Um estudo publicado na revista Nature Communications revela que o Oceano Ártico pode vivenciar seu primeiro dia considerado livre de gelo até 2030, resultado direto do aquecimento global. A pesquisa, conduzida por cientistas das universidades de Gotemburgo (Suécia) e Colorado (EUA), indica que as mudanças climáticas estão acelerando o derretimento do gelo marinho.
O Ártico é considerado sem gelo quando sua extensão dos blocos é inferior a um milhão de quilômetros quadrados. Em 2023, essa área mínima foi de 3,39 milhões de km², em comparação com os 15 milhões de km² totais do oceano.
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O estudo, utilizando simulações do modelo climático CMIP6, os mesmos empregados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), aponta que uma série de eventos pode impulsionar o derretimento completo: invernos mais quentes, primaveras com perda de massa de gelo e tempestades no verão que quebram as frágeis camadas remanescentes.
Céline Heuzé, climatologista e coautora da pesquisa, ressalta que a perda total de gelo marinho em um dia pode desencadear um ciclo de aquecimento, dificultando a formação de novas camadas de gelo. Isso impactaria diretamente o ecossistema ártico, essencial para algas, peixes e ursos-polares.
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Impactos globais
O derretimento do gelo não só ameaça a biodiversidade local, mas também altera correntes marinhas, circulação atmosférica e distribuição de calor globalmente. Segundo Micheline Carvalho Silva, professora da Universidade de Brasília e participante da primeira expedição brasileira ao Ártico em 2023, o fenômeno também libera microrganismos desconhecidos, presos há séculos nas geleiras.
"Vimos uma mudança extrema no clima, com locais completamente sem gelo e geleiras derretendo. Nesse contexto, algumas espécies de animais e plantas podem desaparecer, enquanto outras podem expandir a área de colonização. Há ainda a liberação de bactérias, fungos e outros microrganismos que estão presos nas geleiras, e muitos deles são desconhecidos e não sabemos quais são os riscos que podem trazer", afirma Micheline.
Possíveis cenários e soluções
O estudo sugere que, mesmo no pior cenário, os dias sem gelo podem ser mitigados se o aquecimento global for mantido abaixo de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme estipulado pelo Acordo de Paris.
Heuzé enfatiza a necessidade urgente de interromper a queima de combustíveis fósseis: “Não há mais espaço para ignorar as mudanças climáticas”.
Pesquisadores destacam que, mesmo que o fenômeno seja irreversível em alguns cenários, ele pode ser retardado por ações climáticas efetivas. Restringir o aumento da temperatura global a 1,5°C, como prevê o Acordo de Paris, poderia evitar dias sem gelo no Ártico. Para isso, é indispensável reduzir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa e o uso de combustíveis fósseis.
Com informações da Folha.