Circula nas redes sociais a teoria da conspiração que acusa Kamala Harris de usar um dispositivo de escuta disfarçado de brinco durante o debate desta terça-feira (10). A alegação foi levantada por apoiadores de Donald Trump, que sugerem que os brincos de pérola da vice-presidente e candidata democrata à reeleição escondiam “instruções”.
A origem da teoria vem de um post criado por um perfil pró-Trump, que já foi compartilhado mais de 5 mil vezes. Na publicação, uma imagem compara os brincos de Kamala a um produto tecnológico chamado NOVA H1 Audio Earrings, sugerindo uma associação entre os dois. “Parece que Kamala Harris estava sendo treinada usando fones de ouvido embutidos em seus brincos durante o debate presidencial da ABC contra o presidente Trump”, escreveu o perfil conspiracionista.
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Por que o brinco não é o mesmo
No caso dos brincos em questão, observa-se uma distinção perceptível entre os dois modelos mencionados. Os brincos da Tiffany & Co., escolhidos pela vice-presidente, são caracterizados pelo uso de ouro 18K e pérolas do Mar do Sul com hastes finas, pertencentes ao modelo HardWear, enquanto os brincos NOVA H1 Audio, apesar de também apresentarem pérolas, se distinguem pelo seu arco mais robusto e grosso.
Agências americanas de verificação de fatos, como o PolitiFact e o Snopes, classificaram a teoria como falsa ou sem fundamento. Questionada pela imprensa, Kamala Harris preferiu não comentar o caso.
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De acordo com o site não oficial What Kamala Wore (O que Kamala vestiu), responsável por monitorar looks e peças utilizadas pela democrata, diz que os acessórios foram usados em outras ocasiões pela vice-presidente, como por exemplo na cerimônia do Juneteenth em junho de 2024, o que derruba ainda mais a conspiração de trumpistas.
Teoria requentada
Não há muito tempo atrás, esse tipo de teoria já tinha adeptos da direita. Em 2014, no Brasil, circulou na internet especulações infundadas de que Dilma Rousseff teria utilizado ponto eletrônico no debate presidencial transmitido pela TV Band.
Entre as mensagens, havia o que parecia ser a prova definitiva: uma foto mostrando um suposto ponto eletrônico na orelha esquerda da então presidente e candidata à reeleição, que ainda mexia no cabelo algumas vezes O tema logo se espalhou por blogs e redes sociais. Mas a questão que fica é: Dilma realmente usou um ponto eletrônico? Assim como Kamala?
Á época sites desmentiram a fake news. Além disso, a coincidência de casos como esse em debates políticos chama atenção para a tentativa de deturpação da participação de candidatas mulheres em debates, em especial aquelas alinhadas à esquerda.
Kamala venceu o debate
A democrata Kamala Harris venceu o debate que pode ser o único entre os dois candidatos à Casa Branca até o 5 de novembro, ao pintar Donald Trump como um homem amargo, vingativo e sombrio. Com os dois candidatos firmemente ancorados em seus eleitores tradicionais, estavam em disputa os indecisos, uma fatia pequena porém decisiva em um punhado de estados-pêndulo.
Nervosa no início do confronto, a democrata foi mais eficaz ao se conectar com o eleitorado usando o senso comum. Na questão do aborto, houve nocaute. De acordo com a pesquisa mais recente publicada pelo New York Times, trata-se do segundo tema mais importante da campanha (15%), depois da economia (22%). Kamala se referiu às mulheres grávidas obrigadas a viajar para outros estados para ter direito ao aborto, assim como a adolescentes supostamente obrigadas a dar à luz bebês resultado de estupro.
Trump, na defensiva tentou pintar a democrata como radical, alegando que apoiadores dela pretendem sacrificar crianças indesejadas após o nascimento, o que soou bizarro. Nesta questão, Kamala conseguiu se colocar como defensora da liberdade do corpo feminino: Não é preciso abandonar a fé ou crenças profundamente arraigadas para concordar que o governo e Donald Trump certamente não deveriam dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo.
O republicano também desperdiçou uma oportunidade ao tratar de um tema em que os eleitores dizem que ele seria mais eficaz: no combate à imigração ilegal (tema considerado o mais importante por 13% dos ouvidos na mais recente pesquisa do New York Times).
Trump repetiu que países de todo o mundo -- citou nominalmente a Venezuela -- estão despejando os internos em hospitais psiquiátricos, os presos e os estupradores na fronteira dos Estados Unidos. Os motivos seriam dois: se livrar de criminosos e, da parte dos democratas, obter os votos de ilegais que garantiriam a vitória eleitoral.
É teoria de conspiração, mas em tempo de crise econômica os imigrantes são os bodes expiatórios ideais para eleitores que enfrentam dificuldades econômicas. Leia mais a análise nesta matéria da Fórum.