De Baku, Azerbaijão -- A ministra do Meio Ambiente e da Sustentabilidade, Marina Silva, disse hoje que petróleo, como qualquer outro bem legado à Humanidade por Deus, tem de ser consumido com parcimônia. Comparou o produto ao açúcar: se comer demais, corre risco na diabetes.
Marina se adiantou a Geraldo Alckmin e tirou o colega de governo de uma saia justa: um repórter da Agência France Presse quis saber a opinião do vice-presidente sobre afirmação do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que em seu discurso na COP29 disse que o petróleo e gás eram "dádivas divinas".
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O repórter também queria saber quando o Brasil vai abandonar a exploração do petróleo.
Depois de se locupletar com o poder energético dos hidrocarbonetos, aquecendo o planeta, agora porta-vozes do Ocidente, inclusive ambientalistas, passaram a atacar países como o Azerbaijão, o Catar, a Rússia e os Emirados Árabes Unidos como se eles tivessem inventado a emergência climática.
As palavras-chave utilizadas pela mídia são "petroestado" e "autoritarismo", se esquecendo de que os Estados Unidos são de longe os maiores consumidores de petróleo e gás do mundo, atingiram seu pico de produção em agosto de 2024 e controlam empresas que estão multiplicando a exploração -- por exemplo, a Exxon e a Chevron na Guiana.
Efeito Trump
Com a eleição de Donald Trump e a guerra comercial que será acelerada contra a China, Washington conta com energia barata e tarifas para enfrentar Beijing.
Trump, negacionista do clima, diz que a emergência climática é uma "fraude" para beneficiar os chineses.
A Petrobras tem planos para expandir a produção na chamada margem equatorial, inclusive na foz do rio Amazonas e nas águas profundas do Amapá.
A estimativa é de reservas tão grandes quanto as que foram encontradas na Guiana.
Contrária à ideia, a ministra Marina navega em mares instáveis dentro do governo, em busca de consensos numa coalizão de centro-direita.
Países produtores de petróleo assumiram um inédito "ativismo verde" nos últimos tempos, com as COPs mais recentes realizadas no Catar e no Azerbaijão.
Em 2023, integrantes da OPEP concordaram em fazer "transição" para fontes alternativas, mas sem definir data.
Só o Irã, o Iêmen e a Líbia não ratificaram o Acordo de Paris.
O presidente do Azerbaijão foi irônico em seu discurso na COP. Disse que seu país vai aumentar a produção de gás até 2033 para servir aos interesses da União Europeia.
"Não foi nossa ideia", zombou.