Pela primeira vez em mais de duas décadas, a China está colocando mais dinheiro em projetos de energia limpa no exterior do que em combustíveis fósseis. A mudança marca uma virada importante na forma como o país se posiciona no cenário global da energia.
De acordo com um levantamento da Universidade de Boston, entre 2022 e 2023, 68% dos investimentos chineses em energia fora do país foram direcionados para projetos solares e eólicos. Antes disso, entre 2000 e 2021, esse número era de apenas 13%. Grande parte dos recursos até então ia para usinas a carvão, especialmente dentro da Iniciativa do Cinturão e Rota, lançada em 2013.
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A análise mostra que a China está cumprindo a promessa feita em 2021 de não financiar novas termelétricas a carvão no exterior. No entanto, projetos iniciados antes desse compromisso ainda estão em andamento e devem emitir dióxido de carbono por muitas décadas. Juntas, essas usinas poderão liberar anualmente uma quantidade de carbono semelhante à da Áustria.
Ainda que o foco tenha mudado para fontes renováveis, o volume total de investimentos no setor de energia caiu em relação ao auge, em 2016. Foram financiados 3 gigawatts em energia solar e eólica nos dois últimos anos, bem abaixo da média anual de 16 gigawatts registrada entre 2013 e 2019.
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A maior parte desses novos investimentos está concentrada na Ásia e nas Américas. Apenas 4% foram para países africanos, segundo o cientista de dados Diego Morro, da Universidade de Boston. Ele observa que a desaceleração da economia chinesa, - agravada por problemas no setor imobiliário, alto desemprego e endividamento local - ajuda a explicar a redução geral nos aportes internacionais.
No entanto, o governo chinês anunciou em 2024 um novo pacote de US$ 51 bilhões para apoiar o desenvolvimento africano, com a construção de 30 projetos de energia de baixo carbono nos próximos três anos. Apesar da queda no investimento estatal direto, empresas privadas e estatais chinesas vêm aumentando suas atividades no exterior, especialmente no setor de energia limpa.
Ao mesmo tempo, a China segue ampliando sua capacidade de geração de energia a carvão dentro do próprio território. Só em 2023, foram iniciadas obras para 94 gigawatts de novas usinas termelétricas, enquanto o restante do mundo somou apenas 7,4 gigawatts.
O presidente Xi Jinping tem reforçado a imagem da China como líder global na transição energética. Em discurso recente na ONU, ele afirmou que o país construiu o maior sistema de energia renovável do mundo e defendeu que tecnologias e produtos verdes possam circular livremente, especialmente para beneficiar nações em desenvolvimento.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump adotou uma linha diferente. Desde que voltou ao cargo em 2025, retirou novamente o país do Acordo de Paris, cortou a ajuda externa e incentivou a produção de combustíveis fósseis. Mesmo assim, por meio da Corporação Financeira para o Desenvolvimento Internacional (IFD), criada em 2019, os EUA continuam tentando competir com a China em investimentos estratégicos em infraestrutura e minerais no exterior.
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