O mês de novembro deste ano é fatalmente marcado pelos 8 anos do crime ambiental que ocorreu na cidade de Mariana, em Minas Gerais, cometido pelas empresas mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton. Em protesto, o Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB), através da campanha "Revida Mariana", iniciou uma jornada de lutas busca ganhar espaço no debate público sobre a pauta.
A data que fez 19 vítimas fatais e deixou um rastro de destruição socioambiental é ressignificada pela luta daqueles que precisam de proteção. O grupo de mais de 2,5 mil pessoas se reunirá no Distrito Federal no próximo sábado (04), a fim de mobilizar a sociedade politicamente e de reivindicar seus direitos.
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Em outubro deste ano, os manifestantes realizaram outro ato em Vitória, no Espírito Santo. Na ocasião, o principal objetivo era visibilizar a causa e sensibilizar o poder público e a comunidade civil perante uma dor que "não tem nome".
A Jornada de Lutas, que faz parte da "Campanha Revida Mariana", defende a reparação dos locais atingidos e seus cidadãos, os quais ficaram devastados após o rompimento da barragem do Córrego do Fundão, que atingiu áreas do Espírito Santo até o Oceano Atlântico.
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Entre as principais reivindicações, está o diálogo com o presidente Lula para que as necessidades das vítimas e suas demandas sejam atendidas pelo governo federal. Além disso, a Política Nacional dos Direitos das Populações Atingidas por Barragens (Pnab) também se faz crucial no movimento.
É preciso que o poder público reconheça o crime ambiental não como uma tragédia, mas sim como uma negligência que não pode se repetir. De acordo com um estudo realizado pelo projeto Repórter Brasil, as barragens de mineração espalhadas pelo Brasil ameaçam cerca de 700 locais, sendo 178 cidades de 15 estados brasileiros.
Com isso, milhões de vidas continuam correndo risco e precisam ser amparadas por políticas públicas efetivas. A Jornada de Lutas acontecerá entre os dias 4 a 7 de novembro, no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília.
Confira a programação
- 04/11 - Chegada das caravanas no DF (expectativa: 2,5 mil pessoas)
- 05/11 - Ato político e Ecumênico - externo - “Revida Mariana – Justiça para Limpar essa Lama” - Plenária interna: “Os Direitos das Populações Atingidas - cenários e desafios” - Projeção em Brasília (a confirmar)
- 06/11 - Jornada dos Atingidos e negociações com o governo. - Ato com autoridades, entidades e parceiros do MAB (17h)
- 07/11 - Audiência pública – Câmara dos Deputados: “Repactuação na Bacia do Rio Doce” - Sequência das atividades no parlamento e com o governo, e ato de encerramento
Mariana: histórias marcadas pela irresponsabilidade
Embora a história de Mariana tenha chocado o Brasil, a forma como a mídia liberal emprega uma tragédia ao que, na realidade, se trata da irresponsabilidade ambiental nas instituições envolvidas, a distância entre as vítimas e o resto da sociedade limita o entendimento do quão impactante a quebra da barragem foi para aquelas pessoas e o país como um todo.
Gelvana Rodrigues, mãe de Thiago, uma das crianças vítimas do rompimento da barragem, afirma que “existe nome para tudo: pra quem perde o marido, pra quem perde o pai… mas para uma mãe que perde um filho não existe".
Thiago, que estava em sua casa, foi arrastado por 100 quilômetros de distância de sua avó, que estava com ele no momento da tragédia e pediu para que ele a agarrasse. Carlos Arlindo, morador de Bento Rodrigues, um dos municípios atingidos pela lama, perdeu em 15 minutos a casa que levou 15 anos para construir.
Da noite para o dia, centenas de núcleos familiares perderam seus entes queridos e, junto da lama, lhes foi roubada a dignidade de possuir moradia, trabalho e um lugar para se viver. A situação também mudou completamente o estilo de vida dos povos originários Krenak e Puri, que habitavam a região e usufruíam do rio Doce para manter suas tradições e, até mesmo, seus rituais religiosos.
O desgaste ambiental foi tão impactante quanto o social. O percurso do rompimento atingiu o mar do Espírito Santo, na cidade de Linhares, deixando 1469 hectares, inclusive Áreas de Preservação Permanente (APP) estabelecidas pelo Ibama, totalmente destruídos, com consequências sentidas pelos municípios e estados próximos até hoje.