AJUSTE FISCAL

SBT demite cerca de 200 funcionários mesmo com quase R$ 20 milhões de desoneração em Folha

Emissora dirigida por Daniela Abravanel, filha de Silvio Santos, alega que demissões fazem parte de "uma revisão do modelo operacional do negócio". Em oito meses, SBT deixou de pagar R$ 20 milhões em impostos por causa de benefício trabalhista

Silvio Santos e a filha, Daniela Abravanel, atual presidenta do SBT.Imagem mostra Silvio Santos, que morreu em 17 de agosto, com a filha Daniela Abravanel, presidenta do SBTCréditos: Instagram / @danielabeyruti
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Sob o comando de Daniela Abravanel Beyruti, que substituiu o pai Silvio Santos, que morreu em 17 de agosto, o SBT demitiu cerca de 200 funcionários na última semana no que foi classificado pela diretoria como "uma revisão do modelo operacional do negócio", segundo a revista Veja.

A emissora promoveu a demissão em massa após um suposto rombo de R$ 100 milhões em seu caixa e estaria promovendo mudanças na grade, privilegiando reprises de filmes e séries durante a madrugada.

A justificativa, no entanto, contraria o resultado obtido pela emissora em 2023, quando anunciou lucro de R$ 31,1 milhões - bem abaixo, é certo, que os R$ 140,9 milhões lucrados em 2021, durante o governo Jair Bolsonaro.

As demissões aconteceram na mesma semana em que o Ministério da Fazenda, por meio do site da Receita Federal, divulgou que a emissora da família Abravanel economizou quase R$ 20 milhões com a desoneração da Folha de Pagamento entre janeiro e agosto deste ano.

Somente a matriz, em São Paulo, deixou de pagar R$ 17.581.453,97 em encargos trabalhistas. No Rio de Janeiro, a emissora economizou R$ 1.087.798,82, segundo os dados fornecidos pela Receita.

A desoneração da Folha foi proposta ainda durante o governo Dilma Rousseff (PT) com parte do compromisso das empresas de contratarem mão-de-obra ou, ao menos, não demitirem funcionários.

Críticas de Haddad

O link para o acesso inédito ao trem da alegria da chamada Dirbi (sigla de  Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidades de Natureza Tributária) foi divulgada na última quarta-feira (13) pelo site da Receita Federal - acesse aqui.

A divulgação se deu com autorização direta do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que no mesmo dia partiu para cima da mídia liberal, que deixaram de arrecadar cerca de R$ 12,3 bilhões dos R$ 97,7 bi em desonerações entre janeiro e agosto desse ano.

"Hoje nós demos a público pela 1ª vez na história os incentivos fiscais dados a cada empresa individualmente e aos setores, de uma forma agregada", afirmou o ministro.

Em seguida, Haddad citou diretamente a desoneração da Folha de Pagamento, principal benefício usado pelas famílias que dominam a mídia liberal - a mesma que torce pelo corte em cima dos mais pobres.

Haddad ainda focou o chamado Perse, Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, criado por Jair Bolsonaro (PL) em 2021 e que é utilizado tanto pelos conglomerados de mídia quanto pelas igrejas.

“Vocês vão ver que aquela medida do ano passado, e foi muito questionada no final do ano passado, sobre desoneração da folha e sobre a questão do Perse, como a Receita Federal tinha razão. Nós dizíamos o que: se a Medida [Provisória] 1.202 [de 2023] for aprovada, vamos terminar 2024 com equilíbrio fiscal previsto na peça orçamentária, que todos diziam que não está equilibrada. E eu dizia: está equilibrada e, se nós aprovarmos a [MP] 1.202, se a imprensa, que é beneficiada com a desoneração da folha tiver a compreensão de que é importante acreditar no Brasil, voltar a pagar tributos sobre a Previdência de seus funcionários, nós não estaríamos passando por essa coisa", afirmou, sobre o ajuste fiscal.

Globo lidera

Em campanha aberta para que os cortes no orçamento sejam feitos em áreas sociais, como Saúde, Educação e reajuste real do salário-mínimo, entre outros, a Globo, da família Marinho, lidera a lista, deixando de pagar mais de R$ 177 milhões com a isenção de impostos sobre suas empresas nos oito primeiros meses deste ano.

Principal CNPJ do clã Marinho, a Globo Comunicação e Participações S/A, que controla as empresas de mídia do conglomerado, deixou de recolher mais R$ 150 milhões com a desoneração da folha de pagamento - outra bandeira histórica defendida pelo grupo, que segue uma política de demissões e achatamento de salários.

A isenção de impostos a CLT beneficia ainda outras empresas do grupo, como a editora Globo, que deixou de recolher R$ 19,6 milhões no período, a Globo Conde Nast S.A., com R$ 1,2 milhão, e a Rádio Globo, com R$ 228 mil em isenções na área trabalhista.

Entre os conglomerados da mídia liberal, o grupo Record, de Edir Macedo, obteve benefício de R$ 29,9 milhões com a desoneração da folha de janeiro a agosto. Afiliadas também deixaram de pagar pequenas fortunas, com a Record Rio de Janeiro, que registrou R$ 4,7 milhões em taxas trabalhistas que não foram pagas.

A família Frias, do conglomerado Folha / Uol / PagBank, que faz coro pelos cortes sociais, também embarcou no trem da alegria. Somente a Folha da Manhã S.A., que edita o jornal do grupo, deixou de pagar R$ 6,9 milhões com a desoneração da folha no período divulgado.

A Compass.Uol Teconologia, que atua na área de Inteligência Artificial para outras empresas e que pertence à família Frias, deixou de recolher outros R$ 30 milhões.

Porta-voz dos interesses da burguesia paulista, o jornal O Estado de S.Paulo deixou em seus cofres R$ 12,7 milhões com a desoneração da Folha.

Até mesmo a Editora Abril, em um processo de desmonte, foi beneficiada com R$ 2,5 milhões - veja a lista por empresas.