O enxadrista norueguês Magnus Carlsen, cinco vezes campeão mundial e considerado um dos maiores nomes da história do xadrez, abandonou o Campeonato Mundial de Xadrez Rápido em Nova York (EUA) após ser punido por violar o código de vestimenta ao usar calça jeans.
Carlsen, apelidado de "Mozart do Xadrez" foi notificado sobre a infração ao código de vestimenta após o terceiro jogo do dia. Ele foi informado de que deveria trocar a calça imediatamente ou seria excluído da próxima rodada. O enxadrista, no entanto, optou por não atender à exigência, classificando a situação como uma “questão de princípio”.
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"Coloquei uma camisa, um blazer e, sinceramente, nem pensei nos jeans, até troquei os sapatos. Quando me disseram que precisava trocar, sugeri fazer isso no dia seguinte, mas insistiram que fosse naquela hora. Nesse ponto, tornou-se uma questão de princípio para mim", disse Carlsen ao canal Take Take Take.
O incidente ocorrido nesta sexta-feira (27) levou Carlsen a desistir não apenas do Mundial de Xadrez Rápido, mas também do Mundial de Blitz, programado para a semana seguinte.
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"Honestamente, estou muito velho para me importar tanto. Se é isso que eles querem fazer, tudo bem por mim. Provavelmente vou para um lugar onde o clima seja melhor do que aqui", afirmou o enxadrista ao canal norueguês NRK, em tom irônico.
A posição da FIDE
A Federação Internacional de Xadrez (FIDE) multou Carlsen em US$ 200 (cerca de R$ 1.200) e destacou que o código de vestimenta é de conhecimento prévio de todos os competidores.
"Hoje, o Sr. Magnus Carlsen violou o código de vestimenta ao usar jeans, proibidos pelos regulamentos de longa data deste evento. O Árbitro Chefe informou o Sr. Carlsen sobre a violação, emitiu uma multa e solicitou que ele trocasse de roupa. Infelizmente, ele recusou e, como resultado, não foi emparelhado para a nona rodada", declarou a FIDE em comunicado.
O CEO da FIDE, Emil Sutovsky, afirmou que Carlsen poderia ter continuado na competição se tivesse trocado de roupa dentro do tempo estipulado.
"A FIDE não baniu Magnus do torneio. Ele não foi emparelhado na rodada 9. Ele pode continuar amanhã", escreveu Sutovsky na plataforma X.
Outros participantes, como Ian Nepomniachtchi, também enfrentaram penalidades por infrações ao código de vestimenta, mas seguiram as orientações. Nepomniachtchi, multado por usar calçados esportivos, trocou de traje e continuou na competição.
Regras de vestimenta no xadrez
O código de vestimenta da FIDE estabelece regras claras para a aparência dos participantes em competições oficiais. Ele é projetado para garantir profissionalismo e transmitir uma imagem positiva do esporte.
Todos os participantes devem usar trajes considerados de bom gosto, limpos e apropriados para eventos de prestígio. Os competidores devem evitar roupas que possam ser consideradas inadequadas ou ofensivas no ambiente de torneio.
Itens proibidos para homens
- Calça jeans (especialmente rasgada ou desgastada);
- Bermudas curtas ou jeans;
- Roupas de ginástica, como calças esportivas;
- Camisas com palavras ou imagens ofensivas;
- Bonés e óculos escuros (exceto por motivos médicos);
- Roupa suja ou visivelmente amassada.
Itens permitidos para homens
- Terno e gravata;
- Camisa social, polo ou gola alta;
- Calças elegantes ou de alfaiataria;
- Sapatos sociais ou mocassins;
- Uniformes de equipe ou trajes nacionais.
Itens permitidos para mulheres
- Vestidos, saias, ternos femininos ou calças compridas;
- Blusas, camisas polo ou de gola alta;
- Sapatos sociais ou tênis discretos;
- Joias, desde que combinem com o traje e sejam apropriadas ao evento.
Itens proibidos para mulheres
- Roupas transparentes ou reveladoras;
- Trajes de praia, regatas ou tops;
- Bermudas curtas ou de ginástica;
- Roupas com mensagens ou imagens inadequadas.
Competidores que violarem o código de vestimenta podem ser advertidos, multados ou até desclassificados, dependendo da gravidade da infração e da resposta à solicitação de adequação.
Leia aqui o dress code da FIDE
Repercussão e polêmica
O caso reacendeu debates sobre a rigidez das regras no xadrez e a forma como elas impactam o ambiente competitivo. Enquanto alguns defendem que normas rigorosas são essenciais para manter o profissionalismo, outros consideram as penalidades desproporcionais e contraproducentes para o crescimento da modalidade.
Com um histórico de conquistas e controvérsias, Carlsen continua sendo uma figura central no xadrez, e sua decisão levanta uma questão: até que ponto a formalidade deve interferir na dinâmica do esporte?
Magnus Carlsen e as polêmicas
Magnus Carlsen, nascido em 30 de novembro de 1990, na Noruega, é considerado um dos maiores enxadristas da história. Ele se tornou Grande Mestre aos 13 anos, um dos mais jovens de todos os tempos, e conquistou o título de Campeão Mundial de Xadrez em 2013, mantendo-o até 2023. Além de seus títulos no formato clássico, Carlsen também dominou as modalidades de xadrez rápido e blitz.
