A guerra de narrativas em torno da operação da Polícia Federal contra membros do Primeiro Comando da Capital, o PCC, que planejavam ataques a autoridades e levou Sergio Moro ao centro de um novo embate com o presidente Lula ganha contornos cada vez mais misteriosos - e que pesam na hipótese de armação, levantada pelo mandatário na última terça-feira (21).
VEJA VÍDEO: Gabriela Hardt autorizou ação contra PCC 34 minutos após declaração de Lula, diz ministro
Te podría interesar
Além de atacar a hipótese de Lula, setores da mídia alinhada à Lava Jato, que aderiram ferrenhamente ao bolsonarismo, divulgaram um suposto documento nesta sexta-feira (24) que mostraria uma doação do PCC ao The Intercept Brasil.
O site The Intercept Brasil foi o veículo responsável pela Vaza Jato, que expôs, por meio de mensagens de Telegram, o conluio e as armações de procuradores da Lava Jato, do ex-juiz Sergio Moro e de jornalistas cooptados para levar adiante o lawfare que resultou na prisão de Lula - e mais adiante na eleição de Jair Bolsonaro (PL), que alçou o ex-juiz ao cargo de "super ministro" da Justiça.
Te podría interesar
Coube a Marc Sousa, âncora da TV Record e jornalista da Jovem Pan em Curitiba divulgar o suposto documento que, segundo ele, "indicam pagamentos do Primeiro Comando da Capital, PCC, ao The Intercept Brasil” em seu blog, 8h30 desta sexta, horas antes de entrevistar Moro em seu programa na Record.
A informação foi reverberada por veículos criados na esteira do gabinete do ódio, como a revista Oeste, que tem em seu conselho editorial nomes como Augusto Nunes e como "repórter especial" Silvio Navarro, que atuaram por anos na Jovem Pan.
A acusação foi refutada pelo The Intercept Brasil que em nota assinada pelo presidente, Andrew Fishman, negou o recebimento de dinheiro da facção e expôs o "jogo sujo" da mídia lavajatista - leia a íntegra aqui.
O documento foi analisado pela equipe de Mario Gazziro, professor de computação forense da Universidade Federal do ABC e no MBA na USP, que comprovou que há 95% de chances de que houve adulteração digital.
"Resolvemos fazer a análise digital da imagem apresentada pelo site e encontramos grave indício de manipulação digital pela técnica ELA (error level analysis), usando o software forense chamado Sherloq (disponível no github)", disse Gazziro à Fórum.
Segundo ele, a análise mostra pelo menos 3 linhas adulteradas "e não me refiro apenas ao contorno em vermelho adicionado à edição, pois o padrão azul indica que o conteúdo dentro dessas linhas não é compatível com o padrão de artefatos de compressão do resto da imagem, demonstrando claramente (e com validade em tribunal) que esse conteúdo foi substituído ou editado".
Entre as linhas que apresentam adulterações, está justamente a que mostra a suposta doação ao The Intercept Brasil.
"As regiões em azul foram destacadas após aplicação de um filtro conhecido como analise ELA a 95% que destaca regiões as quais não seguem o mesmo padrão de artefatos de compressão do restante do documento, provando que aqueles trechos sofreram adulteração digital", afirma o especialista em relação às imagens abaixo, submetidas ao software usado pela justiça para detectar fraudes digitais.
Segundo Gazziro, a análise foi enviada a outros especialistas, que concordaram que "a imagem postada foi adulterada digitalmente".
"Que houve edição, houve. A impressão que se tem é que havia um texto por trás maior e foi substituído. As linhas Projeto M Parte I e Parte II e The Intercept tinham coisas escritas mais pra frente que foram apagadas. Isso dá pra gente ver também, pelos artefatos. Aquele texto com certeza foi adulterado. Agora nos resta saber o motivo", disse o professor da USP.