gênero no mercado de trabalho tenha fim. Elas também consideram o trabalho doméstico como um verdadeiro trabalho, que toma grande parte do tempo de serviço das mulheres e merece remuneração, mesmo não sendo considerado como tal.
O feminismo marxista, portanto, surge como uma alternativa para o feminismo centrado nas mulheres de elite, considerado como o “primeiro” movimento feminista.
“(...) sociedades capitalistas também são, por definição, a origem da opressão de gênero. Longe de ser acidental, o sexismo está entranhado em sua própria estrutura.” (Arruzza, 2019, p. 51)
O feminismo marxista também traz distinção entre a luta de mulheres brancas e mulheres negras, que são duas vezes mais oprimidas - o machismo e o racismo somam forças na opressão dessas mulheres. Portanto, é considerado o debate sobre raça, diferente do feminismo liberal. Essa distinção é o centro do Feminismo Negro.
Assim, a vertente marxista defende uma visão social para o feminismo e se posiciona contra uma ideia de opressão hegemônica entre as mulheres, que seria derrotada por todas de maneira igual.
Pensadoras
Separamos algumas filósofas sobre o feminismo marxista abaixo:
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Rosa Luxemburgo (1871 a 1919, Alemanha) - Principal filósofa marxista, ficou reconhecida pela militância revolucionária na Alemanha no século 20. Defendia que o capitalismo e as desigualdades social e de gênero estavam profundamente relacionadas. Foi assassinada por membros da Freikorps, um grupo paramilitar conservador de direita
- Alexandra Kollontai (1872 a 1952, Rússia) - Foi uma das lideranças da Revolução Russa de 1917 e a primeira mulher a ocupar um cargo junto ao alto escalão do governo, como Comissária do Povo do Bem-Estar Social. Defendia, entre muitos pontos, a liberdade sexual das mulheres.
- Clara Zetkin (1857 a 1933, Alemanha) - Amiga de Rosa Luxemburgo, ficou conhecida pelo seu trabalho com mulheres trabalhadoras. Em 1910, propôs uma data internacional para celebrar luta das mulheres, que mais tarde seria o Dia Internacional da Mulher.
- Heleieth Saffioti - (1934 a 2010, Brasil): Formou-se em Ciências Sociais pela USP e iniciou seus pensamentos sobre feminismo marxista através de pesquisas acadêmicas sobre a condição feminina no Brasil, o que se tornaria sua tese “A mulher na sociedade de classe: mito e realidade”.
- Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser: Três das principais organizadoras da Greve Internacional das Mulheres nos Estados Unidos, são autoras do livro citado acima, “Feminismo para os 99%: um manifesto”, e pautam a militância do feminismo através do debate dos problemas sociais gerados pelo capitalismo.
- Angela Davis (1944 - presente, Estados Unidos): Principal filósofa marxista pelos movimentos feminista e negro, fez parte do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras e causou uma revolução nos movimentos sociais pela igualdade racial no país. Foi presas diversas vezes e chegou a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI em 1970.