LUZ NO FIM DO TÚNEL?

É possível salvar a Amazônia e reagir a emergência climática, aponta estudo

Se zerar desmatamento, bioma pode se expandir cerca de 15 mil hectares no Tocantins até 2050; Dados foram levantados por grupo de pesquisadores brasileiros e publicados em importante revista científica internacional

Amazônia.Créditos: Reprodução/TV Brasil
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Após um ano de 2023 que vem batendo recordes de altas temperaturas e marcando as preocupações globais com os efeitos da crise climática e a emergência de combatê-la, uma boa notícia finalmente poderá ser lida por aqueles que se preocupam com o futuro da humanidade. Segundo estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado no periódico Sustainable Production and Consumption, da Science Direct, é possível que a Floresta Amazônica consiga se regenerar em mais de 15 mil hectares até 2050 no estado do Tocantins, caso os índices de desmatamento sejam zerados no bioma.

De acordo com os dados, levantados por pesquisadores que observaram as dinâmicas de uso e ocupação do solo da Floresta Amazônica no Estado do Tocantins entre 2000 e 2020, além da recuperação ambiental de 15 mil hectares no Estado, também há um potencial de geração de benefícios sociais avaliados em 21 milhões de dólares para a região.

O estudo considerou a capacidade de capturar carbono da vegetação em paralelo com a projeção de custos sociais do carbono, chegando à estimativa do estoque em 2050 caso os programas de controle de desmatamento e combate à queimadas – bem como a devida fiscalização do Estado brasileiro – continuem em vigor e apresentem os resultados esperados.

As florestas têm um papel fundamental na resposta à crise climática. Sobretudo por conta da vegetação que oferece o chamado “serviço ecossistêmico de estoque de carbono”. Em outras palavras, retiram o elemento da atmosfera, fazendo-o permanecer na própria vegetação e no solo. Esse é o famoso “ciclo do carbono”.

Quando o ciclo é quebrado ou passa por situação de desequilíbrio, ocorrem as emissões de carbono na direção da atmosfera terrestre que, concentrados ali, figuram como a principal causa das mudanças climáticas, como explica Junior Ruiz Garcia, professor do Departamento de Economia da UFPR, coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (Gemaeco) e um dos autores do estudo.

“Esse aumento da concentração de carbono na atmosfera é considerado o principal culpado pelas mudanças climáticas. Dessa maneira, o ciclo de carbono é responsável pela relativa estabilidade climática e pelo bem-estar humano. Nesse sentido, a perda da relativa estabilidade climática, em função do aumento da concentração de carbono na atmosfera, pode gerar efeitos negativos sobre as atividades econômicas e levar à morte precoce de pessoas e animais”, afirmou para o portal Ciência UFPR.

A principal atividade econômica afetada nesses termos é a agricultura. Nesse sentido, Milton Marques Fernandes, professor de Engenharia Florestal da UFS (Universidade Federal de Sergipe) que também participou do estudo, aponta a importância de fazer a estimativa dos custos econômicos e sociais, em valores monetários, para ilustrar a importância da preservação ambiental também nessas áreas.

“É uma forma de dar valor econômico aos efeitos das mudanças climáticas para a sociedade. O custo social representa os danos causados à propriedades, redução da produtividade do trabalho ou da renda das famílias por cada tonelada adicional de emissões de dióxido de carbono”, explica.

Tocantins

Com mais de 225 mil focos de queimadas registrados entre 1998 e 2016, as dinâmicas de uso e ocupação do solo no Tocantins foram alteradas, sobretudo com a perda de vegetação que contribuiu com as emissões de carbono no Estado. Mas além dos incêndios, o Tocantins também registrou no período a expansão das fronteiras do agronegócio e da mineração, a construção de estradas, de hidrelétricas e o comércio ilegal de madeira.

Com a transformação das áreas de floresta em pastos, a agricultura tocantinense foi responsável em 2020 pela emissão de 998 milhões de toneladas de dióxido de carbono. A cifra representou 46% das emissões brasileiras naquele ano.

“No estudo, adotamos quatro compartimentos: estoque de carbono no solo, nas raízes, na biomassa morta e na biomassa viva. Neste contexto, as vegetações do cerrado, as florestas e as pastagens apresentam diferentes quantidades de estoque de carbono em cada compartimento. As pastagens têm a menor estocagem de carbono, pois apresentam apenas dois compartimentos, as raízes e o solo. Já as florestas possuem os quatro compartimentos e maior estoque total que as pastagens”, explica Fernandes.

“Apesar de o desmatamento ainda persistir no cerrado [outro bioma que marca o Tocantins], há indícios de que áreas desmatadas na Floresta Amazônica do estado do Tocantins podem ter sido abandonadas [a partir de 2020] e, por isso, estão em processo de regeneração, contribuindo para a captura e estocagem de carbono”, agrega Garcia.

Para os pesquisadores, a constatação é animadora e o principal desafio será o de manter as políticas de proteção do bioma, especialmente nessas áreas abandonadas que se converteram em focos de regeneração ambiental na região.

“É crucial monitorar e controlar o desmatamento, pois isso contribui para a proteção da biodiversidade, para a mitigação das alterações climáticas, para a preservação dos serviços ecossistêmicos e para a garantia do desenvolvimento sustentável. Ao abordar ativamente a desflorestação, o ambiente pode ser salvaguardado, garantindo um futuro melhor para as gerações vindouras”, afirmam os cientistas.