De Baku, Azerbaijão -- A Argentina vai retirar sua delegação da COP29 dois dias depois do presidente Javier Milei conversar por telefone com Donald Trump, descrito pelo futuro ocupante da Casa Branca como seu "presidente favorito".
Milei, por sua vez, afirmou depois da ligação telefônica que Trump pretende "copiar" a Argentina em seu futuro governo, que começa em 20 de janeiro de 2025.
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A subsecretária do Meio Ambiente da Argentina, Ana Lamas, que está em Baku, confirmou ao diário britânico Guardian:
Temos instruções do Ministério das Relações Exteriores para não participar mais. É tudo o que posso dizer.
O fato, inédito na história das COPs, acontece no momento em que os Estados Unidos podem se retirar de novo do Acordo de Paris.
Especula-se que Trump, com apoio do Senado -- onde obteve folgada maioria -- pretende tirar Washington até mesmo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, o que implicaria em atropelar a ONU e se afastar de qualquer recomendação científica do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).
Milei está viajando para a Flórida, onde vai se encontrar com Trump.
O presidente argentino vai participar da cúpula dos investidores do Comitê de Ação Política Conservadora (CPAC), que vai acontecer na área de convenções da mansão de Mar-a-Lago, propriedade de Trump, de quinta-feira 14 a domingo 16.
O CPAC é visto como a internacional da extrema-direita planetária.
Donald Trump frequentemente mistura seus negócios com atividades políticas, o que resulta em ganho financeiro pessoal.
A entrada para o jantar principal do evento está sendo vendida a 10 mil dólares o casal.
Os crimes da França
A ministra da Ecologia da França, Agnes Pannier-Runacher, por sua vez cancelou sua viagem a Baku depois do polêmico discurso que o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, fez no evento.
Ele foi aplaudido por delegados de nações do Pacífico ao acusar a França de reprimir manifestações pela independência da Nova Caledônia:
Os crimes da França nos seus chamados territórios ultramarinos não estariam completos sem mencionar as recentes violações dos Direitos Humanos. O regime do Presidente [Emmanuel] Macron matou 13 pessoas e feriu 169 durante protestos legítimos do povo Kanak na Nova Caledônia.
As ilhas da Nova Caledônia foram anexadas pela França em 1853. O povo melanésio Kanak já foi confinado em "reservas indígenas" pelos colonizadores.
Os Kanak representam mais de 40% da população. Num referendo de 2020, a permanência da Nova Caledônia como parte da França foi aprovada por 53% da população, uma queda em relação à consulta anterior.
Os protestos dos Kanak que resultaram em forte repressão foram causados pela aprovação de uma lei que dá direito de voto a franceses que moram há mais de dez anos na Nova Caledônia.
A lei foi vista como manobra colonial para evitar a independência do arquipélago.
Emmanuel Macron e o presidente do Azerbaijão são inimigos figadais.
Macron apoia a Armênia, que foi derrotada militarmente pelo vizinho Azerbaijão, em 2023, na disputa pelo controle dos territórios de Nagorno-Karabakh/Artsakh.
O governo de Baku contou com o apoio da Turquia, cujo presidente Recep Erdogan foi uma das estrelas da COP29.
Não se sabe se a delegação de negociadores franceses permanecerá no evento.