ESTADÃO

Estadão assume disfarçadamente erro da cobertura do caso "dama do tráfico"

Comunicado foi feito por email em nota interna para a redação; até o momento, não há nenhuma retratação pública por parte do jornal

Luciane Barbosa.Créditos: Instagram
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A direção do Estadão mandou e-mail na manhã desta quinta-feira (16), para seus jornalistas a respeito de normas internas na atribuição de crimes a personagens de suas reportagens. Sem citar o caso, o email tem relação clara com a péssima repercussão da matéria envolvendo Luciane Barbosa Farias, a Luh Farias, que foi chamada pelo jornal de “Dama do Tráfico”.

Segundo a mensagem, o veículo afirma estar “padronizando e aperfeiçoando nossas regras e jornalismo para melhorar a qualidade do conteúdo que produzimos. Apresentamos a seguir novas orientações, que passam a valer a partir de agora”.

A seguir, a mensagem diz que “as reportagens do Estadão não podem imputar crimes a pessoas com base na apuração de ouros veículos ou simplesmente em off. Na maior parte dos casos, não temos como checar a qualidade da apuração dos concorrentes. Se eles erram, erramos também. A mesma coisa com fontes anônimas. Se elas falham, a falha passa a ser nossa”.

“Reforçamos que nossos profissionais devem ser extremamente cuidadosos em reportagens que atribuem crimes a pessoas, empresas, entidades etc.”, diz o texto. “Portanto, a regra geral é: no Estadão, a imputação de crime só pode ser feita com acesso de nossa reportagem ao inquérito sobre o caso. Se não for possível ter a cópia do processo, ao menos uma leitura atenta, com a anotação do número do inquérito ou documento equivalente, para nossa segurança”, encerra.

O e-mail é assinado por David Friedlander, Leonardo Mendes e Euripedes Alcântara e foi divulgado pelo jornalista Leandro Demori em sua conta do X, antigo Twitter. Veja abaixo:

Jornalista admitiu

Luciane Barbosa foi absolvida em primeira instância por tráfico de drogas. Ela foi condenada em 2ª instancia em outubro, portanto meses depois de ter ido ao ministério da Justiça, em março, e recorre em liberdade. O jornal não foi claro com relação a isso.

Além disso, um dos autores do factóide criado pelo Estadão para atacar o ministro da Justiça, Flávio Dino, o jornalista André Shalders admitiu nas redes sociais que a alcunha de "dama do tráfico" para definir Luciane Barbosa Farias, presidenta da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, foi inventada por ele a partir da declaração de uma fonte.

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"Estou respondendo a todo mundo porque tenho como provar tudo o que escrevei. Quanto ao 'dama do tráfico', foi uma expressão usada por uma fonte. Achei peculiar e coloquei no texto", comentou Shalders em resposta a Cynara Menezes, da Fórum, na rede X, antigo Twitter.

O jornalista, no entanto, apagou a publicação em seguida.

Cynara já havia adiantado que não há quaisquer registro na imprensa amazonense ou nos órgãos de investigação dando o rótulo à Luciane Barbosa Farias, que é esposa de  Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que seria ligado Comando Vermelho. 

No entanto, Luciane já afirmou que não faz parte da facção criminosa. Ela foi escolhida pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas (CPTEC-AM) para participar de encontro do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília.

Luciane também esteve na Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça acompanhando a ex-deputada Janira Rocha, vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ, no dia 19 de março. E no dia 2 de maio, e encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

À época, ela não tinha condenações na Justiça e chegou a ser absolvida por "ausência/fragilidade de provas" em processo sobre tráfico de drogas. 

"Fui absolvida na primeira instancia, isso os jornais não estão mostrando", escreveu no Instagram. Condenada em segunda instância somente no mês passado, ela recorre em liberdade.