AR IRRESPIRÁVEL

PSOL oficia Nunes e Tarcísio a decretarem emergência climática em meio às mortes em SP

Parlamentares solicitam uma série de medidas para mitigar os efeitos do tempo seco e ar poluído por fumaça de queimadas

Fumaça encobre céu de São Paulo.Créditos: Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress
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A deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Carlos Giannazi e o vereador Celso Giannazi, todos do PSOL de São Paulo, enviaram nesta quarta-feira (11) ofícios ao prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), solicitando que seja decretado estado de emergência climática no estado. Os parlamentares destacam a urgência de ações para mitigar os efeitos do aquecimento global, com foco nas consequências do tempo quente e seco, agravadas pelas queimadas e fumaça que afetam diversas regiões.

Entre as medidas propostas, os deputados pedem a distribuição de garrafas de água e máscaras em locais de grande circulação, como unidades de saúde, escolas, terminais de ônibus, além de estações de metrô e trem. A proposta visa priorizar a população mais vulnerável, especialmente as pessoas em situação de rua, que sofrem de forma intensa com as altas temperaturas e a qualidade do ar comprometida pela poluição.

Os parlamentares também exigem a realização de campanhas estaduais e municipais de conscientização, com orientações sobre a importância da hidratação e da proteção respiratória, com o objetivo de informar a população sobre os cuidados necessários durante este período crítico.

Além disso, foi solicitada a ampliação do rodízio de veículos na capital paulista, uma medida que visa reduzir a emissão de gases poluentes. Essa ação está alinhada com as recomendações de especialistas em meio ambiente, que apontam que a redução do tráfego de automóveis contribui para a melhoria da qualidade do ar e para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Outra medida sugerida no ofício é a instalação de umidificadores em locais públicos com grande circulação de pessoas, como forma de amenizar o impacto do ar seco sobre a saúde respiratória da população. Os parlamentares também propõem a criação de um plano emergencial para atender pacientes com doenças respiratórias e cardiovasculares, que tendem a ser os mais afetados pelas condições climáticas extremas.

Por fim, os deputados e o vereador pedem a criação de um comitê de emergência climática, composto por especialistas na área, para avaliar a necessidade de adequação e implementação de outras medidas que possam mitigar os efeitos das mudanças climáticas e proteger a população.

O ofício ao prefeito e governador vêm em um momento em que a cidade de São Paulo enfrenta um aumento significativo de mortes e internações por problemas respiratórios, e especialistas alertam para os efeitos prolongados da exposição ao calor e à baixa umidade. 

Mortes em SP 

A cidade de São Paulo registrou, de agosto até a primeira semana de setembro, 76 mortes em decorrência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Ao todo, segundo dados da secretaria municipal de Saúde divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo, foram registrada 1.523 notificações do problema de saúde no período. 

As notificações e mortes por SRAG ocorrem justamente no momento em que a capital paulista é tomada por fumaça de queimadas e incêndios florestais que atingem várias regiões do país.

A fumaça das queimadas pode contribuir para o aumento de casos de problemas respiratórios, devido à presença de partículas finas e gases tóxicos, como monóxido de carbono, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que irritam as vias respiratórias e os pulmões.

Em indivíduos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias pré-existentes, a exposição a essa fumaça tende a agravar essas condições, podendo, em casos mais graves, levar ao desenvolvimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), uma inflamação severa nos pulmões que dificulta a respiração e pode exigir hospitalização. Além disso, a poluição causada pelas queimadas compromete a qualidade do ar, aumentando o risco de infecções respiratórias graves, como a pneumonia.

Lula cria Autoridade Climática 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu nesta terça-feira (10) uma de suas promessas de campanha: a criação de uma Autoridade Climática. O petista anunciou a medida em meio à seca que dura mais de cem dias e às intensas queimadas no país,

Uma das principais promessas da campanha de Lula em 2022, mas que ainda não havia sido implementada, a proposta foi responsável por selar a reaproximação do presidente com a atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, após dez anos de rompimento.

A Autoridade Climática é um órgão que terá o objetivo de coordenar e implementar estratégias para enfrentar as mudanças climáticas e eventos extremos.

Essa autoridade tem a missão de apoiar e articular as ações do governo federal, promovendo a adaptação climática. Além disso, será criado um Comitê Técnico-Científico para fornecer suporte e garantir a implementação eficaz das políticas públicas relacionadas ao clima.

“O plano anterior para o meio ambiente estava claro era abrir a porteira para deixar o gado passar. E a gente acha que a gente pode até criar gado, mas não precisa destruir a floresta e o nosso planeta para a gente criar”, afirmou Lula no evento.

“A gente pensa que pegava fogo só no Pantanal, na Caatinga, na Mata Atlântica, na Amazônia. Não, pegou fogo em 45 cidades, no mesmo dia, em São Paulo. E esse fogo é criminoso”, lembrou. “É gente que está tentando colocar fogo para destruir este país. No Pantanal, 85% das propriedades atingidas são privadas, não são terras públicas”

Maior seca e pico de queimadas

De acordo com o Inpe, a seca de 2024 é a mais severa já registrada no Brasil, com um número recorde de incêndios florestais. Os dados indicam que a Amazônia e o Pantanal são os biomas mais afetados, e provavelmente vão superar os recordes de 2021.

Com mais de 164 mil focos até agora, os incêndios são os maiores desde 2010. Segundo o Cemaden, a seca que se iniciou em 2023 abrange impressionantes 5 milhões de km², ou seja, 59% do território brasileiro.

Esse número supera em muito a seca de 2015-2016, que até então detinha o recorde, com 4,6 milhões de km². A estiagem de 1997-1998, a terceira maior, atingiu 3,6 milhões de km².