GENOCÍDIO YANOMAMI

Terra Yanomami: governo Lula reconhece que plano de 2023 foi insuficiente e detalha ação permanente para expulsar garimpo

Os ministros Marina Silva, Sônia Guajajara e Silvio Almeida visitaram o território, conversaram com Davi Kopenawa e, na volta a Boa Vista, capital de Roraima, explicaram como serão as ações

Ministros Silvio Almeida, Marina Silva e Sonia Guajajara se reúnem com lideranças Yanomami.Créditos: Lucas Leffa/SECOM
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Após se reunirem com lideranças do povo Yanomami, os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança Climática) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) explicaram nesta quarta-feira (10), em entrevista coletiva em Boa Vista, Roraima, como funcionará o plano de ação de permanente que visa socorrer os indígenas e expulsar os garimpeiros do território.

Os ministros visitaram a região de Auaris na Terra Indígena Yanomami nos últimos dias acompanhados por Joenia Wapichanam presidente da Funai; Weibe Tapeba, secretário de saúde indígena do Ministério da Saúde; Jair Schmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama; e Janini Ginani, genremte de projetos da Casa Civil.

Lá, a comitiva conversou com uma série de lideranças, incluindo o xamã e pensador Davi Kopenawa. Na volta a Boa Vista, capital de Roraima, explicaram como serão as ações. O novo plano ocorre por consequência da avaliação do Governo Lula de que as ações empregadas ao longo de 2023 foram insuficientes para expulsar os garimpeiros e encerrar o morticínio vivido pelos indígenas.

“Trouxemos aqui agora a reafirmação desse compromisso, para a gente continuar junto, para a gente continuar lutando para retirar os garimpeiros do território Yanomami e de outras áreas indígenas que ainda têm invasores tirando matéria ilegal, tirando minério ilegal. Vamos estar com essa frente atuante, permanente e continuada com o compromisso desses ministérios que atuam junto de forma transversal conforme também é a orientação do próprio presidente Lula para a gente poder proteger os povos indígenas”, disse a ministra Sonia Guajajara.

Em sua fala, Marina apontou os esforços do seu Ministério que ajudaram a reduzir, neste anos, 85% do desmatamento no território em relação a 2022. Um feito e tanto que, se por um lado não resolve o problema de imediato, por outro, impede que o problema aumente. Além disso, se as áreas degradadas puderem se recuperar, com o tempo é possível mitigar o quadro de devastação ambiental causado pelo garimpo nos locais preservados.

“Se não tivesse a ação do IBAMA, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, das Forças de Segurança Nacional, a presença da FUNAI, de todos nós que estamos aqui, poderia ter mais abertura de novas áreas. Nós tivemos uma redução de 85%, mas ainda não é suficiente. E as denúncias das comunidades é de que tem o retorno [dos garimpeiros], que estão operando à noite, que estão ocupando base, que têm infraestrutura”.

Por parte da Funai, Joenia Wapichana lembrou que o garimpo em terras indígenas é ilegal e os invasores estão sob investigação e, por sua vez, Tapeba também recordou que o Governo Lula declarou emergência sanitária no território e que os trabalhos para atender mais de 200 comunidades desassistidas estão em andamento.

Na última terça (9) o presidente Lula convocou uma reunião no Palácio do Planalto para tratar do tema com outros 13 ministros e ficou determinado que as ações emergenciais empregadas em 2023 dariam lugar a ações permanentes, ou “estruturantes e perenes no território”, como diz nota publicada pelo Ministério dos Povos Indígenas.

Ministros Silvio Almeida, Marina Silva e Sonia Guajajara se reúnem com lideranças Yanomami. Créditos: Lucas Leffa/SECOM

A previsão de investimentos para essas ações em 2024 é de R$ 1,2 bilhão para atender a saúde e a segurança dos Yanomami. E a primeira medida estruturante é a instação da chamada Casa de Governo em Boa Vista, que irá concentrar órgãos federais e coordenar as ações e operações. Vão compor a estrutura da Casa do Governo órgãos como Funai, Ministério dos Povos Indígenas, Ministério do Meio Ambiente, Polícia Federal, Abin, Polícia Rodoviária Federal, Ibama, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, entre outros.

