A democrata Kamala Harris venceu o debate que pode ser o único entre os dois candidatos à Casa Branca até o 5 de novembro, ao pintar Donald Trump como um homem amargo, vingativo e sombrio.
Com os dois candidatos firmemente ancorados em seus eleitores tradicionais, estavam em disputa os indecisos, uma fatia pequena porém decisiva em um punhado de estados-pêndulo.
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Nervosa no início do confronto, a democrata foi mais eficaz ao se conectar com o eleitorado usando o senso comum.
Na questão do aborto, houve nocaute.
De acordo com a pesquisa mais recente publicada pelo New York Times, trata-se do segundo tema mais importante da campanha (15%), depois da economia (22%).
Kamala se referiu às mulheres grávidas obrigadas a viajar para outros estados para ter direito ao aborto, assim como a adolescentes supostamente obrigadas a dar à luz bebês resultado de estupro.
Trump, na defensiva tentou pintar a democrata como radical, alegando que apoiadores dela pretendem sacrificar crianças indesejadas após o nascimento, o que soou bizarro.
Nesta questão, Kamala conseguiu se colocar como defensora da liberdade do corpo feminino:
Não é preciso abandonar a fé ou crenças profundamente arraigadas para concordar que o governo e Donald Trump certamente não deveriam dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo.
CONSUMO DE GATOS E CÃES
O republicano também desperdiçou uma oportunidade ao tratar de um tema em que os eleitores dizem que ele seria mais eficaz: no combate à imigração ilegal (tema considerado o mais importante por 13% dos ouvidos na mais recente pesquisa do New York Times).
Trump repetiu que países de todo o mundo -- citou nominalmente a Venezuela -- estão despejando os internos em hospitais psiquiátricos, os presos e os estupradores na fronteira dos Estados Unidos.
Os motivos seriam dois: se livrar de criminosos e, da parte dos democratas, obter os votos de ilegais que garantiriam a vitória eleitoral.
É teoria de conspiração, mas em tempo de crise econômica os imigrantes são os bodes expiatórios ideais para eleitores que enfrentam dificuldades econômicas.
Trump, no entanto, exagerou, ao dizer que os ilegais estavam consumindo os gatos e cães de estimação nas cidades que "invadiram".
Kamala lembrou que uma autoridade local de Springfield, Ohio -- cidade citada por Trump -- disse que o suposto consumo de pets por imigrantes ilegais é fake news.
Na economia, calcanhar de Aquiles dos democratas, Kamala soou mais autêntica com promessas modestas mas que fornecem alívio imediato aos eleitores: 6 mil dólares de ajuda para casais que tenham o primeiro filho e 25 mil dólares para ajudá-los a dar entrada no primeiro imóvel.
Kamala "paz e amor" venceu, por pontos, um Trump que se deixou pintar como um pote até aqui de mágoa.