25 DE JANEIRO DE 2019

Cinco anos de Brumadinho: “Impunidade é aval para que desastres como esse aconteçam”

Daniela Arbex, Cristina Serra, Daniel Munduruku e outras personalidades se unem por justiça em abaixo-assinado; até hoje ninguém foi punido e ainda há mais barragens da Vale em áreas de alto risco

Protesto do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Minas Gerais.Créditos: Divulgação/MAB
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Um grupo de artistas, ativistas e jornalistas se uniram nas redes sociais em prol de justiça pelas vítimas do desastre de Brumadinho, em Minas Gerais. A tragédia é  considerada um dos maiores crimes ambientais da história do Brasil e hoje (25) completa cinco anos sem qualquer condenação pelas mais de 270 mortes.  

Helena Taliberti é a responsável pela petição online "Basta de Impunidade. Justiça por Brumadinho", que já superou a marca de 42 mil assinaturas e conta com o respaldo de diversas organizações da sociedade civil. O documento demanda a progressão dos processos judiciais e a realização do julgamento e condenação dos responsáveis pela tragédia em Brumadinho. 

Personalidades como a deputada federal Luiza Erundina, o escritor e professor Daniel Munduruku, o jornalista Juca Kfouri, a jornalista e escritora Daniela Arbex e a artista e ativista Thais Trindade também expressaram seu apoio. “Impunidade é o aval para que desastres como o de Brumadinho aconteçam novamente”, destaca o ator e líder indígena no vídeo.

Vivendo uma angústia extrema pela perda dos filhos que perderam a vida no lamaçal da Vale, Helena decidiu fundar o Instituto Camila e Luiz Taliberti em julho do mesmo ano. Segundo ela, o principal objetivo é defender os direitos humanos, capacitando grupos de mulheres e aqueles comprometidos com a preservação ambiental

Além disso, visa evitar que os impactos de eventos como Brumadinho, Mariana e outros desastres ambientais causados por grandes empresas, como o afundamento de terras em Maceió, Alagoas, devido à extração de sal-gema pela Braskem, se apaguem da memória coletiva brasileira. Já que os riscos não param por aí.

4 barragens da Vale com risco de rompimento

Segundo uma pesquisa publicada na revista científica Science of the Total Environment quatro barragens da Vale localizadas em Brumadinho (MG) foram identificadas em áreas consideradas de alto risco. Pelo menos doze unidades foram designadas na mesma categoria, das 36 unidades de resposta hidrológica. As da Vale são as seguintes: 

  • BVII
  • BVI
  • Menezes 1 
  • Menezes 2

Todas situadas em três dessas unidades. Conforme indicado pela pesquisa, a barragem BVII está localizada em uma área com um nível de risco superior ao local da barragem BI, que se rompeu em 2019. Os pesquisadores tinham por objetivo determinar os níveis de vulnerabilidade geomorfológica em cada unidade delimitada. 

A geomorfologia, um campo da geografia, concentra-se no estudo dos elementos da superfície terrestre. Ao todo, foram avaliados fatores como a presença de corpos d'água, a variação do relevo onde a estrutura da barragem está instalada e a capacidade de drenagem do terreno, entre outros. “A atenção a esta questão é, portanto, urgente para evitar futuras tragédias relacionadas com o rompimento de barragens de rejeitos, na bacia do rio Paraopeba ou em outros lugares”, afirmam os autores do estudo.

Livro-reportagem de Brumadinho vence prêmio

Em outubro do ano passado, Daniela Arbex concedeu uma entrevista à Fórum sobre o livro manifesto em memória às vítimas da tragédia. “É um livro-reportagem que nasceu a partir de um extenso trabalho de campo e de uma escuta qualificada. Além da realização de mais de 200 entrevistas, fizemos uma ampla investigação sobre as causas do rompimento da barragem mineira e o quanto a mineradora Vale sabia dos riscos”, afirmou a escritora e jornalista de Juiz de Fora.

A obra “Arrastados: Os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, o maior desastre humanitário do Brasil”, fruto de um extenso trabalho de apuração e em memória às vítimas do desastre de 25 de janeiro de 2019, conquistou naquele mês, o 45° Prêmio Vladimir Herzog, na categoria livro-reportagem, considerado o mais tradicional prêmio jornalístico do Brasil.

Com uma escrita humanizada, um olhar aguçado e uma narrativa permeada de detalhes, Daniela reconstrói o cenário da tragédia na Mina do Córrego do Feijão. Enquanto repercutia a tragédia naquele ano, não se sabia como tudo havia acontecido. A obra é monumental em conseguir resgatar o registro desde o momento em que a barragem se rompe até o longo período de buscas pelos bombeiros nos primeiros dias. Expressando “a dor de centenas, de milhares, acolhendo o luto e celebrando os sobreviventes” (p. 12, Arrastados).

“Fiquei um ano acompanhando as famílias em Brumadinho e as ações do Corpo de Bombeiros”, lembrou ela. “Também passei meses no IML, em Belo Horizonte, para entender o trabalho de identificação das vítimas pelos legistas mineiros. Conseguimos um material tão denso e rico que nos permitiu reconstituir, quase que em tempo real, as 96 horas após o rompimento ocorrido às 12h28 do dia 25 de janeiro de 2019”.

Segundo a jornalista, esse é um livro “que narra o colapso da barragem e suas consequências pelo olhar dos trabalhadores da multinacional”. Além disso, “é um esforço de construção da memória coletiva do país”. Leia a reportagem completa.