ATIVISMO

Quem foi bell hooks, uma das principais vozes do feminismo negro americano

Filósofa, que completaria 71 anos, foi a primeira a transformar a forma de pensar o feminismo até então difundido de forma romantizada pela branquitude

A escritora bell hooks deixou um enorme legado de ensinamentos sobre raça, classe e gênero.Créditos: Divulgação
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Gloria Jean Watkins, mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks, é uma das maiores pensadoras da luta pelos direitos das mulheres e da comunidade negra. Inspirada por sua avó Bell Blair Hooks, ela adotou esse nome para publicar seu primeiro livro de poesias no final dos anos 70

Nascida em Hopkinsville, ao sul dos EUA, em 25 de setembro de 1952, a pensadora escolheu descrever seu nome - bell hooks - com letras minúsculas. Segundo ela, o objetivo era valorizar a coletividade em detrimento do personalismo.

A voz de hooks se tornou um farol nas lutas pelo feminismo e pelos direitos dos negros, ecoando em salas de aula, palestras e manifestações ao redor do mundo. Considerada a primeira mulher negra a mudar o movimento feminista difundido até então pela branquitude, ela foi reconhecida principalmente por aproximá-lo do movimento negro, uma vez que o feminismo ainda ocultava as vozes das mulheres negras em seu discurso.

Feminismo restrito à classe branca

bell hooks se encontrou em uma encruzilhada: como mulher negra, ela percebeu que apoiar o movimento feminista muitas vezes significava deixar de lado as discussões sobre raça, enquanto a luta pelos direitos civis era frequentemente dominada pelo patriarcado.

Ao longo de sua carreira, hooks enfrentou críticas, inclusive de outras feministas que a acusavam de não ser “acadêmica o suficiente”. No entanto, hooks desafiou intencionalmente os padrões tradicionais da academia com o objetivo de tornar seu trabalho acessível a todos. Ela acreditava firmemente na importância da educação, especialmente para as pessoas negras, que historicamente foram excluídas da academia.

Ensinamentos sobre política, raça, feminismo e cultura continuam a inspirar e a desafiar as percepções comuns. Hoje (25), ela completaria 71 anos, mas deixa um legado vivo que ilumina o caminho ddas questões sociais do presente e das futuras gerações.

A autora, ativista, professora, artista e feminista faleceu no dia 15 de dezembro de 2021. Em seus últimos momentos, bell hooks estava cercada pelo calor e pelo amor de amigos e familiares, conforme relatado na época por sua sobrinha, Ebony Motley

hooks escolheu um pseudônimo para publicar seu primeiro livro de poemas “And There We Wept” em 1978, que não era apenas um nome, mas uma homenagem à sua herança e às mulheres que a precederam. Após a publicação de seu primeiro livro, ela continuou a compartilhar a voz do ativismo negro e feminista, escrevendo mais de 40 livros, traduzidos para 15 idiomas.

Os temas abordados são diversos e profundos. Ela explorou as raízes do feminismo, do racismo, dos aspectos culturais e da política como sob outra visão. Além disso, também discutiu os papéis de gênero, o amor e a espiritualidade, proporcionando uma visões holísticas da experiência humana.

bell hooks ganhou notoriedade no Brasil através da tradução e publicação de suas obras impactantes como “Olhares negros: raça e representação”, “Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade”, e “O feminismo é para todo mundo”.

Nesses textos, a autora não se limitou a discutir teorias abstratas, mergulhando na cultura popular e até analisando desde clipes de Madonna à representação dos negros americanos no cinema, além de se inspirar no educador brasileiro Paulo Freire para formular sua pedagogia.

Vida de bell hooks

bell hooks. Créditos: Cmongirl/ Domínio Público/ Via Wikimedia Commons

A escritora veio de uma família humilde e numerosa, com cinco irmãs e um irmão. Seu pai era zelador e sua mãe, empregada doméstica. Durante sua infância, bell hooks frequentou escolas públicas em uma época marcada pela segregação racial na educação.

Já em 1973, ela concluiu a licenciatura em Letras na Universidade de Stanford e três anos depois fez o mestrado pela Universidade de Wisconsin-Madison. Além disso, hooks concluiu um doutorado, em 1981, na Universidade da Califórnia, tendo como objeto de pesquisa a escritora Toni Morisson

Também professora, hooks iniciou em 1976 com aulas na Universidade do Sul da Califórnia acerca dos estudos étnicos, seguindo como educadora em várias instituições norte-americanas. 

“Muitas vezes, as feministas brancas agem como se as mulheres negras não soubessem que houve opressão sexista até que elas expressassem o sentimento feminista. Eles acreditam que forneceram às mulheres negras ‘análise’ e ‘o’ programa de liberação”, escreveu hooks em seu livro “Olhares Negros: raça e representação”. Outro trecho presente na obra reforça a necessidade de um feminismo negro. “Eles não entendem, nem imaginam, que as mulheres negras, bem como outros grupos de mulheres que vivem diariamente em situações opressivas, muitas vezes se tornam conscientes da política patriarcal de sua experiência vivida à medida que desenvolvem estratégias de resistência — mesmo que isso não seja feito de forma sustentada ou organizada.”