Há quase 96 anos, um arqueólogo austríaco, Josef Keil, desvelou um esqueleto completo descoberto em um sarcófago de Éfeso, uma das cidades mais importantes da Antiguidade greco-romana, fundada no século 5 a.C., na região em que hoje é a Turquia.
O túmulo em que estava o esqueleto foi encontrado, em 1929, em uma espécie de santuário destinado ao enterro de figuras heroicas, no Octógono de Éfeso..
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O esqueleto parecia pertencer a uma figura de origem aristocrática, e, em 1990, cientistas levantaram a suspeita de que a ossada poderia pertencer a uma figura histórica da cultura romana: Arsinoë IV, a rainha do Chipre e irmã de Cleópatra, que fora assassinada naquela região por volta de 41 a.C., a mando de Marco Antônio.
Um importante oficial militar e aliado de Júlio César, Marco Antônio formou, durante seu tempo no Egito, uma aliança política e amorosa com Cleópatra VII, que se tornou sua amante. Acredita-se que ele tenha ordenado a execução de Arsinoë IV a pedido de Cleópatra, que a via como uma ameaça ao seu poder e potencial rival ao trono do Egito.
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Por conta da origem e das características físicas do esqueleto, que parecia pertencer a uma mulher em torno dos 20 anos de idade, a crença de que aquele poderia ser o túmulo da irmã de Cleópatra permaneceu no imaginário de pesquisadores durante décadas.
Mas um estudo recente, publicado na última sexta-feira (10) na revista Nature, finalmente pôde identificar detalhes mais claros sobre a ossada, que foi desmentida como os reminiscentes de Arsinoë IV por um motivo inexorável: ela pertencia, na verdade, a uma pessoa do sexo masculino.
O esqueleto era de um garoto que poderia ter morrido entre seus 11 e 14 anos de idade, nota o estudo, coordenado pelo Departamento de Antropologia Evolucionária da Universidade de Viena.
Por meio de uma tomografia computadorizada do crânio do esqueleto, que fora levado por Keil à Alemanha após a descoberta para ser analisado, além de amostras de raio X, os pesquisadores reconstruíram um modelo em 3D capaz de analisar sua estrutura e formação.
Análises do ouvido interno do crânio foram responsáveis por determinar a idade genética do indivíduo, e a datação de carbono dos ossos indicam que se trata, de fato, de alguém que viveu entre 36 e 205 a.C.
Mas, ao contrário do que se imaginava, a pessoa a quem o crânio e os ossos pertenciam tinha a presença do cromossomo Y, e estava na puberdade (o que foi confirmado por imagens das raízes dentárias, além da base do crânio, que ainda estavam em desenvolvimento até sua morte).
Os pesquisadores apontaram, ainda, que se tratava de alguém com "sérios problemas de desenvolvimento", já que o crânio tem um formato assimétrico, que pode se dever à carência de vitamina D ou a uma síndrome de via genética.
"A conexão com Arsinoë IV pode ser excluída, porque confirmamos que o indivíduo é do sexo masculino", dizem os pesquisadores. "O destino do corpo de Arsínoe IV, que teria sido morta em 41 aC em Éfeso, permanece em aberto. Por outro lado, as investigações sobre o destino e a origem social do menino do octógono agora podem prosseguir sem especulações."