De Baku, Azerbaijão -- De olho no debate interno sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, a Petrobras "comprou" um link que aparece com destaque nas pesquisas Google para dizer: "A Petrobras já perfurou mais de 700 poços na Margem Equatorial e tem como valor garantir uma atuação segura e responsável".
A estatal explica que pretende investir U$ 3,1 bi na região até 2028, para perfurar 16 poços.
Te podría interesar
A região vai da bacia Potiguar até a bacia da Foz do Amazonas e as águas profundas do Amapá.
Denunciada por ambientalistas, a exploração depende de autorização dos órgãos ambientais do próprio governo.
Te podría interesar
O debate ganhou urgência depois da vitória eleitoral de Donald Trump, que promete multiplicar a produção de petróleo nos Estados Unidos.
A ministra
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, está em Baku como parte do esforço brasileiro de apresentar uma "frente unida" ao planeta.
Futura sede da COP30, o Brasil está se vendendo como principal liderança da transição energética.
Nesta quarta-feira (13), Guajajara disse à Fórum que o passivo do país é grande, mas lembrou:
Nós estamos trabalhando para reconstruir as políticas de proteção dos povos indígenas. Em menos de dois anos já foram mais de dez territórios demarcados e cinco áreas em que tivemos a retirada de garimpeiros, de grileiros, de madeireiros.
A ministra concorda com os que lamentam que Donald Trump tenha sido eleito nos Estados Unidos.
"É uma ameaça não só para os EUA, para o Brasil e para o mundo", afirmou.
Sem fazer referência direta à Petrobras, ela falou sobre a pretensão de Trump de turbinar a produção de petróleo, o que pode ter um efeito cascata no restante do mundo:
Seguimos todos atentos para lutar sempre contra todas essas políticas de exploração, seja de que forma for, de destruição da natureza, do meio ambiente, que consequentemente significa destruição dos povos indígenas.
Guajajara e a ministra Marina Silva comandam o time dos que se opõem à expansão da produção petrolífera, com forte apoio dos ambientalistas dentro e fora do Brasil.
A indústria
Também presente em Baku, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Capelli, está com os governadores dos estados amazônicos e com o senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, que defendem os projetos da Petrobras como forma de combater a miséria na região.
Falando à Fórum, Capelli lembrou que a Petrobras tem longa experiência nas bacias de Santos e Campos sem ter causado significativos desastres ambientais.
Sobre futuros planos dos EUA, ele lembrou que independem de Trump e já estão em andamento muito perto do Brasil: Chevron e Exxon Mobil são duas petroleiras privadas que atuam na Guiana e estão faturando quantias colossais de dólares.
Capelli destacou:
É o país que mais cresceu em 2023, 38%.
O governo da Guiana fala em expansão do PIB de 42% em 2024, podendo chegar a 100% em 2028 por conta de futuras descobertas de petróleo e gás. A Guiana tem menos de 1 milhão de habitantes.
Capelli e os governadores da Amazônia estão de olho em royalties do petróleo que teriam o potencial de transformar a região.
Bilhões de dólares
Chevron e Exxon, aliás, estão envolvidas numa mega batalha judicial pelo controle de uma das maiores descobertas das últimas duas décadas, na Guiana.
A Chevron pagou U$ 53 bi pela petrolífera Hess crente de que herdaria controle de 30% do campo de petróleo de Stabroek. A Exxon, no entanto, alega que legalmente teria prioridade na compra.
O bloco rendeu U$ 2,9 bilhões à Exxon em 2023, U$ 1,88 bi à Hess e U$ 1,52 à chinesa CNOOC.
Já o Tesouro da Guiana embolsou "apenas" U$ 1,62 bi com o petróleo retirado de Stabroek, em 2023.
Por conta disso, a Guiana decidiu aumentar sua participação nos futuros consórcios de exploração, para 27,5% -- mas isso não vale para o campo de Stabroek, onde a Exxon tem 45% do controle e do faturamento.
É um mar de dinheiro para a empresa, que produz 2% da energia utilizada no planeta.