MÍDIA E FASCISMO

Ajuste fiscal: a inacreditável definição de "mercado" feita por Merval Pereira para atacar Lula

Um dos porta-vozes do conluio entre sistema financeiro e mídia liberal na defesa de cortes em áreas sociais, Merval ainda cita economista cultuado por bolsonaristas para embasar sua tese "meritocrática" desse "tal de mercado"

Merval Pereira e os irmãos Marinho, da Globo.Merval Pereira e os irmãos Marinho, da GloboCréditos: Reprodução GloboNews / TV Globo
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Um dos principais porta-vozes do conluio entre o sistema financeiro e a mídia neoliberal nos achaques econômicos ao governo, Merval Pereira usou uma definição inacreditável para classificar "esse tal de mercado" - como ele mesmo define - e atacar Lula.

Em artigo no jornal O Globo, dos patrões do clã Marinho, Merval criticou as recentes declarações de Lula, que em entrevista à Rede TV no domingo (10), afirmou que tem debatido o ajuste fiscal para evitar cortes em áreas sociais, como a saúde e a educação, que são defendidas pelo sistema financeiro.

Lula disse ainda que os ajustes no orçamento são de responsabilidade dos três poderes, incluindo o Legislativo e o Judiciário, que precisam apontar cortes nas regalias, e não do mercado, que enxerga a questão apenas do ponto de vista especulativo, para acumular lucros.

"Eu estou num processo de discussão muito séria com o governo, porque eu conheço bem o discurso do mercado, conheço a gana especulativa do mercado", afirmou o presidente.

Para Merval, no entanto, Lula "erra ao transformar o mercado em vilão" e dispara sua definição de "mercado", buscando ensinar o presidente.

Segundo o colunista d'O Globo, o mercado "é, essencialmente, um instrumento democrático ao difundir informações e exprimir uma tendência da opinião pública".

Merval se esquece, no entanto, de dizer que o boletim Focus, "pesquisa" feita pelo Banco Central para projetar dados sobre a economia - como a inflação e o PIB -, se concentra na opinião de parcos 171 "analistas" ligados aos bancos e empresas do sistema financeiro.

Essa é a principal "voz" da "opinião pública", segundo Merval, que tenta ditar os cortes em ações e projetos que impactam diretamente a vida da maioria dos mais de 216 milhões de brasileiros.

Para sustentar sua tese da "opinião pública" do mercado, amplificada pela mídia neoliberal, Merval usa como esteio as ideias do economista Friedrich Hayek, um dos próceres da escola austríaca de pensamento econômico, que recrudesceu com o avanço da ultra direita neofascista no mundo e do bolsonarismo no Brasil.

Saudoso dos tempos de FHC e do tucanato, Merval ainda apela para dois "pais" do plano Real, para fazer uma defesa da "meritocracia", que parece saída das palestras do ex-coach Pablo Marçal (PRTB).

"A economia de mercado, na definição do economista Gustavo Franco, um dos 'pais' do Plano Real, feita numa palestra ao lado de outro 'pai' do Real, André Lara Resende anos atrás, “é subversiva numa sociedade do privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a meritocracia; e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um Estado cheio de vícios”. Meritocracia e competição 'são as mães da destruição criadora, a alma do capitalismo', definição do economista Joseph Schumpeter", diz, citando outro controverso economista liberal, para quem "o lucro é o motor de toda a atividade empreendedora".