O plástico já foi encontrado em seres humanos e animais, no leite materno, no sangue, na placenta, no líquido amniótico, no cordão umbilical e no sêmen; nos pulmões e no coração; na água das nuvens, no ar, nos mares, nos rios e nos lagos; e na comida.
O meio ambiente está tão plastificado que estima-se que cada habitante da Terra pode estar ingerindo cinco gramas de plástico por semana. Isso equivale a comer um cartão de crédito em doses semanais.
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Muito em breve, no ritmo acelerado de consumo de plástico, as pesquisas podem ter que ser direcionadas para achar algo livre de plástico neste planeta. Também pode gerar um selo, um certificado corporativo para coisas livres de poluição plástica. Vai virar raridade.
Revolução plastificada
Desde 1930, o cenário dos materiais plásticos tem sido marcado por constantes inovações, como poliéster, náilon, teflon e silicone, que surgiram para atender às diversas demandas do mercado do século 20.
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No Brasil, como em muitas outras partes do mundo, a introdução do plástico na indústria moderna não apenas transformou a fabricação de produtos, mas também impactou profundamente o estilo de vida, principalmente da classe média.
A década de 1950 testemunhou a popularização do plástico na sociedade brasileira com o estabelecimento da indústria de resinas termoplásticas, substituindo materiais como madeira, vidro, tecido e papel em produtos manufaturados de uso pessoal e doméstico, como brinquedos, calçados, roupas, utensílios domésticos e embalagens.
Essa evolução resultou em marcos significativos, como o disco de vinil e a fita cassete, que revolucionaram a indústria fonográfica, e o PVC, que desencadeou uma redução de custos na construção civil; e o poliéster, que mudou radicalmente a indústria têxtil.
O que é o poliéster
O poliéster, usado pela indústria têxtil, representa 60% do montante das fibras produzidas no mundo globalmente – um número que dobrou desde o ano 2000.
Essa fibra foi desenvolvida em 1941 pela Imperial Chemical Industries (ICI,) foi lançada nos Estados Unidos sob o nome de Dacron. É resistente e não enruga e é comumente misturada a fibras naturais para que o tecido final não tenha aspecto amassado e se mantenha o toque das fibras naturais.
Por definição química, é um polímero formado por vários ésteres; a principal reação que o produz é entre o álcool etilenodion e o ácido tereftálico. Essa reação origina o polímero politereftalato de etileno, comumente conhecido como PET e utilizado para fabricação de vários itens de plástico: garrafas, embalagens e têxteis.
Poluição plástica: a fatura chegou
A praticidade do mundo plastificado cobra a conta. Uma equipe da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (UCSB) estimou que a humanidade gerou cerca de 5,6 milhões de toneladas de microplásticos provenientes de roupas feitas com fibras sintéticas.
Essa quantidade tem se acumulado no meio ambiente desde a popularização do uso de poliéster e náilon em larga escala, a partir da década de 1950.
Os pesquisadores descobriram também que as emissões desse poluente para o meio ambiente terrestre por ano (cerca de 176,5 mil toneladas) agora ultrapassaram as para corpos d'água (167 mil toneladas).
Mais da metade desse montante, cerca de 2,9 milhões de toneladas, provavelmente contaminou nossos rios e oceanos, equivalendo a sete bilhões de jaquetas de lã, de acordo com os pesquisadores. Além disso, o problema da poluição por microplásticos provenientes de roupas sintéticas está cada vez mais afetando o solo.
Cerca de 14% de todo o plástico produzido é usado para fazer fibras sintéticas, principalmente para roupas. Quando essas roupas são lavadas, elas soltam pequenos fios que são muito mais finos do que um fio de cabelo humano.
O impacto nas águas do planeta
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontam que a cada 60 segundos, uma quantidade de plástico equivalente a um caminhão de lixo é descartada em nossos oceanos, contribuindo para um problema global de poluição plástica.
Dos 9,2 bilhões de toneladas de plástico produzidas entre 1950 e 2017, cerca de 7 bilhões de toneladas se transformaram em resíduos plásticos, destinados a aterros sanitários ou lixões.
