O Brasil é o oitavo maior poluidor plástico do mundo, despejando cerca de 1,3 milhão de toneladas de resíduos plásticos nos oceanos, segundo dados da ONG Oceana.
A poluição tem consequências graves tanto para a fauna marinha quanto para a saúde da população. O relatório "Fragmentos da Destruição: Impacto do Plástico na Fauna Marinha Brasileira", divulgado recentemente, apresenta um panorama preocupante sobre a situação do país em relação à poluição plástica e os seus impactos em diversas espécies.
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Estudos destacados no relatório revelam que 9 em cada 10 dos peixes mais consumidos globalmente já ingeriram plástico, incluindo espécies como tainha, corvina, dourada e camarão-rosa, que fazem parte da dieta brasileira. Além disso, 70% das tartarugas marinhas examinadas no Brasil apresentaram fragmentos plásticos em seu trato digestivo, e em algumas regiões, esse número chegou a 100%. No caso dos peixes da Amazônia, impressionantes 98% das amostras analisadas continham microplásticos em seus sistemas.
Esse cenário evidencia o grave problema da má gestão de resíduos sólidos no Brasil. De acordo com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais plástico acaba no meio ambiente (22%) do que é reciclado (15%). Estima-se que cerca de um terço do plástico produzido no país tenha potencial de chegar aos oceanos, com cada brasileiro contribuindo com uma média de 16 kg de resíduos plásticos por ano.
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O estudo também destaca que os rios são grandes responsáveis pela poluição dos oceanos, sendo responsáveis por cerca de 80% dos resíduos plásticos que chegam às águas marinhas.
Falta de regulamentação
A falta de regulamentação específica para o controle de plásticos de uso único no Brasil é uma das principais falhas apontadas no relatório. Apesar de países como Coreia do Sul, Índia e Inglaterra terem banido esses produtos, no Brasil ainda tramita o projeto de lei 2.524, que visa regular o uso e eliminar itens descartáveis problemáticos. A proposta, se aprovada, garantiria que as embalagens no país sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis.
O problema da poluição plástica é global e deve ser o foco da última rodada de negociações do Tratado Global Contra a Poluição Plástica, que acontecerá em novembro na Coreia do Sul. Esse tratado, que reúne 198 países, é visto como o maior acordo ambiental desde o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
Iran Magno, analista da Oceana, reforça que a poluição plástica afeta tanto o meio ambiente quanto a saúde pública. Ele ressalta a necessidade urgente de repensar a produção e o consumo de plásticos, já que o planeta produz 400 milhões de toneladas de plástico por ano, com expectativa de que esse número triplique até 2050. No Brasil, o plástico é o principal poluente encontrado nas praias, com destaque para canudos, sacolas, copos descartáveis e bitucas de cigarro.
Estudos realizados na Baía de Santos, em São Paulo, mostram que ostras e mexilhões, conhecidos por filtrar a água do mar, acumulam grandes quantidades de microplásticos. Esses moluscos são considerados indicadores da contaminação marinha, e algumas amostras analisadas apresentaram até 300 partículas de microplásticos por grama.
Com a poluição plástica invadindo não só os oceanos, mas também a cadeia alimentar humana, o relatório alerta para a necessidade de ações mais rigorosas, tanto em âmbito nacional quanto internacional, para mitigar os impactos desse grave problema ambiental e de saúde pública.
Com informações Folha de São Paulo