As novas medidas incluem o cerco a invasores e ao garimpo ilegal que contará com novas infraestruturas e gerências, segundo a Casa Civi. Rui Costa explicou que ações programadas e incursões policiais vão migrar para uma presença permanente das forças de segurança, com Forças Armadas e Polícia Federal. Além disso, também as estruturas de Saúde receberão investimentos para se manterem em caráter permanente nas comunidades.

“Vamos reestruturar a reocupação com a presença definitiva das forças de segurança para que a gente consiga retirar definitivamente a presença de invasores na região”, disse o ministro da Casa Civil Rui Costa após a reunião com o presidente.

De acordo com a Casa Civil, em 2023 foram mais de 400 operações e mais de 600 milhões de reais apreendidos em patrimônio e recursos financeiros de grupos ilegais. Para o ministro, “o grosso do trabalho de combate ao crime organizado foi feito de forma vitoriosa”.

Situação do povo Yanomami

Há um ano, quando o Governo Lula tomava posse, foram reveladas imagens chocantes do genocídio Yanomami, em Roraima, facilitado pela ampla desregulamentação ambiental e sabotagem de órgãos de fiscalização durante o Governo Bolsonaro. As imagens dos indígenas desnutridos, padecendo de fome e doenças, rodaram e chocaram o mundo. A causa: falta de equipamentos públicos de saúde e segurança que permitiu o aumento exponencial da intrusão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami.

Esses garimpeiros, por sua vez, ao desempenharem sua atividade extrativa, além de contaminar os indígenas com vírus e bactérias forasteiros, também causam desmatamento, poluição das águas da região e a própria violência decorrente da disputa pelo território.

Rapidamente o novo Governo Lula propôs um plano emergencial para acudir os indígenas e mobilizou as Forças Armadas e a Polícia Federal para operações de entrega de medicamentos e comida e de desintrusão dos garimpeiros. Também destinou recursos para fortalecer os programas de saúde indígena e os postos de fiscalização da Funai no território.

No início, e até levando em consideração a gravidade da situação herdada, as coisas melhoraram. Mas com o passar dos meses o ímpeto foi diminuindo, especialmente por parte dos militares.

Ministros Silvio Almeida, Marina Silva e Sonia Guajajara se reúnem com lideranças Yanomami. Créditos: Lucas Leffa/SECOM

A desintrusão de terras indígenas, com destaque para a Terra Indígena Apyterewa e a Terra Indígena Yanomami, é um tema muito cobrado do Governo Lula por ambientalistas, defensores de direitos humanos e pelo próprio movimento indígena. Mesmo passado um ano da revelação da fome e da falta de saúde pública que acometeu os Yanomami ao longo do governo Bolsonaro, e as ações tomadas logo no início do Governo Lula nesse sentido, aquela população continua em estado de sofrimento.

Em reportagem publicada nesta terça (9) na Agência Pública, o jornalista Rubens Valente mostra fotos recentes de um servidor da Saúde carregando no colo uma criança indígena completamente desnutrida na comunidade de Ônkiola, no norte da Terra Indígena Yanomami.

O próprio Polo de Saúde da região chegou a fechar por três ocasiões em 2023 por falta de alimentos. Nesse contexto, as Forças Armadas também desmontaram um posto de suprimento de combustíveis em Palimiú, a região do território mais cobiçada por garimpeiros. O posto também atendia a aeronaves do Ibama e da PF que chegavam à região.

O Ministério dos Povos Indígenas chegou a pedir, em 16 de novembro, em ofício enviado a Renato Rodrigues de Aguiar Freire, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, que os militares providenciassem o envio de mais de 40 mil cestas básicas que estavam prontas para serem entregues.

Em 5 de dezembro, o coronel Roberto Sousa, do Exército, justificou a desmobilização dos militares nas terras Yanomami em razão das tensões entre Venezuela e Guiana, que fazem fronteira com o território Yanomami do Brasil. Enquanto isso, o Ministério da Defesa deu indicações de que pretende deixar operações de entrega de cestas e de desintrusão de garimpeiros no local.