Investigado pelo desmatamento ilegal de uma área de 81,2 mil hectares com o uso de agrotóxicos no Pantanal ao longo de três anos, o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes fornecia aos principais frigoríficos do país, segundo um relatório publicado pela organização Mighty Earth na última terça-feira (17).
Além da JBS, outros dois grandes frigoríficos, Marfrig e Minerva, também estão na lista das principais empresas abastecidas pelas fazendas de Claudecy Lemes, localizadas no Mato Grosso, estado que atualmente possui o maior rebanho bovino do Brasil.
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De acordo com as informações disponibilizadas pelo relatório, as unidades dos frigoríficos abasteciam grupos varejistas como Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Grupo Mateus e Sendas (proprietário do Assaí Atacadista).
“Para proteger o Pantanal e outros biomas preciosos no Brasil, as grandes empresas de carne e seus clientes no varejo precisam ter controle total de suas cadeias de suprimento, tanto diretas quanto indiretas, até o nível das fazendas, e cortar todos os laços com pecuaristas que destroem a natureza por lucro”, afirma João Gonçalves, Diretor Sênior para o Brasil da Mighty Earth.
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Histórico
Desde 2022, as autoridades policiais e ambientais investigam a devastação em 11 fazendas de propriedade de Lemes, que possui um patrimônio de 277 mil hectares e 60 mil cabeças de gado. Localizada no município de Barão do Melgaço, a 121 km de Cuiabá, a região desmatada faz parte do Pantanal, que é reconhecido como Patrimônio Mundial e Reserva da Biosfera pela Unesco. O bioma é a maior planície inundável de água doce do mundo.
No desmatamento da área, foram lançados sobre a vegetação, por meio de pulverização aérea, 25 tipos de agrotóxicos, incluindo o 2,4-D. Esse herbicida é um dos componentes do "Agente Laranja", conhecido por seu efeito altamente destrutivo e utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. O objetivo do desmatamento era eliminar a vegetação nativa para plantar capim e expandir a criação de gado na região.
Conforme os dados da Guia de Trânsito Animal, divulgados pela Repórter Brasil, a Fazenda Monique Vale, de propriedade de Lemes e a 232 km da área desmatada, era utilizada para engorda de gado final antes do abate. Entre as principais beneficiadas estão também duas unidades da JBS em 2023.
Em nota, a empresa afirma ter bloqueado fazendas de Lemes, mas não especifica em qual período ou sob quais condições.
Como demonstra o relatório da Mighty Earth, na raiz dos 3.113 fornecedores diretos dos três frigoríficos está o desmatamento de 38.248 hectares de vegetação nativa vinculada. Entre os 8.433 fornecedores indiretos analisados, o desmatamento detectado foi de 72.457 hectares.
Impunidade
Com cerca de 15 atuações por danos ao meio ambiente, Lemes teve uma de suas acusações prescritas no dia 2 de setembro de 2024 por desmatar mais de 3 mil hectares da Barão de Melgaço entre 2013 e 2018,. A decisão, assinada pelo juiz Antonio Horácio da Silva Neto, foi caracterizada como "equivoco" pela promotora de Justiça Ana Luíza Ávila Peterlini que diz que o Ministério Público deve recorrer da decisão.
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