Carlsen é conhecido por seu estilo de jogo versátil, memória prodigiosa e capacidade de encontrar soluções criativas no tabuleiro. Fora do xadrez, ele é empreendedor, fundador da plataforma Play Magnus, e figura midiática, promovendo o esporte globalmente.
Apesar de sua genialidade, Carlsen também é conhecido por algumas controvérsias. Em 2022, Carlsen anunciou que não defenderia seu título mundial de xadrez clássico em 2023. Ele afirmou que não estava motivado para competir no formato tradicional e criticou o sistema da FIDE por ser antiquado e pouco dinâmico. Isso gerou debates sobre o futuro do título mundial e o impacto de sua ausência no esporte.
Em 2022, Carlsen acusou o jovem enxadrista estadunidense Hans Niemann de trapaça após perder para ele no Torneio Sinquefield Cup. A controvérsia ganhou notoriedade quando Carlsen abandonou abruptamente outro jogo contra Niemann após apenas um movimento. As acusações geraram especulações, incluindo a teoria absurda de que Niemann usaria dispositivos vibratórios para receber instruções durante as partidas. O caso levou a ações judiciais e investigações no mundo do xadrez.
Carlsen frequentemente critica a FIDE por questões organizacionais e administrativas. Ele já reclamou do formato dos torneios, dos critérios de desempate e da burocracia na entidade, o que o levou a criar iniciativas próprias para promover o esporte de forma mais moderna e acessível.
O enxadrista também é conhecido por provocações e rivalidades no tabuleiro. Ele já ironizou enxadristas como Hikaru Nakamura e Ian Nepomniachtchi, criando tensões nos bastidores do esporte.
Apesar das polêmicas, Carlsen é amplamente reconhecido como um ícone do xadrez, revolucionando a forma como o esporte é praticado e promovido. Suas controvérsias, muitas vezes, refletem sua busca por melhorar o esporte e manter seu status como figura central no xadrez mundial.
Códigos de vestimentas em esportes
Os códigos de vestimenta em esportes variam amplamente, com algumas modalidades adotando regras rígidas para preservar a tradição ou profissionalismo, enquanto outras enfrentam críticas por excessos ou falta de inclusão.
Essas regras refletem tradições e objetivos de cada esporte, mas frequentemente geram debates sobre liberdade individual, igualdade de gênero e modernização.
Tênis
Muitos torneios exigem roupas específicas. Wimbledon, por exemplo, impõe um rigoroso código "totalmente branco" para jogadores, incluindo acessórios. Um caso polêmico envolveu a estadunidense Serena Williams, que foi criticada no Aberto da França de 2018 por usar um macacão preto projetado para melhorar a circulação após complicações de saúde. Após a controvérsia, o torneio proibiu roupas similares.
Basquete
Na NBA, a principal liga do basquete dos EUA, jogadores fora de quadra devem usar roupas formais ou casuais elegantes durante eventos oficiais, instituído pelo então comissário David Stern em 2005. A regra gerou críticas iniciais de jogadores que a consideraram discriminatória por afetar principalmente atletas afro-americanos que usavam estilos urbanos.
Golfe
Jogadores devem usar camisas de colarinho, calças ou bermudas (para homens) e saias ou calças (para mulheres). Jeans e camisetas são geralmente proibidos. Em 2017, a LPGA (circuito feminino) implementou regras rígidas para roupas, banindo decotes profundos e shorts curtos, o que gerou críticas sobre sexismo e controle excessivo.
Futebol
Uniformes devem ser aprovados pela federação correspondente. Jogadores não podem exibir mensagens políticas ou religiosas. Em 2016, a FIFA proibiu as seleções da Inglaterra e Escócia de usarem braçadeiras com o símbolo da papoula em jogos oficiais, considerando o gesto uma declaração política.
Atletismo
Regras incluem uniformes ajustados ao corpo para otimizar desempenho, mas sem transparência excessiva ou mensagens não autorizadas. Em 2021, a seleção feminina de handebol de praia da Noruega foi multada por usar shorts no lugar de biquínis, alegando maior conforto. O caso gerou críticas sobre desigualdade de gênero nas regras.
Natação
Trajes devem ser homologados pela FINA, como maiôs que não ultrapassem os joelhos e não contenham materiais que ofereçam vantagem indevida. Em 2009, os "supermaiôs" feitos de poliuretano, que aumentavam a flutuabilidade, foram banidos após recordes mundiais serem quebrados em larga escala.
Esgrima
Exige roupas de proteção completas, incluindo coletes especiais e máscaras homologadas para segurança. A campeã olímpica Ibtihaj Muhammad enfrentou dificuldades ao competir usando um hijab, levando a ajustes nas regras para acomodar práticas religiosas.
Vôlei de Praia
Historicamente, exigia biquínis para mulheres, mas agora permite shorts e camisetas. Homens usam regatas e bermudas. O Qatar tentou impor o uso de calças longas e camisetas nas mulheres durante um evento em 2021, o que gerou protestos e revisões.