LUIZ INÁCIO AVISOU

Comparar sionismo ao n4z1sm0: por que Lula e até um sobrevivente do Holocausto fizeram isso

Lideranças políticas e intelectuais traçam paralelos entre as ações de Israel contra os palestinos e práticas do regime nazista; quiz online compara discursos e práticas dos dois movimentos

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Jornalista que atua em Brasília desde 1995, tem experiência em redação, em comunicação corporativa e comunicação pública, em assessoria de imprensa, em produção de conteúdo, campanha política e em coordenação de equipes. Atuou, entre outros locais, no Governo Federal, na Presidência da República e no Ministério da Justiça; no Governo do Distrito Federal, na Secretaria de Comunicação e na Secretaria de Segurança Pública; e no Congresso Nacional, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados e na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO).
Comparar sionismo ao n4z1sm0: por que Lula e até um sobrevivente do Holocausto fizeram isso
Comparar sionismo ao n4z1sm0: por que Lula e até um sobrevivente do Holocausto fizeram isso. Crianças palestinas escalam escombros após ataques aéreos em 18 de março de 2025.. Unfpa/Media Clinic

Após 19 meses de bombardeios contínuos à Faixa de Gaza, Israel começa a enfrentar uma onda crescente de pressão por parte de aliados ocidentais historicamente próximos. O estopim foi a decisão recente do governo israelense de expandir a ofensiva militar com o objetivo declarado de “conquistar” o território, acompanhada de um bloqueio humanitário que já dura 11 semanas e de planos de deslocamento forçado da população palestina para o sul.

O Reino Unido anunciou a suspensão de negociações comerciais com Israel e impôs sanções a colonos extremistas que atuam na Cisjordânia. Canadá e França também sinalizaram a possibilidade de adotar sanções diplomáticas e econômicas caso a escalada não seja contida. A União Europeia, principal parceira comercial de Israel, iniciou a revisão do Acordo de Associação com o país, alegando preocupações com violações de direitos humanos.

Luiz Inácio avisou

Antes de todos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou, em 18 de fevereiro de 2024, as ações de Israel na Faixa de Gaza à perseguição aos judeus durante a Alemanha Nazista. Em coletiva de imprensa em Adis Abeba, na Etiópia, ele declarou:

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus."

A declaração gerou forte repercussão internacional. O governo israelense convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv para uma reprimenda, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou a fala como "vergonhosa", declarando Lula "persona non grata" em Israel.

Apesar das críticas, a comparação entre o sionismo e o nazismo não é inédita. Em julho de 2018, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, comparou a então recente Lei do Estado-Nação de Israel às políticas raciais do nazismo. Para ele, o "espírito de Hitler" estava presente em lideranças israelenses, e a obsessão por um Estado exclusivamente judeu lembrava a busca nazista por uma "raça pura".

A lei define Israel como o Estado-nação do povo judeu e estabelece o hebraico como única língua oficial, o que, segundo críticos, marginaliza minorias, especialmente árabes israelenses. Netanyahu reagiu dizendo que a Turquia era uma "ditadura obscura" e acusou Erdogan de perseguir curdos, sírios e seus próprios cidadãos.

Judeus contra o sionismo

O físico judeu Hajo Meyer (1924–2014), sobrevivente de Auschwitz, também traçou paralelos entre o tratamento dado aos palestinos e sua experiência sob o regime nazista. Em seu livro The End of Judaism: An Ethical Tradition Betrayed, Meyer acusa Israel de desumanizar os palestinos com táticas similares às empregadas antes do Holocausto. Ele criticava ainda o uso do Holocausto como instrumento de legitimação política por Israel.

Já o jornalista brasileiro Breno Altman, também judeu, em janeiro de 2024, declarou na Conferência Internacional de Solidariedade a Gaza, em Istambul, que o sionismo é uma ideologia colonial e expansionista, alinhada aos interesses do imperialismo ocidental. Segundo ele, o Estado de Israel representa uma ameaça à memória judaica ao cometer crimes contra os palestinos e fomentar o antissemitismo.

Leia aqui a apresentação completa

Sionismo rompe com humanismo judaico

O historiador israelense Ilan Pappé também denuncia o sionismo como um projeto de colonização de povoamento que implicou, desde suas origens, a expulsão sistemática dos palestinos. Em A Limpeza Étnica da Palestina (2006), ele afirma que a Nakba de 1948 foi parte de um plano deliberado para criar um Estado etnicamente homogêneo. Segundo ele, o sionismo moderno rompe com os valores humanistas judaicos e institui um regime de apartheid aliado ao imperialismo dos Estados Unidos.

Pappé também critica o uso político do Holocausto por Israel e menciona o Haavara Agreement, firmado em 1933 entre lideranças sionistas e o regime nazista. O acordo facilitou a emigração de judeus alemães para a Palestina com transferência de bens, em troca da exportação de produtos alemães. O pacto, segundo ele, enfraqueceu o boicote internacional à Alemanha nazista e evidencia uma ambiguidade moral no projeto sionista.

Embora Pappé não iguale o sionismo ao nazismo em termos morais, aponta que certas práticas israelenses apresentam paralelos estruturais com regimes autoritários, especialmente na negação de direitos fundamentais.

É o caso das semelhanças entre o projeto Generalplan Ost, da Alemanha nazista, e o conceito do Grande Israel. O primeiro previa a colonização da Europa Oriental com extermínio e reassentamento forçado de povos eslavos. O segundo, defendido por setores do sionismo, propõe um Estado israelense expandido, que incluiria territórios da Palestina, Jordânia, Líbano, Síria, Egito e até partes do Iraque, com base em interpretações bíblicas.

Quiz online

Na internet, uma página independente propõe teste para comparar discursos de sionistas e nazistas. O quiz explora o caráter colonial e expansionista comum aos dois projetos, ainda que inseridos em contextos históricos distintos. As comparações seguem polêmicas, mas refletem um debate que mobiliza vozes diversas dentro e fora da comunidade judaica global.

Você pode fazer o teste, em inglês, aqui.

A guerra de Israel em Gaza matou pelo menos 54.056 palestinos e feriu 123.129, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O Escritório de Imprensa do Governo atualizou o número de mortos para mais de 61.700, afirmando que milhares de pessoas desaparecidas sob os escombros são presumivelmente mortas. 

Estima-se que 1.139 pessoas foram mortas em Israel durante os ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, e mais de 200 foram feitas reféns.

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