Desde o dia seguinte ao início da atual rodada de conflitos entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, a China manifestou profunda preocupação com a escalada das tensões na região palestina.
Em 8 de outubro de 2023, a diplomacia chinesa condenou veementemente os atos que resultaram em vítimas civis e reiterou a posição de Pequim em apoiar uma solução política baseada na coexistência pacífica de dois Estados.
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No dia 16 de outubro de 2023, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, reforçou a urgência de um cessar-fogo imediato e o retorno das partes ao diálogo. O chanceler enfatizou a necessidade de estabelecer um canal humanitário de emergência para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior.
No mesmo período, a China também intensificou seus esforços diplomáticos para mediar a crise. Em 23 de julho de 2024, a potência asiática facilitou a assinatura da Declaração de Pequim, um acordo de reconciliação entre as facções palestinas Fatah e Hamas, com o objetivo de fortalecer a unidade nacional palestina e avançar na criação de um Estado palestino independente.
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Apesar desse histórico, o Financial Times destacou como inédita a condenação explícita do ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023 pelo embaixador chinês em Israel, Xiao Junzheng, em entrevista a um podcast israelense, na qual classificou o ataque como ultrajante.
Em coletiva de imprensa realizada pelo Ministério das Relações Exteriores da China nesta quarta-feira (21), a porta-voz Mao Ning foi questionada por um repórter do jornal britânico sobre essa declaração do diplomata chinês.
Mao Ning afirmou que, no conflito palestino-israelense, a China sempre se posicionou em favor da justiça e da equidade. Ela ressaltou que o conflito em Gaza já dura mais de um ano e meio e gerou uma grave crise humanitária.
“Não é do interesse de ninguém permitir que essa situação continue. Nem israelenses nem palestinos devem ser alvos de ataques armados ou de punições coletivas. Violência por violência apenas perpetuará um ciclo interminável de vingança, e serão os civis de ambos os lados que continuarão sofrendo e arcando com as consequências”, declarou.
A porta-voz assegurou que a China seguirá trabalhando incansavelmente com a comunidade internacional para promover um cessar-fogo e aliviar a tensão humanitária na região.
Entrevista do embaixador chinês em Israel
No dia 12 de maio, o embaixador da China em Israel, Xiao Junzheng, qualificou o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 como “desumano, imperdoável e ultrajante” e manifestou a posição clara de condenação da China contra as ações do grupo.
Ele ressaltou que a única forma de pôr fim ao ciclo de violência entre israelenses e palestinos é por meio da solução de dois Estados, com coexistência pacífica entre os povos judeu e árabe. Assista aqui à entrevista (em inglês).
Direito de se defender
Em 22 de fevereiro de 2024, a China fez um pronunciamento histórico na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, nos Países Baixos, ao afirmar que o povo palestino que vive sob a ocupação israelense tem o direito de recorrer à violência para alcançar a autodeterminação. Segundo Pequim, é preciso diferenciar a luta armada legítima dos atos de terrorismo.
“O povo palestino recorre à força para resistir à opressão estrangeira e para completar o estabelecimento de um Estado independente. É um direito inalienável e bem fundamentado no direito internacional. Várias pessoas se libertaram do domínio colonial e da opressão estrangeira para alcançar a independência após a Segunda Guerra Mundial. Suas práticas servem como provas convincentes desse direito”, argumentou o embaixador chinês Ma Xinmin.
O representante de Pequim defendeu ainda que a ocupação israelense é ilegal e que a China apoia a solução de dois Estados — um israelense e outro palestino — a ser alcançada por meio de negociações. Além disso, argumentou que a potência ocupante não tem direito à autodefesa dentro dos territórios ocupados.
A declaração da China ocorreu em audiência pública da CIJ, o principal órgão jurídico da Organização das Nações Unidas (ONU). O tribunal foi provocado pela Assembleia Geral da ONU a se manifestar sobre a ocupação israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que dura desde 1967.
Crescente condenação internacional a Israel
Desde a intensificação dos ataques ao longo deste mês de maio, a comunidade internacional tem se manifestado com forte indignação contra as operações militares de Israel na Faixa de Gaza. Países e organizações multilaterais qualificam as ações israelenses como genocídio e exigem cessar-fogo imediato, além do acesso irrestrito à ajuda humanitária.
O Brasil, por meio do Ministério das Relações Exteriores, condenou em nota oficial, datada de 21 de maio de 2025, a ofensiva israelense que já causou a morte de mais de 300 palestinos, incluindo mulheres e crianças, e deslocou mais de 60 mil pessoas.
O Itamaraty denunciou a intenção israelense de restringir o ingresso de alimentos e medicamentos em Gaza, classificando o uso da fome como método de guerra, crime contra a humanidade. O país reforça o apelo por cessar-fogo, retirada das tropas israelenses e libertação dos reféns. O governo brasileiro mantém firme apoio à solução de dois Estados como único caminho legítimo para a paz.
Na Europa, Reino Unido, França, Canadá e Espanha se posicionaram criticamente contra Israel. Londres suspendeu negociações comerciais e aplicou sanções a colonos na Cisjordânia; França, Reino Unido e Canadá condenaram a ofensiva como "desproporcional" e ameaçaram sanções; e a Espanha aprovou uma lei que estabelece embargo automático de armas a países acusados de crimes contra a humanidade, incluindo Israel.
No mundo árabe e na África, o presidente egípcio Abdel-Fatah al-Sisi classificou a campanha israelense como "crimes sistemáticos", e o premiê iraquiano Mohammed Shia al-Sudani acusou Israel de genocídio. A África do Sul formalizou denúncia contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça por genocídio em Gaza, com apoio de países como Cuba, Chile, Bolívia e Turquia.
Organizações internacionais também intensificaram críticas severas. Anistia Internacional qualificou o episódio como “genocídio transmitido ao vivo”, destacando a destruição de infraestruturas civis e milhares de mortes. A Human Rights Watch denunciou a negação de água e alimentos à população de Gaza como crime contra a humanidade.
A ONU classificou a situação como “além da descrição, atroz e desumana”, ressaltando que a proposta israelense de controle sobre Gaza viola princípios humanitários básicos.
Críticas em Israel
No cenário interno israelense, a tensão política aumentou. O líder da oposição, Yair Golan, ex-general e chefe do partido The Democrats, gerou controvérsia ao afirmar, em entrevista à emissora pública Kan, que o Exército de Defesa de Israel (IDF) estaria matando bebês em Gaza “como um passatempo” e alertou que o país pode se tornar um “estado pária” caso não mude sua postura.
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A declaração provocou reação imediata do governo israelense. O premiê Benjamin Netanyahu acusou Golan de incitação violenta e propagação de “libelo sanguinário antissemita”, equiparando suas palavras a antigas acusações medievais contra judeus. O chefe do Estado-Maior do IDF, Eyal Zamir, defendeu a moralidade das ações militares.
Golan esclareceu que suas críticas eram ao governo, não ao exército, e que buscava alertar sobre a direção perigosa do país diante de declarações de ministros de extrema direita que celebravam o sofrimento de crianças em Gaza. Em resposta, membros do partido Likud apresentaram projeto de lei no Knesset para destituir militares e agentes de segurança que incitem à desobediência.
Em duas semanas, Israel matou 804 pessoas, média diária de 57 mortos. Desde 7 de outubro de 2023, ataques na Faixa de Gaza mataram mais de 53 mil palestinos e deixaram outros 121 mil feridos.