A China está questionando o objetivo da OTAN com o aumento de investimentos em defesa, estipulado em 5% do PIB dos seus membros. Pequim observa que a aliança militar já representa 55% do total global de gastos militares.
Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quinta-feira (26), o porta-voz Guo Jiakun comentou uma das justificativas apresentadas pelo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, para o aumento nos investimentos: o grande aumento militar da China.
Te podría interesar
Rutte também citou a "ameaça" de longo prazo da Rússia e o apoio da Coreia do Norte, China e Irã ao esforço de guerra na Ucrânia como fatores que justificam o aumento dos gastos da OTAN.
“Alguns na OTAN, ao exagerar as tensões internacionais e regionais e difamar o crescimento militar normal da China, buscam apenas desculpas para permitir um aumento drástico nos gastos militares da aliança, ultrapassando arbitrariamente seu escopo geográfico e avançando para o leste, rumo à região Ásia-Pacífico”, observou Guo Jiakun.
O porta-voz questionou qual seria o real objetivo do aumento dos gastos em defesa para construir uma “OTAN mais letal”. Ele também apontou que a OTAN se autodefine como uma organização regional, mas continua a ultrapassar o escopo geográfico definido em seu tratado, avançando para a Ásia-Pacífico, alegando que o que acontece naquela região e no Euro-Atlântico está "interconectado".
“O mundo não é cego para os cálculos da OTAN, e os países da Ásia-Pacífico certamente estão cientes disso”, ponderou.
Quanto à Ucrânia, Guo ressaltou que a China sempre promoveu negociações para a paz e tem pressionado ativamente por uma solução política para a crise.
"A China nunca forneceu armas a qualquer parte do conflito e exerceu um controle rigoroso sobre a exportação de produtos de uso duplo", reforçou.
O porta-voz também comentou que a posição objetiva e imparcial da China, bem como seu papel construtivo, têm sido amplamente reconhecidos pela comunidade internacional, enquanto a desinformação da OTAN não pode enganar as pessoas ao redor do mundo.
"Se a OTAN realmente se preocupa com a segurança da Europa e do mundo, ela deveria parar de jogar mais lenha na fogueira e instigar a confrontação", alfinetou.
Guo Jiakun observou que a China atua como construtora da paz mundial, contribui para o desenvolvimento global, defende a ordem internacional e fornece bens públicos. Em termos de paz e segurança, a China tem o melhor histórico entre os grandes países.
"Pedimos à OTAN que examine seu próprio comportamento, ouça a justa voz do mundo e abandone sua mentalidade ultrapassada da Guerra Fria, a confrontação entre blocos e a abordagem de soma zero", instou.
Por fim, o porta-voz apelou para que a OTAN corrija sua percepção sobre a China e pare de manipular questões relacionadas ao país.
"A China continuará a defender a soberania, segurança e interesses de desenvolvimento e continuará a fazer sua parte para tornar o mundo um lugar mais pacífico e estável", concluiu.
Cúpula da OTAN em Haia
Durante a Cúpula da OTAN, realizada em Haia, nos Países Baixos (Holanda) na terça-feira (24) e quarta-feira (25), líderes aliados tomaram decisões cruciais sobre investimentos em defesa e reafirmaram o apoio contínuo à Ucrânia, destacando a importância de fortalecer a aliança em tempos de crescente instabilidade global.
O evento contou com uma série de atividades, incluindo um Fórum Público da OTAN, onde o secretário-geral, Mark Rutte, e outros líderes políticos e militares apresentaram as deliberações da cúpula.
A conferência, com participação tanto presencial quanto online, ofereceu ao público uma oportunidade de se aprofundar nas decisões estratégicas da organização e nos outros temas nos quais a OTAN está envolvida.
No dia 24, a OTAN organizou o Fórum da Indústria de Defesa da Cúpula, reunindo líderes de diferentes setores para discutir como aumentar a produção industrial de defesa em toda a Aliança.
Na sessão formal da cúpula, na quarta-feira (25), os líderes adotaram uma nova declaração, marcando um aumento significativo nos investimentos em defesa.
De acordo com o Plano de Investimentos de Defesa de Haia, os aliados se comprometeram a investir 5% de seu PIB em defesa, sendo 3,5% destinados a requisitos essenciais de defesa e 1,5% para investimentos relacionados à defesa e segurança, como infraestrutura e indústria. Esse compromisso marca um grande avanço em relação ao padrão anterior de 2% do PIB.
"Juntos, os aliados lançaram as bases para uma OTAN mais forte, mais justa e mais letal.Essas decisões terão um impacto profundo na nossa capacidade de cumprir o objetivo da OTAN – deter e defender", ", afirmou Rutte, em coletiva de imprensa após o encerramento da cúpula.
O secretário-geral também enfatizou os desafios à segurança dos aliados, mencionando ameaças da Rússia, do terrorismo, dos ciberataques, da sabotagem e da competição estratégica.
"A Aliança está e continuará pronta, disposta e capaz de defender cada centímetro do território aliado", acrescentou.
Além disso, várias reuniões bilaterais e multilaterais aconteceram, incluindo encontros entre Rutte, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e líderes da União Europeia, como o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Também houve uma reunião com os principais líderes da OTAN, incluindo os presidentes da França, Emmanuel Macron e da Polônia, Andrzej Duda; o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz; a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. Rutte também se reuniu com os parceiros da OTAN no Indo-Pacífico.
A próxima Cúpula da OTAN será realizada em 2026, na Turquia.