Além disso, essa poluição tem o potencial de perturbar habitats marinhos e processos naturais, comprometendo a capacidade dos ecossistemas de se adaptarem às mudanças climáticas. Isso, por sua vez, tem impactos diretos na subsistência de milhões de pessoas, na produção de alimentos e no bem-estar social.
O PNUMA enfatiza que o problema da poluição plástica não pode ser tratado isoladamente. É necessário avaliar os riscos ambientais, sociais, econômicos e de saúde associados aos plásticos em conjunto com outros fatores de estresse ambiental, como as mudanças climáticas, a degradação dos ecossistemas e a exploração insustentável de recursos naturais.
Até 2040, caso não haja medidas urgentes, é possível que a poluição plástica que flui para o oceano aumente 11 milhões de toneladas por ano, atingindo 37 milhões de toneladas.
Em outubro de 2021, o PNUMA publicou os relatórios Da Poluição à Solução e Afogando-se em Plástico. Ambos sublinham a necessidade urgente de se solucionar a grave ameaça do lixo marinho e da poluição plástica.
Ilhas de lixo plástico
Uma imagem fala mais do que mil palavras, diz a sabedoria popular. Para simbolizar o rastro plástico que o ser humano tem deixado pelo planeta, as ilhas de lixo têm um efeito poderoso.
Conhecidas como grandes manchas de lixo, são imensas áreas no oceano onde o lixo se acumula. A maior ilha de lixo tem três vezes o tamanho da França.
Essas ilhas são formadas por correntes oceânicas rotativas, como grandes e lentos redemoinhos. À medida que essas correntes giram, coletam todo esse lixo oceânico em um local concentrado, formando manchas enormes, que vistas de longe parecem uma ilha.
Há cinco manchas de lixo no oceano, de tamanhos variados. Uma, no Oceano Índico, duas no Oceano Atlântico e duas no Oceano Pacífico. A mais famosa é chamada de Great Pacific Garbage Patch, em português, Grande Mancha de Lixo do Pacífico. Está localizada entre o Havaí e a Califórnia.
Existe solução?
Resolver o problema da poluIção plástica exige um conjunto de soluções:
- redução do uso de fibras sintéticas
- criação de filtros mais eficientes nas máquinas de lavar
- desenvolvimento de um melhor tratamento de resíduos (produzidos pelos seres humanos)
- investimento em pesquisa de novas fibras para substituir o poliéster
Há diversas fibras interessantes sendo desenvolvidas. O problema é que essas inovações, para terem algum efeito nessa questão complicada, requer que possam ser produzidas em escala e a um preço que possa competir com o plástico.
A proposta mais animadora sobre a qual eu tive notícia vem da China. Há um ano, em novembro de 2022, durante a realização do Segundo Congresso Global de Bambu e Rattan (Barc 2022), quando foi celebrado o 25º aniversário da Organização Internacional de Bambu e Rattan (Inbar, na sigla em inglês), o governo chinês lançou a Iniciativa do Bambu como Substituto para o Plástico.
Em resumo, a proposta chinesa quer trocar o plástico por bambu e ratan. No caso da indústria da moda, por exemplo, essa substituição em escala aponta para uma solução para a dor de cabeça dos microplásticos.
Afinal, sendo a China é a maior produtora de roupas do mundo, a possibilidade de parar de produzir roupas de poliéster acende a luz no fim do túnel.
Mundo afora e no Brasil há diversas iniciativas interessantes de fibras menos poluentes: a base de micélio (a parte vegetativa e filiforme dos fungos), folhas de cacto e abacaxi, cascas e sementes de uva, suco de maçã, talos de banana e água de coco, algas marinhas, casca de laranja etc.
O problema é que para ser uma alternativa ao poliéster tem que ter escala e preço baixo. Ou então vira mais um nicho da moda ecológica, sustentável, verde, consciente ou outro adjetivo em alta. Alivia a consciência do consumidor e não faz nem cócegas no cerne do problema.