Este país quer se tornar vegetariano, ou quase

Projeto de transição para alimentação baseada em vegetais tem se demonstrado essencial para redução dos impactos ambientais da pecuária

Créditos: Pxhere
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Alimentos à base de plantas podem ser o futuro da alimentação, é o que tem defendido o atual ministro da Agricultura da Dinamarca, Jacob Jensen, do partido Liberal. O país, que tem uma das maiores produções de carne per capita do mundo e uma indústria de laticínios reconhecida, apresentou seu primeiro plano de ação voltado para produtos de origem vegetal.

O plano, lançado em outubro de 2023, conta com um investimento governamental de €170 milhões e tem como objetivo reduzir a pegada climática do setor agrícola. Segundo Jensen, a transição para uma alimentação mais baseada em vegetais é essencial para mitigar os impactos ambientais da pecuária. O programa inclui incentivos para produção e comercialização de alimentos à base de plantas, além do financiamento de um curso de formação para chefs especializados em culinária vegana.

A pecuária é responsável por cerca de 12% a 20% das emissões globais de gases de efeito estufa, tornando a redução do consumo de carne e laticínios uma medida necessária para conter a crise climática. No entanto, propostas similares enfrentam forte resistência em diversos países, gerando protestos de agricultores contra políticas ambientais mais restritivas. Diferente dessas abordagens polarizadas, a Dinamarca buscou construir um consenso em torno do tema.

Rune-Christoffer Dragsdahl, líder da Sociedade Vegetariana da Dinamarca, explica ao The Guardian que o diálogo cuidadoso e a ênfase nas oportunidades econômicas foram fundamentais para a aceitação do plano. Em vez de impor restrições, a estratégia focou na criação de novas oportunidades para produtores rurais e empresários do setor alimentício.

A cooperação entre ambientalistas e representantes do agronegócio também foi crucial. O Conselho Dinamarquês de Agricultura e Alimentação (DAFC) trabalhou junto à Sociedade Vegetariana para desenvolver a estratégia. Anders Martin Klöcker, diretor de inovação do DAFC, reconhece que a transição não foi simples, pois a pecuária tem uma presença histórica forte no país. No entanto, ele enfatiza que o objetivo do plano não é excluir a produção de carne, mas sim ampliar o mercado para alimentos vegetais.

Mudanças 

O plano dinamarquês já começou a gerar mudanças. O Copenhagen Hospitality College inaugurou um curso especializado em culinária baseada em vegetais, enquanto restaurantes e cantinas investem cada vez mais em opções sem carne. Programas de treinamento também foram implementados para ensinar técnicas de preparo de pratos à base de leguminosas e outros vegetais.

Zenia Stampe, do partido Social Liberal, alerta que, apesar dos avanços, a pecuária ainda recebe um volume de subsídios maior do que a produção de alimentos vegetais. Ela argumenta que uma transformação real exigirá mudanças mais profundas no modelo de produção e consumo alimentar.

O compromisso dinamarquês com uma alimentação mais sustentável já começa a influenciar outros países. Portugal, por exemplo, anunciou recentemente a criação de um plano de ação para dietas de baixo carbono. Além disso, a Dinamarca pretende levar essa discussão para a União Europeia, especialmente quando assumir a presidência rotativa da Comissão Europeia em julho.

 

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