Pesquisadores identificaram que camundongos demonstram comportamentos semelhantes a primeiros socorros ao encontrarem outro roedor inconsciente. Segundo um estudo publicado em 21 de fevereiro na revista Science, os animais tentam reanimar seus companheiros por meio de lambidas no rosto e até puxando suas bocas ou línguas.
A pesquisa revelou que essas ações eram mais intensas quando os camundongos já haviam passado mais tempo juntos, resultando em uma recuperação acelerada do indivíduo afetado. Entre os comportamentos observados, estavam desde a simples lambedura até puxões na boca e mordidas, indicativos de uma tentativa de estimular o retorno à consciência.
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"A descoberta mais notável deste estudo é a existência de respostas instintivas em situações de emergência, com os camundongos buscando reanimar parceiros inconscientes ou até recém-falecidos. Este é o primeiro registro documentado de um comportamento similar à ressuscitação nesses animais, sem que eles tenham sido treinados para isso", afirmou Wenjian Sun, pesquisador da University of Southern California e autor principal do estudo, em entrevista à Live Science.
De acordo com Sun, a assistência a outros indivíduos debilitados já foi documentada em várias espécies, incluindo elefantes, primatas não humanos e golfinhos. No entanto, comportamentos específicos como puxar a língua e morder a boca não haviam sido registrados antes.
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Os cientistas analisaram como dezenas de camundongos reagiam ao serem expostos a outro indivíduo em estado de necessidade, seja ele estressado ou inconsciente. Quando o companheiro estava desacordado, os roedores dedicavam mais tempo ao contato físico, com a intensidade dos gestos aumentando progressivamente ao longo da interação. Em média, os camundongos gastaram 47% de um teste de 13 minutos interagindo com o parceiro inconsciente, com um aumento gradual na intensidade da estimulação, indo de lambidas a mordidas e puxões na boca. Em mais da metade dos casos analisados, os camundongos puxaram a língua do parceiro inconsciente.
Outro dado relevante é que os animais não precisavam de estímulos visuais para detectar o estado inconsciente de seus companheiros. Mesmo em condições de escuridão, os roedores iniciavam o comportamento de limpeza e estímulo, sugerindo que a percepção do estado do outro era feita por outros sentidos.
O estudo também revelou que essas interações estavam associadas a uma recuperação mais rápida. Quando o camundongo inconsciente despertava, o comportamento do socorrista cessava imediatamente, reforçando a hipótese de que os roedores são capazes de reconhecer o estado de inconsciência e responder de maneira instintiva.
Apesar dessas descobertas, os pesquisadores ainda não determinaram exatamente por que os camundongos exibem esse comportamento. "Não podemos descartar a hipótese de que esses atos sejam impulsionados por instintos evolutivos, em vez de uma intenção consciente de socorro", ponderou Sun.
Outro estudo, também publicado na Science, investigou os mecanismos cerebrais associados a essa resposta. Cientistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, descobriram que o comportamento de limpeza parece estar ligado à liberação de ocitocina, hormônio relacionado à formação de vínculos sociais, ao sexo e ao parto. A ativação de áreas do cérebro como a amígdala e o hipotálamo parece estar diretamente envolvida nessa resposta.
"Quando inibimos a atividade dos neurônios de ocitocina ou bloqueamos seus receptores, observamos uma redução significativa nesse comportamento de emergência. Isso confirma o papel essencial da ocitocina, frequentemente chamada de 'hormônio do amor', na formação de laços sociais e no desencadeamento dessa resposta", explicou Sun.
Os pesquisadores pretendem continuar investigando os circuitos neurais envolvidos nesse comportamento para compreender melhor como essa resposta instintiva se desenvolve e se manifesta nos camundongos
*Com informações de Revista Science e Lives Science