A dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Ceres Hadich, concedeu entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (23) para comentar sobre a trajetória do movimento durante o governo do presidente Lula (PT) e as expectativas para 2025 em relação, principalmente, à reforma agrária.
Nos últimos meses, o líder do MST, João Pedro Stédile, fez fortes declarações sobre a falta de agilidade do governo Lula para realizar a reforma agrária, principal bandeira do movimento. Em dezembro, Stédile realizou uma entrevista em que criticou a "inércia" do governo, principalmente dos ministérios, e afirmou que, durante os dois anos, quase nada foi feito.
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Ceres afirma que, mesmo após as declarações de Stédile, a luta pela reforma agrária junto ao governo continua "em passos lentos". "A gente tinha uma expectativa com a reforma e com o governo como um todo de que pudesse não só restabelecer políticas, mas reverter um processo de muita destruição e desestruturação da sociedade e do Estado brasileiro, mas o que a gente tem vivenciado não só no campo, mas também na cidade, é uma essa morosidade, essa dificuldade de se recompor", diz Ceres.
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"E para nós, no caso da reforma agrária, isso tem sido muito impactante porque a gente está iniciando o terceiro ano sem nenhuma entrega até agora. A gente não conseguiu colocar a reforma agrária agrária num ritmo de entregas e de prioridade do governo federal", acrescenta a dirigente.
Ceres ainda destaca que hoje são pelo menos 100 mil famílias acampadas, contra um número de 60 mil no começo do governo Lula, o que evidencia, para a dirigente, que não há uma "chave virada" em relação a um retorno para essas pessoas que sofrem há anos com a desestruturação das políticas públicas para agricultura familiar e para reforma agrária. "Tem sido muito frustrante", desabafa a líder.
Por outro lado, a dirigente afirma que há uma expectativa, após cobranças, de um retorno breve através de reuniões com o próprio presidente Lula, que, para o movimento, é quem pode e deve comandar o processo da reforma agrária dentro do governo, uma vez que o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar "tem demonstrado muita limitação".
"A gente espera que a partir desse retorno do presidente Lula a gente possa alcançar respostas concretas e entregas para o campo e para a reforma agrária em especial", declara Ceres.
Perspectivas para 2025
Ceres afirma que o MST começa o ano de 2025 com uma perspectiva "muito boa de fazer luta e de botar o povo na rua para obter mais conquistas". A dirigente declara que a luta pela reforma agrária segue sendo a questão principal do movimento neste ano.
"Para nós, a questão agrária é a questão central na concentração e geração de desigualdades no nosso país desde o início da nossa história. Então esse tema da luta pela reforma agrária segue na centralidade. O enfrentamento ao latifúndio e ao projeto do capital na agricultura, que é o agronegócio", diz Ceres.
"É fundamental a gente construir um lugar bom para viver no campo e na cidade, construir um jeito novo de se relacionar com as pessoas e com a natureza considerando essa crise que a gente está vivendo por causa desse modo de produção que está nos levando a catástrofe, a uma limitação concreta da vida humana no planeta. Então a gente pensa em um programa de reforma agrária que dialogue com tudo isso", completa a dirigente.
Ceres também acrescenta que, para este ano, o MST se articula em uma luta ainda menos isolada, que pretende ir além do povo sem terra. "Não é uma luta só para quem está no campo, para quem se beneficia diretamente da reforma agrária, é uma luta para toda a sociedade brasileira e que precisa ser entendida e incorporada por toda ela. Então, nesse sentido, a batalha das ideias para nós é fundamental. A gente disputa o pensamento das pessoas, a compreensão da importância da reforma agrária para produzir alimentos, cuidar do meio ambiente e cuidar das pessoas".
Assista a entrevista completa da dirigente do MST Ceres Hadich ao Fórum Onze e Meia pelo link abaixo.