NO AZERBAIJÃO

Cúpula do fim do mundo termina, com promessas do Brasil para o futuro

Brasileiros festejam em meio ao pessimismo global

Pessimismo.Apesar da alegria dos brasileiros, o tom da COP29 foi de pessimismoCréditos: Reprodução New Scientist
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

De Baku, Azerbaijão -- Os brasileiros festejaram, pois a COP da Floresta, em Belém, já está no horizonte.

O Brasil se deu ao luxo de montar dois estandes, um deles organizado pelo Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, bancado pelos governadores da Amazônia.

Ainda assim, a Cúpula dos Líderes, que abriu a Conferência das Partes (COP29) termina nesta quarta-feira, 14, com um gosto amargo de fim do mundo.

Preocupados com a própria sobrevivência política ou desencantados com a Nação anfitriã, os líderes de Alemanha e França não vieram. A presença dos Estados Unidos foi pífia. A principal representante da União Europeia não apareceu. 

A Argentina de Javier Milei fez algo impensável: chamou sua delegação de volta.

A China montou um estande vistoso, sempre lotado, mas apesar de ser a maior fonte de emissão de metano e de CO2 na atmosfera (seguida por Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão), rejeita a pressão dos países ricos para ajudar a pagar a conta.

Hoje, o Brasil deu a mesma resposta da China: pelo acordo de Paris, da COP21, de 2015, os países ricos deveriam ter pago U$ 100 bilhões anuais entre 2020 e 2025 para que os países em desenvolvimento lidassem com a transição energética e os impactos da mudança climática -- o que não aconteceu.

Há tênues esperanças de que a COP29, que a partir desta quinta-feira entra na fase dos bastidores, resulte em novas promessas de dinheiro.

Um acordo pelo destravamento do mercado mundial de créditos de carbono já teria sido alcançado -- através do qual países e empresas poderiam "pagar" para poluir, mantendo florestas em pé e mitigando os efeitos de eventos climáticos extremos.

Desencanto

Porém, não há como escapar do desencanto.

Contando com mais de 60 mil participantes, quase 20 mil a menos que no Catar, a reunião foi marcada por troca de acusações, discursos pouco diplomáticos e pessimismo, especialmente por conta da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

As ilhas de Papua e Nova Guiné, no Pacífico, nem mandaram representante, alegando que participar da COP seria "total perda de tempo".

Ilhas ameaçadas pelo aumento do nível dos oceanos são as que mais soam os alarmes. Um estande sobre as ameaças à criosfera expôs um mapa dramático do Rio de Janeiro inundado em 2100.

Discurso consistente

Relativamente a outros países, o Brasil apresentou uma mensagem consistente, através do vice-presidente Geraldo Alckmin e de vários ministros.

Eles trataram de estabelecer um contraste entre o governo negacionista de Jair Bolsonaro e o do presidente Lula.

A meta de emissões apresentada pelo Brasil prevê o máximo de 1,05 bilhão de toneladas de CO2 equivalente em 2035, mas mira em menos, 850 milhões. Em 2005, foram 2,56 bilhões.

A meta recebeu fartas críticas dos ambientalistas brasileiros, segundo os quais venceram o Ministério das Minas e Energia e o da Agricultura e Pecuária.

Carolina Pasquali, do Greenpeace Brasil, observou:

A NDC [sigla que significa contribuições nacionalmente determinadas, em inglês] silencia sobre os planos de abertura de novas áreas de exploração de petróleo e tenta nos distrair, apelando até para tecnologias de captura e armazenamento de carbono que, pelo menos até agora, são uma solução falsa, cara e inviável em larga escala. Essa ideia de que a tecnologia vai nos salvar no futuro é uma ilusão -- a crise é agora. Vale o mesmo para o agro: ao terminar de ler o documento, não parece que o setor está diretamente ligado à maior parte das emissões brasileiras. Mesmo sem virem à COP 29, os ministros [das Minas e Energia e Agricultura e Pecuária] conseguiram deixar sua marca. Pena que ela é ruim.

Estande agro

De fato, o estande brasileiro na COP29 apresentou o agronegócio como solução, não como problema, com o argumento de que o Brasil pode garantir a segurança alimentar do planeta.

Pelo que se viu nas discussões em Baku, o agro brasileiro não é apenas pop, mas é "verde".

A ministra Marina Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin defenderam a meta brasileira como a "realizável".

Alckmin se esforçou nos detalhes: falou sobre a frota de automóveis 75% flex do Brasil; sobre os 35% de etanol na gasolina consumida no país; sobre o etanol de segunda geração (a partir de palha, folha e bagaço de cana); sobre o biodiesel de soja, mamona, dendê e girassol (15% de adição no diesel a partir de 2025); sobre a substituição da destrutiva querosene de aviação para a camada de ozônio por SAF (combustível sustentável), a partir de etanol, óleo vegetal ou gordura animal; e sobre a produção de hidrogênio verde a partir de eletrólise tocada por energia hidrelétrica, solar, eólica ou biomassa.

Promessas para o futuro

Marina destacou o conjunto de medidas do governo Lula para frear a destruição ambiental, como a União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais na Amazônia, que foca nos 70 municípios que mais desmataram em 2022.

A ministra também mencionou o Plano Safra 2024/2025, que reduz em até 1% os juros para os proprietários rurais que "adotarem boas práticas".

Disse que houve redução de 45,7% do desmatamento na Amazônia, 25% no cerrado e prometeu planos específicos para a caatinga, o pampa, o Pantanal e a Mata Atlântica.

O ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, falou em recuperação de nascentes e áreas degradadas no plano Floresta Produtiva, com plantio de açaí, cupuaçu e castanha, voltado para a Amazônia.

Destacou o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, para incentivar o uso de bioinsumos e eliminar os venenos dos quais o agronegócio brasileiro é o maior consumidor planetário.

Falou sobre o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem juros reduzidos de 2% para a produção agroecológica.

O resultado de todas estas iniciativas, no entanto, está no horizonte.

Em resumo, o sistema de bandas adotado pelo governo Lula, ao prometer reduzir as emissões de CO2 (de 59% a 67%, até 2035, em relação a 2005) depende do sucesso de iniciativas que ainda estão por frutificar.

É uma aposta no futuro.