O ator Pedro Cardoso participou nesta sexta-feira (24) de um debate ao vivo no programa "CNN Arena", da CNN Brasil, e não só comentou assuntos em alta no noticiário político brasileiro, como a operação da Polícia Federal que desbaratou quadrilha que estaria planejando o assassinato de Sergio Moro (UB-PR) ou ainda a confirmação de Dilma Rousseff como nova presidenta do Banco dos Brics (Novo Banco do Desenvolvimento), como também aproveitou para dar uma "aula de jornalismo" aos apresentadores e criticar a maneira como a emissora pauta os acontecimentos.
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O pito no modus operandi do canal de televisão veio quando Cardoso foi convocado a fazer considerações sobre a qualificação de Dilma para assumir a presidência do banco do bloco formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Neste momento, o GC (frase fixada em uma barra na tela) continha a seguinte frase: "Dilma vai ganhar R$ 5,2 mi para presidir banco do Brics. Lula acerta para indicar ex-presidente para o cargo?".
O ator, então, disparou:
"Eu não sou um especialista nos assuntos que vocês estão tratando, eu sou um ator. Quero apenas dizer uma coisa a respeito do que estamos vivendo aqui. O público, quando está diante de um programa como esse que estamos participando, está diante, na minha opinião, de 2 notícias. A notícia que está dita, que é a notícia. Essa é uma notícia evidente. E a outra notícia que não é tão evidente para o público, que é a notícia de que isso está sendo notícia neste veículo, por esta empresa, por estas pessoas. Essa notícia que não é tão evidente para o público, esse acontecimento é dado ao público como se fosse quase espontâneo, como se não houvesse por trás da eleição deste tema um interesse de falar desse tema, como aqui está se gastando 15 minutos pra avaliar se a Dilma é ou não qualificada pro cargo que ela foi indicada, que é um assunto complexo. O público fica refém dessa naturalidade como se isso fosse uma espontaneidade. Me ocorre alertar o público de que toda vez que você está diante de uma narrativa, existe o fato narrado e a intenção do narrador. Então, diante deste programa, me ocorre sugerir ao público que se pergunte, o que é que o narrador deste programa quer narrando os fatos do modo como está narrando. O que que esta empresa CNN Brasil, quem é o dono dela, qual eleição que o dono fez desse elenco de profissionais, por qual razão eu fui convidado para estar aqui (...) Todas essas questões que são invisíveis ao público elas são fundamentais para que o público desperte em si mesmo uma crítica daquilo que é permanentemente narrado, para só depois entrar no tema"
Em outro momento, ao tratar sobre a trama envolvendo Sergio Moro e a repercussão na imprensa, o ator não poupou críticas ao ex-juiz que hoje exerce o cargo de senador e também à forma como os veículos de comunicação lidam com o caso.
"Me causa espanto. Acho que o Brasil está profundamente adoecido moralmente. Por que estamos aqui falando há 10 minutos de uma pessoa chamada Sergio Moro e ele está sendo tratado aqui como se fosse uma pessoa que merecesse todo o nosso respeito, uma pessoa muito digna, muito correta, enquanto que ele é uma pessoa que tramou junto a um acusador para colocar uma pessoa na cadeia. E apenas porque nossa democracia é juridicamente muito imperfeita, ele logrou a virar senador da República. Então, é feita uma ameaça à vida dele, que é um fato profundamente lamentável, ninguém tem que ser ameaçado de coisa alguma. Mas me desculpem. Milhões de brasileiros são ameaçados de morte todos os dias pela pobreza em que vivem, pela proximidade que são obrigados a viver com o crime organizado, e agora esse homem moralmente desqualificado recebe toda essa atenção porque ele agora foi vítima de uma ameaça também. Pera lá! Eu acho isso uma doença brasileira. Eu estou preocupado com milhões e milhões de outras pessoas que estão permanentemente ameaçadas e que não serão noticiadas nem aqui e nem em lugar nenhum. Há uma questão de linguagem. O fascismo brasileiro ele exerce domínio sobre a consciência do povo ao controlar os discursos"
E prosseguiu:
"Quando eu fiz um comentário a respeito do nosso próprio programa, do que estamos fazendo aqui, é um convite a vocês, que são profissionais disso, eu não sou, que reflitam sobre essa prática onde simula-se algo que é muito semelhante a um diálogo, mas que na verdade é uma sucessão de monólogos. E eu explico: o diálogo pressupõe um sincero interesse no pensamento do outro. Se nenhum de nós aqui temos sincero interesse no pensamento do outro, nós vamos apenas ouvir, esperar nossa vez de falar e então confirmar aquilo que sempre achamos, porque não estamos nos deixando modificar em momento algum pelo pensamento do outro".
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