Pequim confirmou nesta sexta-feira (27) que avançou em um entendimento comercial com o governo Trump que prevê a aceleração das exportações chinesas de minerais estratégicos aos Estados Unidos em troca da suspensão de restrições impostas recentemente por Washington.
Em comunicado oficial, o Ministério do Comércio da China detalhou que as equipes econômicas e comerciais dos dois países mantêm diálogo desde as negociações de Genebra, em maio, e a rodada de conversas em Londres, entre 9 e 10 de junho. O acordo, segundo Pequim, foi alinhado conforme o consenso estabelecido na conversa telefônica de 5 de junho entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump.
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De acordo com o ministério, “Pequim revisará e aprovará solicitações de exportação de itens controlados, conforme as leis e regulamentos”, enquanto “os Estados Unidos, de forma correspondente, cancelarão uma série de medidas restritivas” que afetam o comércio bilateral.
Na prática, o entendimento busca destravar o fluxo de terras raras — minerais essenciais para a produção de alta tecnologia, como semicondutores, motores de aviões e equipamentos de defesa. A China detém quase 70% da capacidade mundial de refino desses materiais, o que lhe confere posição estratégica nas cadeias globais.
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A confirmação oficial ecoa declarações do secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, que disse à Bloomberg News que Washington retirará seus controles de exportação assim que Pequim retomar as entregas. O presidente Donald Trump também afirmou na quinta-feira (26), em evento na Casa Branca, que os EUA “assinaram um acordo” com a China, sem revelar detalhes.
Tensão e guerra tarifária
Os dois países tentam conter uma escalada que marcou os últimos anos da relação bilateral, marcada por uma guerra comercial de tarifas, sanções e restrições de tecnologia.
Desde 2018, os Estados Unidos aplicaram tarifas adicionais a centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, impuseram controles de exportação de semicondutores e máquinas avançadas, barraram o envio de motores a jato, bloquearam acessos de empresas como Huawei, ZTE e SMIC, e restringiram vendas de insumos químicos estratégicos, alegando proteção da segurança nacional.
Além disso, empresas e institutos chineses foram incluídos na lista de entidades restritas do Departamento de Comércio (Entity List), o que na prática proíbe transações comerciais com fornecedores dos EUA sem licenças especiais. O Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA (CFIUS) também endureceu a vigilância para vetar aquisições de empresas americanas por grupos chineses, principalmente em setores sensíveis.
Para Pequim, essas barreiras passaram a travar não apenas setores de ponta, mas também prejudicaram exportações de minerais críticos, em especial as terras raras — um recurso no qual a China é dominante.
Um gesto em meio à disputa
Em paralelo ao acerto, Pequim sinalizou disposição para cooperar em temas sensíveis: recentemente anunciou controles mais rigorosos sobre substâncias químicas usadas para fabricar fentanil, principal opioide sintético responsável por uma crise de saúde pública nos EUA. A medida foi interpretada como um gesto para destravar as conversas comerciais.
Mesmo assim, analistas alertam que a retirada de restrições de ambos os lados ainda não garante uma solução para questões estruturais que desgastam as relações entre as duas maiores economias do mundo — como o volume de compras de produtos americanos pela China e o acesso de empresas dos EUA ao mercado chinês.
A China, por sua vez, sinaliza que não aceitará recuar sob pressão, mas é do seu interesse buscar estabilidade, num contexto de crescimento econômico enfraquecido, crise no setor imobiliário e queda da confiança dos consumidores.
Próximos passos
Segundo Howard Lutnick, os EUA pretendem firmar acordos similares com ao menos dez parceiros comerciais nas próximas semanas. O prazo para que cada país feche seus próprios termos antes que novas tarifas sejam reativadas termina em 9 de julho.
Enquanto isso, as equipes negociadoras devem revisar os termos do acordo-quadro definido em Londres, na tentativa de consolidar uma trégua frágil após a assinatura de um entendimento preliminar em Genebra.
A sinalização oficial de Pequim reforça que, por ora, a prioridade é manter canais de diálogo abertos, reduzir ruídos e construir uma base mínima de confiança mútua — condição essencial para destravar acordos mais amplos num cenário global cada vez mais competitivo.