Reportagem do Intercept revela que o prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), com o objetivo de melhorar sua péssima avaliação, já gastou quase R$ 3 milhões em publicações no Estúdio Folha, setor do jornal Folha de S. Paulo voltado para "produção de conteúdo ao mercado e às marcas", a fim de publicar "matérias" positivas sobre sua gestão.
Documentos obtidos pelo Intercept por meio da Lei de Acesso à Informação detalham os pagamentos feitos pela Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo ao jornal, cuja contratação foi intermediada pela agência de publicidade Propeg. Esta agência tem um contrato com a prefeitura de São Paulo no valor de R$ 200 milhões e está sob investigação do Ministério Público de São Paulo.
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De acordo com o levantamento, apenas em 2023, a prefeitura de São Paulo, por meio da agência Propeg, já repassou R$ 2,3 milhões à Folha. Em 2022, foram R$ 448 mil.
Como resultado, nos últimos dois meses, foram publicadas 61 reportagens em uma página criada pelo Estúdio Folha para a veiculação do conteúdo, que também é replicado nas redes sociais do jornal.
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Conteúdo pago
Os conteúdos patrocinados pela prefeitura de São Paulo são identificados por um pequeno logotipo do Estúdio Folha. Fora isso, não há qualquer menção de que se trata de um informe publicitário. Dessa maneira, a leitura desatenta acredita estar diante de uma matéria jornalística e não de um conteúdo publicitário.
Em sua defesa, o jornal Folha de S. Paulo alega "que todo produto realizado é identificado com a assinatura Estúdio Folha e o nome do patrocinador, com um tratamento gráfico distinto daquele do jornal".
A divulgação do Estúdio Folha diz o seguinte: "Com o rigor e a qualidade da marca da Folha da Manhã, o Estúdio Folha utiliza as ferramentas do jornalismo para oferecer conteúdo feito sob medida para marcas, em diferentes plataformas". Tal chamada comprova que o objetivo é transformar publicidade em "conteúdo jornalístico".
Contradição
Em 22 de junho de 2023, a seção de publicidade da prefeitura de São Paulo na Folha publicou a seguinte matéria: "Escolas e creches de São Paulo servem 2,3 milhões de refeições por dia", e o mesmo conteúdo afirma que a alimentação oferecida nas escolas é "premiada internacionalmente".
No entanto, em 26 de maio, a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem, feita por seus repórteres e não pelo Estúdio, com a seguinte matéria: "Com R$ 35 bi em caixa, Prefeitura de SP deixa merenda escolar sem feijão".
A respeito do prêmio recebido pela merenda oferecida nas escolas, ele aconteceu de fato: a capital paulista A respeito do prêmio recebido pela merenda oferecida nas escolas, ele aconteceu de fato: a capital paulista venceu o C40 Cities Bloomberg Philanthropies 2022 na categoria "Unidos para inovar" em outubro de 2022, com o projeto "Cardápio Escolar Sustentável" da Secretaria Municipal de Educação. Essa ação prevê a compra de produtos provenientes da agricultura familiar.
Porém, o conteúdo pago publicado na Folha de S. Paulo "esqueceu" de informar que a aquisição dos alimentos se dá mediante o cumprimento da Lei 16.140/2016, sancionada pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).
A lei sancionada por Fernando Haddad estabelece que 30% da alimentação escolar venham da agricultura familiar, e essa iniciativa rendeu o mesmo prêmio à gestão petista em 2016. No entanto, esse fato também foi ocultado na publicação da prefeitura de São Paulo na Folha de S. Paulo.
Contrato sob investigação
O contrato da prefeitura de São Paulo com a agência Propeg está sob investigação do Ministério Público de São Paulo, que apura possíveis irregularidades em uma alteração que resultou em um aumento de 25% no valor do contrato inicial. O contrato, que originalmente era de R$ 160 milhões, foi ajustado para R$ 200 milhões.
Aliança com Bolsonaro
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) vai disputar um novo mandato; para isso, ele tem articulado o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu partido, o PL. Essa aproximação lhe rendeu o apelido de "BolsoNunes".
Um dos nomes cotados para a vice na chapa de Ricardo Nunes é o da ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, atualmente sem partido.
A íntegra da reportagem do Intercept pode ser lida aqui.