CHINA EM FOCO

China libera terras raras para os EUA em troca de alívio em sanções

Ministério do Comércio chinês detalha compromisso para exportar minerais estratégicos e pressionar Washington a suspender controles de exportação

Ministério do Comércio chinês detalha compromisso para exportar minerais estratégicos e pressionar Washington a suspender controles de exportação. Xi Jinping e Donald Trump em Buenos Aires, Argentina, em dezembro de 2018
China libera terras raras para os EUA em troca de alívio em sanções.Ministério do Comércio chinês detalha compromisso para exportar minerais estratégicos e pressionar Washington a suspender controles de exportação. Xi Jinping e Donald Trump em Buenos Aires, Argentina, em dezembro de 2018Créditos: Xinhua
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Pequim confirmou nesta sexta-feira (27) que avançou em um entendimento comercial com o governo Trump que prevê a aceleração das exportações chinesas de minerais estratégicos aos Estados Unidos em troca da suspensão de restrições impostas recentemente por Washington.

Em comunicado oficial, o Ministério do Comércio da China detalhou que as equipes econômicas e comerciais dos dois países mantêm diálogo desde as negociações de Genebra, em maio, e a rodada de conversas em Londres, entre 9 e 10 de junho. O acordo, segundo Pequim, foi alinhado conforme o consenso estabelecido na conversa telefônica de 5 de junho entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump.

De acordo com o ministério, “Pequim revisará e aprovará solicitações de exportação de itens controlados, conforme as leis e regulamentos”, enquanto “os Estados Unidos, de forma correspondente, cancelarão uma série de medidas restritivas” que afetam o comércio bilateral.

Na prática, o entendimento busca destravar o fluxo de terras raras — minerais essenciais para a produção de alta tecnologia, como semicondutores, motores de aviões e equipamentos de defesa. A China detém quase 70% da capacidade mundial de refino desses materiais, o que lhe confere posição estratégica nas cadeias globais.

A confirmação oficial ecoa declarações do secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, que disse à Bloomberg News que Washington retirará seus controles de exportação assim que Pequim retomar as entregas. O presidente Donald Trump também afirmou na quinta-feira (26), em evento na Casa Branca, que os EUA “assinaram um acordo” com a China, sem revelar detalhes.

Tensão e guerra tarifária

Os dois países tentam conter uma escalada que marcou os últimos anos da relação bilateral, marcada por uma guerra comercial de tarifas, sanções e restrições de tecnologia.

Desde 2018, os Estados Unidos aplicaram tarifas adicionais a centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, impuseram controles de exportação de semicondutores e máquinas avançadas, barraram o envio de motores a jato, bloquearam acessos de empresas como Huawei, ZTE e SMIC, e restringiram vendas de insumos químicos estratégicos, alegando proteção da segurança nacional.

Além disso, empresas e institutos chineses foram incluídos na lista de entidades restritas do Departamento de Comércio (Entity List), o que na prática proíbe transações comerciais com fornecedores dos EUA sem licenças especiais. O Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA (CFIUS) também endureceu a vigilância para vetar aquisições de empresas americanas por grupos chineses, principalmente em setores sensíveis.

Para Pequim, essas barreiras passaram a travar não apenas setores de ponta, mas também prejudicaram exportações de minerais críticos, em especial as terras raras — um recurso no qual a China é dominante.

Um gesto em meio à disputa

Em paralelo ao acerto, Pequim sinalizou disposição para cooperar em temas sensíveis: recentemente anunciou controles mais rigorosos sobre substâncias químicas usadas para fabricar fentanil, principal opioide sintético responsável por uma crise de saúde pública nos EUA. A medida foi interpretada como um gesto para destravar as conversas comerciais.

Mesmo assim, analistas alertam que a retirada de restrições de ambos os lados ainda não garante uma solução para questões estruturais que desgastam as relações entre as duas maiores economias do mundo — como o volume de compras de produtos americanos pela China e o acesso de empresas dos EUA ao mercado chinês.

A China, por sua vez, sinaliza que não aceitará recuar sob pressão, mas é do seu interesse buscar estabilidade, num contexto de crescimento econômico enfraquecido, crise no setor imobiliário e queda da confiança dos consumidores.

Próximos passos

Segundo Howard Lutnick, os EUA pretendem firmar acordos similares com ao menos dez parceiros comerciais nas próximas semanas. O prazo para que cada país feche seus próprios termos antes que novas tarifas sejam reativadas termina em 9 de julho.

Enquanto isso, as equipes negociadoras devem revisar os termos do acordo-quadro definido em Londres, na tentativa de consolidar uma trégua frágil após a assinatura de um entendimento preliminar em Genebra.

A sinalização oficial de Pequim reforça que, por ora, a prioridade é manter canais de diálogo abertos, reduzir ruídos e construir uma base mínima de confiança mútua — condição essencial para destravar acordos mais amplos num cenário global cada vez mais competitivo.

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