bell hooks: 6 livros fundamentais para entender o seu pensamento

A educadora, que faleceu nesta quarta, era uma das principais difusoras do pensamento de Paulo Freire nos EUA

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Gloria Jean Watkins se tornou mundialmente conhecida pelo pseudônimo bell hooks, que era uma homenagem a sua avó - Bell Blair Hooks. A opção da autora em assinar com letras minúsculas se dava por um motivo político: que o conteúdo de sua obra ficasse em primeiro lugar e também revelar desprendimentos por uma identidade fixa… assim com a sua obra, bell hooks viveu em permanente movimento.

Morta nesta quarta-feira (15) aos 69 anos e com mais de trinta livros publicados, bell hooks estreou com a obra "E eu não sou uma mulher?" (1981), que logo se tornou uma leitura obrigatória na construção do feminismo negro, pois, neste livro a autora aborda o racismo em parte do movimento feminista e o sexismo presente nos homens que atuam na luta pelos direitos civis.

Mas, se em um primeiro momento o nome de bell hooks se torna uma referência para o feminismo negro, em 1994, com a publicação de "Ensinando a transgredir", hooks passa também a ser uma referência na construção de uma educação pública e crítica nos EUA.

O encontro com Paulo Freire

Apesar de ter se tornado um livro referência do movimento por educação popular no Ocidente, “Ensinando a transgredir” não foi bem recebido pelo editor de bell hooks, pois, ele tinha certa resistência com o conteúdo da obra, que versava sobre um tema com o qual ela ainda não era referenciada.

Partindo de sua experiência como aluna e professora, bell hooks conta sobre o seu primeiro encontro com Paulo Freire, que se deu na década de 1970 na biblioteca na Universidade de Stanford, quando se deparou com a obra “A pedagogia do oprimido”.

A autora nos revela que seguia desencantada com a universidade, pois, àquela altura a educação engajada, que marcou parte de sua adolescência, visto que ela estudou em escolas segredadas onde os professores, além do conteúdo formal, explicavam aos estudantes a importância do pensamento crítico frente a um mundo (EUA) segregado e racista, parecia ter desaparecido.

Ao ler a obra de Paulo Freire, com quem manteve troca acadêmica ao longo de sua vida, bell hooks reencontra o sentido da educação e passa a estabelecer um contato direto com a obra de Freire.

Mas, Paulo Freire não seria apenas inspiração ou citação, a metodologia do educador brasileiro também passaria pelo crivo de hooks, ou seja, mais do que replicar o método de Freire, a autora o adaptou para dentro das questões do feminismo negro e ao contexto estadunidense.



"Paulo Freire foi um dos pensadores do qual o trabalho deu-me uma linguagem. Ele me fez pensar profundamente sobre a construção de uma identidade na resistência. Existe uma frase de Frire que se tornou um mantra revolucionário para mim: ‘Nós não podemos entrar na luta como objetos para nos tornarmos sujeito mais tarde’. Realmente, é difícil achar palavras adequadas para explicar como esta frase era como uma porta fechada - e eu lutei comigo mesma para achar a chave - e aquela luta engajou-me num processo de pensamento crítico que era transformador. Esta experiência posicionou Freire em minhas mãos e no meu coração como um professor desafiador, de quem o trabalho ampliou minha própria luta contra o processo colonizador - a mente passível de colonização", declarou hooks sobre o impacto da obra de Paulo Freire em sua vida.


bell hooks e Paulo Freire se encontrariam algumas vezes ao longo de suas respectivas vidas. Em um desses encontros, que se deu em uma universidade onde Freire ministrava uma palestra, hooks, em conversa com o educador brasileiro, o criticou por usar termos sexistas. Freire não só acatou as críticas como abandonou o uso de tais termos. hooks revelaria que essa experiência a faria amar ainda mais o trabalho de Freire, pois, ele havia colocado em prática aquilo que ensinava.


Paulo Freire e bell hooks não estão mais entre nós, porém, ambos deixam uma vasta obra que seguirá sendo lida e estudada por militantes, educadores e por todos aqueles que, assim como eles, acreditam em um mundo liberto das amarras capitalistas e que trabalham por uma educação crítica, libertadora e universal.


Abaixo, elencamos 6 obras de bell hooks para quem deseja iniciar a leitura deste universo crítico e libertário construído por bell hooks.

E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo (Ed. Rosa dos Tempos)

Primeira obra de bell hooks, a obra versa sobre sexismo presente no movimento pelos direitos civis e no feminista, a desvalorização do mulherismo negro, o racismo entre as feministas e o imperialismo do patriarcado.

Teoria feminista: da margem ao centro (Ed. Perspectiva)

Nesta obra, bell hooks defende que a revolução feminista negra é uma luta pela libertação de todes e também um pacto ético, político, teórico e prático.

Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade (Ed. Martins Fontes)

O livro que inaugura as teses de bell hooks sobre educação popular e crítica. Neste, a partir de sua experiência como aluna e professora, hooks estabelece um diálogo com Paulo Freire para pensar uma educação que não seja bancária (de cartilha) e que seja crítica e libertadora.

Ensinando pensamento crítico: Sabedoria prática (Ed. Elefante)

Aqui a autora centra os seus textos na questão da descolonização, a educação engajada e que também tenha papel ativo na desconstrução do pensamento machista, racista e LGBTfóbico.

Ensinando comunidade: Uma pedagogia da esperança (Ed. Elefante)

A partir da teoria e dá prática com 30 anos vivendo como educadora e militante feminista, bell hooks apresenta aqui dezesseis "ensinamentos" para a construção de uma educação não sexista, racista e que aborde as diferenças não como algo a desunir, mas sim para construir potências transformadoras.

Tudo sobre o amor: Novas perspectivas

Aqui bell hooks, a partir de experiências vividas, mas também de sua relação e trocas com os estudantes, analisa de que maneira o cinismo e o egoísmo tomaram conta daquilo que chamamos de amor.

Muito longe da ideia do "amor romântico", hooks quer discutir e resgatar o amor como uma relação de ética, amizade e lealdade.