Desastre em Brumadinho: limpeza do rio afetado pode levar mais de sete séculos

O desastre de 25 de janeiro de 2019, que resultou em 270 mortes e na contaminação das águas do Paraopeba, tornou o rio impróprio para qualquer uso

Créditos: Antonio Cruz/ Agência Brasil
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Há seis anos, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho transformou a vida de milhares de famílias.  O desastre de 25 de janeiro de 2019, que resultou em 270 mortes e na contaminação das águas do Paraopeba, tornou o rio impróprio para qualquer uso. 

Desde 2021, a mineradora Vale, o governo de Minas Gerais e órgãos de Justiça firmaram um acordo que responsabiliza a empresa pela limpeza integral do rio, sem limites de custo. Contudo, um estudo do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) aponta que o desafio pode ser muito mais demorado do que o previsto.

As projeções do levantamento revelam prazos que variam entre 44 anos, no melhor cenário, e 741 anos, no mais pessimista, para a retirada total dos rejeitos. A diferença nos cálculos reflete duas incertezas principais: o volume de rejeitos que atingiu o rio e a eficiência atual do processo de dragagem.

Segundo a Vale, cerca de 1,59 milhão de metros cúbicos de resíduos foram despejados no Paraopeba. No entanto, estudos acadêmicos publicados no International Journal of Sediment Research indicam que o número pode ser significativamente maior, chegando a 2,8 milhões de metros cúbicos.

Além disso, a eficiência das dragas diminuiu ao longo dos anos. Em 2019, logo após o desastre, cerca de 90% do material retirado pelos equipamentos era composto por rejeitos. Hoje, essa proporção caiu drasticamente, dificultando o progresso da limpeza. Dados de janeiro deste ano mostram que, até agora, foram removidos apenas 195 mil metros cúbicos de rejeitos.

Especialistas alertam para a possível inviabilidade de cumprir o acordo em sua totalidade. “Se a limpeza completa não for possível, a mineradora terá que discutir com os órgãos competentes alternativas de compensação. Mas como se mensura o valor de um rio?”, questiona à Folha o especialista socioambiental e coautor do levantamento, Ramon Rodrigues. 

Apesar das dificuldades, a Vale afirmou, em nota, que segue realizando ações de dragagem e avalia soluções técnicas para os trechos onde o rejeito se misturou com sedimentos naturais. A empresa alega que trabalha junto às autoridades competentes para determinar as melhores estratégias de intervenção.

Fernando Pacheco, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal), reforça que a recuperação do rio também depende de processos naturais. Ele explica que os sedimentos de outros cursos d’água diluem gradualmente a contaminação, promovendo o que chama de “limpeza natural”.

Entre 2021 e 2023, Pacheco participou de estudos para determinar quando o Sistema Paraopeba, que abastece 30% da região metropolitana de Belo Horizonte, poderia voltar a operar. Em condições de cheias extremas, estimou-se que o abastecimento poderia ser retomado de seis a oito anos após o desastre. Entretanto, ele ressalta que a qualidade da água deve ser consistente ao longo do ano para garantir o uso seguro.

Enquanto isso, a decisão sobre a utilização do Paraopeba cabe ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que monitora parâmetros como turbidez e a presença de metais tóxicos, como chumbo 

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