Um levantamento feito pelo site The Intercept Brasil com base em dados de relatórios do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que Elmar Cavalcante Tupinambá, avô de Agenor Tupinambá, o influenciador que se tornou conhecido após ser multado por transformar uma capivara em um animal de estimação, está entre os maiores desmatadores da Amazônia.
Segundo reportagem de Nayara Felirzado, dos 506 focos de incêndio registrados em outubro no Amazonas, 258 foram em Autazes – cidade localizada a 112 quilômetros da capital Manaus. O município, devido ao desmatamento, perdeu ao menos 580 hectares de floresta desde 2005.
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Elmar Cavalcante Tupinambá consta como um dos responsáveis pelo desmatamento de Autazes. Ele foi multado em fevereiro de 2022 no valor de R$ 1,2 milhão pelo Ipaam por destruir ou danificar mais de 240 hectares de floresta nativa às margens do Rio Paraná Madeirinha e do Lago Imbaúba.
De acordo com o Intercept, o avô de Agenor Tupinambá foi responsável por 42% do desmatamento registrado no município nas duas últimas décadas - o levantamento foi feito com base em dados disponíveis nos sistemas de consulta pública do Ibama e do IPAAM.
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Confira a lista dos desmatadores de Autazes multados em mais de R$ 100 mil:
- Elmar Cavalcante Tupinambá R$1.225.435,00
- Rosalina de França Martins R$545.000,00
- João de Deus Albuquerque Lima R$465.000,00
- Vagner Ferreira da Fonseca R$455.000,00
- Efrani Assunção de Souza R$247.500,00
- Diblaim de Souza Ramos R$240.591,75
- Osimar Cavalcante da Silva R$187.500,00
- Raimundo Nonato França Passos R$182.000,00
- Júnior Gonçalves Pinheiro R$168.350.00
- Alessandro Torres de Figueiredo R$144.050,00
- Muni Lourenço Silva Júnior R$112.500,00
- Willace Cavalcante Guedes Filho R$108.777,00
Agenor Tupinambá se manifesta
O influenciador Agenor Tupinambá, que se tornou conhecido no início deste ano após ser multado pelo Ibama por manter animais silvestres como pets, entre eles a capivara "Filó", se manifestou através das redes sociais, nesta segunda-feira (6), sobre a reportagem que aponta seu avô como um dos maiores desmatadores da Amazônia.
Chorando, Agenor gravou um vídeo em que afirma não ser responsável pelos atos de seus familiares.
“A internet é horrível, acaba com as pessoas. Até hoje eu não consigo entrar em publicações e ler os comentários porque não dá, isso adoece muito e faz muito mal. Vocês não sabem o que eu estou enfrentando aqui. As pessoas querem acreditar em qualquer coisa que está ali. Gente desculpa, eu realmente não estou bem”, declarou.
“E mais uma vez passando por tudo isso. Vou repetir mais uma vez aqui gente, eu não sou meu avô também não sou responsável pelo o que ele fez, eu sei quem sou”, prosseguiu o influenciador.
"Não é ribeirinho, é fazendeiro"
Em 30 de abril, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se pronunciou sobre o caso do influenciador Agenor Tubinambá, multado em R$ 17 mil por uma série de crimes ambientais, entre eles matar uma preguiça-real e praticar abusos e exploração de outras espécies, entre eles contra a capivara e um papagaio, para obter vantagem financeira. O jovem nega as acusações.
Através de um vídeo, Roberto Cabral, analista ambiental do Ibama, detalhou as autuações contra Agenor e procurou desmistificar a figura do jovem, que recebeu apoio em massa nas redes sociais quando foi obrigado a entregar ao instituto a capivara que batizou de "Filó" e que mantém como um pet. Uma decisão da Justiça do Amazonas, no entanto, concedeu a guarda provisória do animal a Agenor até o final do processo.
Agenor trabalha e vive em uma fazenda no município de Autazes, no Amazonas, e se tornou um fenômeno no TikTok ao exibir sua rotina com Filó, a capivara quem mantém como um animal de estimação. Nas postagens, costuma mostrar momentos considerados "fofos" com o mamífero roedor e outros animais. O caso gerou polêmica nas redes sociais, com muitos classificando o jovem como um "ribeirinho", que vive de forma "humilde" próximo à floresta e que "protege" os animais.
Segundo Roberto Cabral, do Ibama, Agenor não tem nada de humilde e cometeu uma série de infrações, que envolvem até mesmo mortes de animais silvestres.
"A primeira questão é que não se trata apenas de uma capivara a discussão sobre isso. Se trata de uma capivara, outra capivara que teria morrido, duas preguiças, sendo que uma delas morreu duas jiboias, uma paca, uma arara, dois papagaios, uma coruja, uma aranha, ou seja, uma série de animais que foram explorados de forma ilegal para se conseguir likes na internet", destaca o analista ambiental, frisando que tais práticas são proibidas o Brasil.
Na sequência, o agente do Ibama deixou claro o porquê não se pode classificar Agenor Tubinambá como um "ribeirinho" que estaria sendo impedido de viver com uma capivara que ele trata como se fosse sua.
"Se trata de um influencer, não de um ribeirinho. Ele não é um ribeirinho, ele é um fazendeiro, um peão boiadeiro. Não é uma pessoa hipossuficiente, é um influencer com milhares de seguidores, inclusive com assessoria de marketing e agora assessoria jurídica, não é uma pessoa que desconhecia leis. É um estudante de agronomia e que estuda em Manaus, onde está o Ibama. Ele poderia ter em algum momento já procurado o Ibama e entregue os animais", destaca Cabral.
"Vamos supor que ele tivesse encontrado a capivara, que tivesse em situação realmente de perigo e necessitasse de auxílio de socorro. Ele poderia ter entregue esses animais ao Ibama. Inclusive quando estavam retirando a capivara chegou o corpo de bombeiros com uma capivara para que o Ibama cuidasse dela. Então, as pessoas realmente tem o Ibama como uma referência e levam os animais para serem cuidados", prossegue.
Segundo o analista ambiental, a decisão judicial que culminou na devolução da capivara, que estava no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Manaus (AM) para que depois fosse reintegrada à natureza, a Agenor, "prejudica e muito" sua reintrodução.
"A decisão judicial prejudica e muito a reintrodução desse animal. O melhor destino para a capivara não é ficar em uma casa, lembrando que é área desmatada e não existem capivaras naquele local. O melhor para ela é ser realmente livre junto com outros de sua espécie. O Cetas é o início desse processo. Nós lutaremos para que o melhor destino dela seja cumprido. Que é ser livre, mas realmente livre, realmente na mata e com outros de sua espécie, e não sendo humanizada", sentencia o agente.
Assista ao vídeo: