As Planícies de Konya, localizadas na região da Anatólia Central, na Turquia, são conhecidas como "os celeiros do país". São áreas férteis — embora marcadas por um bioma semiárido — que cobrem a maior parte da Bacia de Konya, onde está o Lago Tuz, um dos maiores lagos salgados do mundo.
A região é lar de fazendeiros que sobrevivem da criação de gado e da agricultura (cultivam trigo, cevada, beterraba e outros vegetais).
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Foi ali que, há mais de 10 anos, grandes crateras se abriram no solo, em um ritmo cada vez mais acelerado, com diâmetros assustadores e até 150 metros de profundidade. As crateras se abriam sem um padrão definido, alcançando regiões produtivas, aldeias e até os celeiros de fato.
Um aspecto da vegetação de Konya é elementar para explicar o mistério desses buracos: a planície está repleta de aquíferos subterrâneos, que compõem seus sistemas de irrigação.
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O uso extensivo de água subterrânea para as atividades agrícolas, combinado aos longos períodos de seca a que a região está sujeita, envolvida pelo clima semiárido da região central da Turquia, iniciou esse processo bizarro na paisagem: o surgimento de enormes "buracos no chão", com os maiores medindo mais de 100 metros de profundidade.
Esses buracos começaram a surgir há pelo menos dez anos, e desde então têm se espalhado na região de forma alarmante. Ao todo, os cientistas já estimaram que há mais de 2.500 buracos abertos no entorno da Bacia de Konya, ameaçando a vida dos fazendeiros locais e mudando a composição do solo.
Eles se alastram por campos de plantação de milho, alguns já atingiram aldeias, e todos eles têm uma forma cilíndrica. Um residente local disse ao veículo ABC News que um desses buracos gigantes se abriu bem no meio de seu celeiro, onde ele cria ovelhas. E, embora ele tenha começado a construir um outro galpão no lado oposto de onde o celeiro foi atingido, outros buracos tendem a aparecer com o tempo, em proporções cada vez maiores.
Causas
Nos últimos dez anos, os agricultores de Konya têm aberto diversos poços sem autorização legal, a fim de ajudar na atividade de plantio e de baratear os custos da irrigação. Isso, apontam especialistas, contribuiu com o aumento da irrigação subterrânea, e, somado às ações das mudanças climáticas sobre a região, que a tornam mais árida e têm aumentado o período de secas, levam a um colapso generalizado da terra sobre as reservas aquíferas.
Isso porque esses grandes buracos nascem, primeiro, subterrâneos. À medida que "o suporte para o solo que está acima dos buracos subterrâneos diminui, a terra desmorona, criando um 'sumidouro'", explica uma reportagem do jornal Turkiye Today.
Quando as secas diminuem o nível de água subterrânea, o colapso da terra sobre a área em que a pressão diminuiu acontece. O resultado são as cerca de 2.700 deformações já avistadas ao longo das planícies, em pelo menos cinco regiões. Elas variam em profundidade e tamanho, mas ameaçam afundar toda a área com a velocidade alarmante com que surgem e se espalham.
De acordo com um cientista ouvido pelo Global Times, a Fetullah Arik, chefe do centro de pesquisa dedicado a estudar esse fenômeno na Universidade Técnica de Konya, eles são consequência, principalmente, dos "maus hábitos agrícolas" adotados na região, e estudos mostram que já se expandem para áreas de geração energética.
Desde a década de 1960, o nível de água subterrânea caiu pelo menos 45 metros na bacia de Konya, afirma Arik.
"A Turquia está passando por uma seca em meio ao aquecimento global, e a maioria dos lagos do país sofreu um recuo nos últimos anos".
A maneira mais eficaz para lidar com o fenômeno seria controlar o uso da água subterrânea e monitorar seus níveis. Mas a tendência é que os buracos continuem a ocorrer.
Agricultores e pequenas comunidades locais agora precisam lidar com o desgaste acelerado de suas regiões e seus modos de vida em meio a um mundo mais quente, seco e geologicamente frágil.